A COLETIVA E AS CONTRADIÇÕES
@@ O prefeito Padre Franco, convidou a imprensa para dar uma entrevista coletiva e, mesmo ele estando fragilizado diante dos escândalos da corrupção, encontrou um grupo de jornalistas submissos, que lhe permitiu impor as regras, como um verdadeiro monarca.
@@ Deveria ser o contrário: os jornais, rádios e TVs decidirem o que perguntar, como perguntar, e quantas perguntas fazerem. Bom, mas tirando de lado essa submissão da imprensa local, que em minha opinião precisa se valorizar um pouco mais e unir-se para juntos fortalecerem uma posição comum, falemos da entrevista em si.
@@ O prefeito, por mais que se esforçasse, não conseguiu ser convincente em momento algum. Além de dizer que trocou a chefia de gabinete, será que ele disse algo realmente importante, que dê à população convicção de que agora os rumos serão outros? Quando ele disse que se sentiu traído pela atual Chefe de Gabinete, mostrou uma extrema incoerência. Como assim se sentir traído? Se depois de todas as informações que ele tinha a respeito dos fatos ela ainda era merecedora da mais absoluta confiança dele, o que houve de mudanças? A única coisa que mudou, o prefeito sabe disso, foram prisões e condução coercitiva de agentes públicos. Além disso, nada mudou nos últimos dois anos.
@@ A Justiça está dizendo agora exatamente o que a CPI da Câmara apurou. Talvez a diferença seja o fato de que o MP tenha apurado melhor os fatos e descoberto coisas que a CPI não tenha conseguido. Mesmo que os vereadores não tenham descoberto tantas riquezas de detalhes, descobriram o suficiente e o prefeito estava atento a tudo, conhecia todos os pormenores. Mas o que fez o prefeito ao saber de todas as informações que a CPI apurou?
@@Apegou-se, ferrenhamente, a tese de que as gravações foram obtidas de forma ilegal e, portanto, sem validade. Ora, se um empresário, que comanda uma empresa, recebe denúncia anônima de que um empresado dele está lhe passando a perna, vai desconsiderar isso apenas por que a informação que chegou até ele é anônima? Ou vai apurar os fatos, para não cometer injustiça e, provadas as suspeitas, demitir o tal funcionário?
@@A verdade é que o prefeito quis apenas tapar os ouvidos e não ouvir nada. Demonstrou apoio irrestrito e total aos seus assessores de confiança, não se importando com as informações que chegaram até ele. Seria louvável a atitude dele, de não cometer injustiças, se de fato tomasse a iniciativa de apurar antes, sem prejulgamento. Mas não pré-julgar não significa não apurar os fatos. A verdade é que ele sequer quis apurar e nem deu crédito à Câmara Municipal que, na inércia dele, tomou a iniciativa de fiscalizar as ações do poder público.
PERDÃO
@@ O prefeito Padre Franco também pediu perdão às pessoas que ele agora diz saber que cometeram erros. Está certo, podemos perdoar, mas quem assumiu agora o comando é a justiça. O Estado não age como uma instituição religiosa, que reúne seus membros e libera perdão ao que se arrepende.
@@ O Estado, através dos seus órgãos judiciários, julga. E quem julga, emite sentença pela condenação ou absolvição. Quem é absolvido, não é perdoado, posto que crime algum ficou provado contra si. O que o prefeito deveria ter feito, há muito tempo, seria agir de forma a respeitar os princípios fundamentais do direito administrativo. Ele é contraditório o tempo todo.
@@ Sob os holofotes, diz que não compactua com nada errado e que quer que tudo seja investigado, mas nos bastidores mobilizava um grupo de articuladores para frear todas as investigações. Se não conseguia impedir no campo político, buscava a via judiciária. Mal sabia ele que a Justiça apenas se apega à interpretação fria da lei, sob o ponto de vista legal, mas isso não quer dizer que ela feche os olhos à verdade dos fatos.
@@ Aqui ou ali ele conseguiu o que parecia ser uma vitória, mas se esquece de que o novelo de lã se embaralha todo depois que o carretel é arremessado para longe de onde deveria estar e alinhado corretamente.
A CANOA QUEBRADA E A COVARDIA DOS QUE A ELA SE AGARRAM
@@ Amigos, soube que uma barcaça se quebrou em alto mar e seus ocupantes estão em um dilema: deixam-na e nadam em direção à praia, por socorro, ou permanecem à deriva, na esperança de que bons ventos soprem e os traga de volta à terra firme?. Será que não seria melhor esses náufragos criarem coragem e tomarem a iniciativa de eles próprios deixarem a barcaça em busca de ajuda?
@@ Na margem, há muita gente torcendo por eles e implorando que os mesmos deixem o barco que está fortemente avariado, mas não há muito o que possam fazer. A decisão precisa ser dessas pessoas. Se elas querem permanecer agarradas ao que sobrou da barcaça e acham que podem consertá-la, deixemo-las. Talvez o melhor seria todos deixarem o barco. Sem o peso deles, o timoneiro procuraria a direção correta e até ele encontraria o caminho de casa, mais aliviado, sem a sobrecarga dos que a ele se abraçam, por solidariedade, mas acabam por dar um sobrepeso desnecessário à canoa.
Texto: Daniel Oliveira Paixão
Foto: Arquivo Pessoal