O vice-prefeito de Vilhena, Jacier Dias, visitou a redação do Extra de Rondônia para uma das entrevistas mais reveladoras que já concedeu desde que ingressou na vida pública.
Ele comentou com detalhes sua participação na Operação “Stigma”, falou sobre o que classifica como “caos administrativo” que paira sobre o Paço Municipal, além de abordar a possibilidade de assumir o cargo máximo do Executivo neste final de gestão.
Jacier Dias também fez duras críticas ao governo estadual com relação ao setor da saúde, cuja situação caótica decorre da omissão do Estado no cumprimento de suas obrigações em seu ponto de vista.
Ele ainda discorreu sobre as eleições deste ano e fez uma revelação acerca de sua situação eclesiástica esclarecendo seu posicionamento sobre a combinação entre política e religião.
>>> CONFIRA A ENTREVISTA:
EXTRA DE RONDÔNIA – Começando pelo futuro, o senhor acredita que pode haver afastamento do prefeito Zé Rover do cargo?
JACIER DIAS – Existe um pedido do Ministério Público Federal em tramitação, e a decisão da Justiça pode acontecer a qualquer momento. Isso não é segredo para ninguém. Portanto, há esta possibilidade sim.
EXTRA – Neste caso, o senhor estaria disposto a assumir a administração vilhenense a esta altura dos acontecimentos?
DIAS – Jamais me furtaria de cumprir a minha responsabilidade, mesmo sabendo que o desafio de fechar este mandato com um mínimo de ordem é imenso. A administração de Vilhena transformou-se num navio sem rumo, com a desordem se impondo em todos os setores. Mesmo assim eu toparia o compromisso para tentar estancar a sangria, impor nova visão administrativa, resgatar a credibilidade do Município para pelo menos atracar este navio num porto seguro ao final da gestão.
EXTRA – O senhor fala em caos generalizado na administração, mas deve considerar que em algumas áreas a crise é mais aguda. Em seu ponto de vista qual seria a prioridade neste momento?
DIAS – Sem dúvida alguma é a saúde, que está falida e já não é de hoje. Eu defendo o estabelecimento de uma mobilização firme entre Executivo, Legislativo, órgãos fiscalizadores, deputados estaduais e a sociedade em geral para adotarmos um posicionamento drástico perante o governo do Estado. Não dá mais para Vilhena ficar arcando com o custo do sistema de 16 cidades do entorno com recursos próprios. É preciso fazer com que o Estado assuma de fato a responsabilidade que lhe cabe na questão e exigir uma mudança de conduta. Sou favorável a instalação de um hospital municipal, que pode ser feita na Policlínica João Luís, por exemplo, para atender de forma justa e eficiente ao público de Vilhena, entregando a gestão do Hospital Regional ao governo de Rondônia.
EXTRA – Isso quer dizer que os pacientes das outras cidades ficariam desassistidos?
DIAS – Não é bem assim. É preciso se levar em conta que todas as cidades recebem recursos para investimentos na saúde local, mas hoje se criou um hábito de encaminhar quase tudo para Vilhena, até mesmo procedimentos mais simples. Isso não está certo, e é preciso que cada um cumpra com o seu dever, e aí eu incluo também o Estado, que assim como em relação a Vilhena, também tem que assumir a função que lhe cabe perante as demais cidades. Defendo que haja saúde de qualidade para todos, mas que cada administração tenha bem estabelecido o seu dever. O que não é justo é o atual panorama, que acaba proporcionando serviço de péssima qualidade para todos.
EXTRA – De que forma o senhor participaria desta ação?
DIAS – Eu já convoquei pessoas a se unirem a esta causa em outras ocasiões, mas a dramática situação atual requer ação mais enérgica. Investido no cargo de prefeito teria credibilidade, influência e mais poder de ação para liderar esta causa. Todos sabem o que está acontecendo, mas está faltando foco e direcionamento de ações. Estaria disposto a encarar esta luta com unhas e dentes. Mesmo porque, a persistir este estado de coisas em breve o sistema vai fechar. Não vejo outro caminho a frente senão o enfrentamento com o Estado. Chega de reuniões a portas fechadas e promessas não cumpridas. É um crime o que o governo vem fazendo com Vilhena e os vilhenenses.
EXTRA – Há vários anos, no início do primeiro mandato, o senhor assumiu temporariamente a Secretaria Municipal de Saúde. Naquela época tinha ideia do que poderia acontecer e previa a situação atual?
DIAS – Sim, pois havia sido alertado por profissionais do setor que era necessária naquele momento uma mudança de rumo. No entanto, forças que usufruíram do sistema com benefício próprio acabaram interferindo e fui boicotado. A forma como eu pretendia gerenciar o setor ia contra interesses há muito enraizados no sistema.
EXTRA – Porque o prefeito Rover não é mais veemente em suas cobranças ao governo do Estado quanto a questão da saúde?
