Alguns amigos meus, inclusive professores, me acusam de ser um redator elitista que rebusca o texto se pretendendo aparecer, profissional da imprensa, que violenta a norma básica de ser claro e escorreito ao redigir matérias, além de algumas críticas, mas não me atinge.
Purista não sou qual a José Gomes Sobrinho, muito menos ilustrado filólogo qual Fidêncio Bogo, mas busco meios e modos de errar o mínimo possível e, no silêncio, meu brado tonitruante contra os que estupram o vernáculo, contra os que fazem Camões revirar na tumba, contra os que dedicam, o mais profundo descaso ao nosso idioma pátrio. Quilometricamente distante da eutimia de um Augusto dos Anjos, contudo busco oferecer a minha modesta colaboração para que o nosso falar não digladie com o nosso escrever, e vice e versa. Não me pretendo, por mais absoluta incapacidade, ser recebido como completo. Vez que a imortalidade das Academias é adrede feita aos que, com parcelas significativas, possibilitam aos menos letrados aprenderem, destes, dependendo do apreender.
Sei que os canais de TV, rádios e jornais, muitas das vezes recebem o material do cliente acabado, feito por profissionais capacitados. Mas bem que poderiam fazer um pequeno esforço de checarem os comerciais e noticiários antes desses irem ao écran (tela), impressão ou microfone evitando, assim, também cairem no usual (asneira, tolice, erro).
Por simbiose, com o avançar das tecnologias modernas da globalização, o idioma português vem sofrendo os mesmos percalços da matemática quando frente às indefectíveis maquininhas de calcular. Porque gastar o cérebro se as teclinhas resolvem?
Escusas (desculpas) prezados leitores. Apologia aos meus nobres críticos, mas vou seguir procurando cada vez errar menos “rato de biblioteca” que sou. Afinal, o uso da crase, concordância, acentuação, tempos verbais, prefixo e sufixo, sujeito e predicado e tantos outros enfoques escorreitos do idioma pátrio não fazem mal a ninguém. Vamos tentar? Com certeza todos nos sentiremos melhores, a cada dia. Em tempo: Fui e sempre serei fã incondicional do meu pai (faleceu aos 95 anos), do meu tio que aos 97 anos continuavam escrevendo e, principalmente, do Dicionário do Aurélio, OK?
A HISTÓRIA DA RÃ
Da alegoria da Caverna de Platão a Matrix, passando pelas fábulas de La Fontaine a linguagem simbólica é um meio privilegiado para induzir à reflexão e transmitir algumas idéias.
Imagine uma panela de água fria na qual nada tranquilamente uma pequena rã. Um pequeno fogo é aceso embaixo da panela e a água se esquenta muito lentamente. Pouco a pouco, a água fica morna, e a rã, achando isso bastante agradável, continua a nadar. A temperatura da água continua subindo… Agora a água está quente mais do que a rã pode apreciar. Ela se sente um pouco cansada, mas, não obstante, isso não a incomoda nem amedronta. Agora a água está realmente quente, e a rã começa a achar desagradável, mas está muito debilitada; então, suporta e não faz nada. A temperatura continua a subir, até quando a rã acaba simplesmente cozida e morta. Se a mesma rã tivesse sido lançada diretamente na água a 50 gaus, com um golpe de pernas ela teria pulado imediatamente para fora da panela.
MORAL DA HISTÓRIA: Quando uma mudança acontece de um modo suficientemente lento, escapa à consciência e não desperta na maior parte dos casos reação alguma, oposição, ou revolta.
Se olharmos o que tem acontecido em nossa sociedade desde algumas décadas podemos ver que nós estamos sofrendo uma lenta mudança no modo de viver para a qual não estamos acostumados.
Se você não está como a rã, já meio cozido, dê um saudável golpe de pernas, antes que seja tarde demais.
“Nos já estamos meio cozidos”? Ou não?
Texto: Ivanir Aguiar
Foto: Arquivo pessoal