A advogada vilhenense Raquel Barbosa Becker fez um desabafo através das redes sociais onde acusa ter sido vítima de discriminação no sul do pais, mais precisamente em Maringá no Paraná (PR).
A jovem descreve com detalhes que foi discriminada por ser de Rondônia e por esse motivo foi impedida de doar sangue.
VEJA RELATO DA ADVOGADA
Hoje pela primeira vez desde que cheguei a Maringá eu sofri preconceito por vir da minha terra querida que é Rondônia. No dicionário, a palavra preconceito significa: “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico.”
Eu já passei por várias situações em minha vida em que sofri preconceito, com perguntas do tipo “e como é conviver com a onça?”, ou então, “tem índio pelado correndo na rua?”, mas nunca me magoou tanto como hoje, em que a minha origem foi colocada como se eu fosse menos do que as pessoas que viveram e nasceram no sul. Eu e minha irmã fomos até o hemocentro na tentativa de doar sangue, como inocentes acreditávamos que seriamos bem recebidas por estar fazendo este gesto solidário. Ao contrário do que esperávamos fomos classificadas como não doadoras, pasmem, porque morei em Rondônia. Eu indignada perguntei o porquê desse fato ser um problema, e novamente, pasmem, justificou o médico “por causa da malária”.
Eu queria rir da cara dele, mas não consegui, apenas fiquei chateada, porque eu sai de Rondônia, crendo que conheceria mais sobre o mundo, veria novidades, aprenderia novas coisas e descobri que de certa forma, eu conheço mais do mundo do que os próprios sulistas, eu sei que Rondônia, Acre, e até mesmo o Amazonas, tem muito mais a oferecer do que malária, do que onça, do que índio, e de todo esse PRÉ-CONCEITO, que as pessoas tem, mas que a grande maioria não busca conhecer com exame crítico. Através de piadinhas que humoristas conhecidos formulam, histórias contadas da época da carochinha, contos e fabulas lidas nos livros infantis, as pessoas tem uma ideia de que o norte está atrasado. Estou realmente estou chateada, porque vim para o Sul em busca desta fabula que as pessoas contam lá no norte, sobre o Sul onde tem qualidade de vida, uma melhor estrutura, pessoas esculturadas, e devo narrar que até o presente momento, tenho encontrado aqui a mesma coisa que encontro na minha cidade de origem, um governo corrupto, professores sofrendo opressão, alunos insatisfeitos com instituições, uma sociedade que tenta burlar a todo momento o sistema e pasmem, preconceito social. Nasci e morei a 25 anos em Rondônia, nunca tive malária, nunca tive dengue, e era doadora ativa no hemocentro de Vilhena, uma cidade de aproximadamente 90.000,00 habitantes com apenas 37 anos.
Porque pra mim essa é a única doença crônica que existe por lá.
Acredito que nas próximas campanhas formuladas pelo governo para doação de sangue, deveriam colocar em letras bem grandes que pessoas que nasceram no norte, não são aptas a serem doadoras, porque podem transmitir força, garra e determinação.
Texto: Extra de Rondônia/Raquel Barbosa Becker
Foto: Arquivo Pessoal