Andrelino Batista, 56 anos, mora há quase 20 anos no Museu

Andrelino Batista, 56 anos, mora há quase 20 anos no Museu

Se tudo se resumisse em poucas palavras, a vida do senhor Andrelino Batista seria só de agradecimento.

O homem, de 56 anos, é responsável por manter em ordem um dos maiores patrimônios de Vilhena: o Museu de Rondon. Hoje, porém, se encontra abandonado pelo poder público, que nem ao menos incentiva as escolas no ensino as crianças sobre a importância de Cândido Rondon, o Marechal Rondon.

Conhecida também como a “Casa de Rondon”, o Museu está instalado no município desde o início do século 19, quando em grande expedição o maior desbravador do norte do país fixou uma base no local onde é hoje a cidade de Vilhena.

Apesar de não ter permanecido no local por muito tempo, Rondon seguiu com sua expedição, porém, deixando para trás sua humildade e forma de conduzir uma tropa em tempos que não podiam dispor de muitos recursos tecnológicos.

Mesmo abandonada pelas instituições culturais do município, a Casa de Rondon continua sempre vigiada pelos olhos do destemível e guerreiro Andrelino. Pai de duas filhas, o homem continua no local há quase vinte anos.

“Quando vim morar, trabalhar e cuidar deste espaço, ele era um dos locais mais visitados da cidade. Hoje, podemos contar nos dedos a quantidade de pessoas que passam por aqui. Muitos nem mesmo sabem que existe a Casa de Rondon”, afirmou Andrelino à reportagem do Extra de Rondônia.

Outorgado na primeira gestão do ex-prefeito Melki Donadon, “o guarda de Rondon” foi submetido à missão de cuidar, manter em ordem e zelar pelo patrimônio que reflete a história do homem que o Estado traz o nome em sua homenagem. Em troca, o trabalhador iria receber um salário mínimo, que na época era equivalente a R$ 112.

Segundo Andrelino, no início de 2006, quando Melki Donadon empossou seu primo Marlon Donadon prefeito da cidade, o benefício foi cortado. “Ele me disse que não poderia continuar me pagando por não ser concursado”, contou.

Mesmo assim, com a esposa e duas filhas para cuidar, Andrelino foi obrigado a permanecer no local, onde está até hoje. Foi necessário que ele arrumasse um emprego num posto de combustível na cidade, onde trabalhou por muito tempo, até descobrir uma doença na perna, a Hanseníase.

A casa cedida ao homem está deteriorada, mas o maior impasse que o pai de família encontra é de nunca ter tido o privilégio de usufruir de energia elétrica ligada em sua casa. “Eu tenho um motor a gasolina, mas, devido ao alto preço, não compensa ligar”, lamentou.

Mesmo sofrendo com a doença, o homem é sempre despojado e conclui a entrevista com o sorriso estampado dizendo que “só tenho a agradecer”.

A Casa de Rondon permanece com as portas cerradas, mas pelas brechas da parede dá para observar as pombas que tomaram conta da casa abandonada. Os três tubos de ferro que sustentam as bandeiras estão enferrujados. Os únicos objetos exposto no local e que fizeram parte da época de Rondon são as rodas do carro de boi e partes de uma serraria que, devido ao peso, não foram levados. O que não podemos dizer dos documentos, que há muitos anos atrás foram encaminhados para as cidades do Rio de Janeiro e Cuiabá.

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Texto: Eliezer Gouveia

Fotos: Extra de Rondônia

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