DIAS – Por causa do cabresto. O nosso prefeito apoiou a reeleição do governador, mesmo sabendo da falta de compromisso de Confúcio e com isso perdeu força e poder de diálogo. Só para lembrar, na época da campanha os repasses para a UTI estavam atrasados, e nem isso foi colocado em dia em troca do apoio. O prefeito não consegue se impor perante a administração do Estado.
EXTRA – O projeto que o senhor revelou depende de estar na função de prefeito. Caso isso não ocorra, vê alguma saída para enfrentarmos a crise?
DIAS – Acho que se os atuais gestores tivessem um plano este já estaria em execução. Não sei se esta administração tem o vigor necessário para tal enfrentamento.
EXTRA – Mas o senhor admite que houve avanços na Saúde ao longo destas duas gestões?
DIAS – Sem dúvida que houve. O problema é que aumentaram também a demanda e o valor de custeio, superando o montante de recursos para manutenção do sistema. Por isso aconteceu o óbvio: falência.
EXTRA – Sendo prefeito o senhor teria que lidar com outros setores problemáticos como afirmou. Dando enfoque acentuado a saúde como conseguiria tocar o restante da máquina?
DIAS – Nos outros setores não há vidas em risco, então a prioridade é menos e há disponibilidade de tempo diferenciada. Não que seria fácil, mas tentaria atrair os deputados estaduais do Município para contribuir com os esforços. O espaço de tempo de gestão é muito curto, mas pelo menos daria para colocar as coisas no rumo.
EXTRA – Qual foi a sua participação efetiva na Operação “Stigma”?
DIAS – Antes havia investigações baseadas em indícios e denúncias. O que fiz foi fornecer documentos e levar as autoridades uma pessoa que conhecia um esquema instalado na administração. Isso deu sustentação e nova dinâmica ao caso, e antecipou a ação da Polícia Federal e Ministério Público Federal. Na época em que concedi entrevista coletiva revelando a suspeita de corrupção na administração eu já tinha participado de reuniões com a Polícia Civil, Polícia Federal e MPF. Naquela época eu já estava coletando documentos e provas, mas não podia revelar a imprensa para não atrapalhar as investigações policiais.
EXTRA – Se arrepende do que fez?
DIAS – De forma alguma. Também quero deixar claro que minha atitude não tem nada a ver com mágoa, vingança ou raiva do prefeito. Se tivesse tido oportunidade teria levado o caso direto a ele, como fiz em outras ocasiões e situações, mas além de estar com acesso cerceado a ele, também havia a frustração de nada ter ocorrido nas outras vezes que tentei alertá-lo.
EXTRA – Você acha que Rover participou ativamente das fraudes investigadas?
DIAS – Posso dizer que ele foi pelo menos omisso. Ele delegou poderes a pessoas que agora são acusadas de irregularidades e não se preocupou em acompanhar a conduta dos assessores. O problema do prefeito foi ter se cercado de pessoas que tinham interesses particulares com relação a administração e não ter tomado uma atitude para reverter este quadro.
EXTRA – O senhor acha que a Operação “Stigma” já cumpriu seu objetivo?
DIAS – Ainda falta o fechamento, e outras coisas podem ocorrer. O trabalho não está concluído, mas será, podem ter certeza disso.
EXTRA – Mudando de assunto, na condição de pastor evangélico, como o senhor analisa a questão de interferência religiosa na política?
DIAS – É importante a sua pergunta, pois me dá oportunidade de revelar o que poucos sabem. Desde que ingressei na vida pública abri mão de minhas funções eclesiásticas, tanto no ministério local quanto nas convenções estadual e geral. Fiz isso de maneira informal, e oficializei a decisão tempos atrás. O fato de ser cristão é uma decisão pessoal, que na política pode somar ou mesmo trazer problemas com pessoas que tem outra visão da fé. No entanto, jamais usei a fé alheia para obter dividendos políticos e não aprovo este tipo de coisa.
EXTRA – O senhor está sendo sondado pelo PSDB para aliar-se a legenda. Em que pé está esta situação?
DIAS – Ainda sou presidente municipal do PSC, cuja direção regional está em fase de transição. Realmente fui convidado pelo presidente estadual do PSDB, Expedido Junior, para somar com os tucanos. Estou refletindo sobre o assunto, pois quero tomar uma decisão bem abalizada e definitiva. Tenho até o dia 18 de março para resolver, então vou aproveitar este tempo.
EXTRA – Finalizando, qual seu projeto político para as eleições deste ano?
DIAS – Em princípio não penso em candidatura, mas vou participar da vida política de nossa cidade como sempre fiz, exercendo minha cidadania. Não digo que descarto a possibilidade de concorrer a algum cargo, mas por enquanto prefiro aguardar o desdobramento dos fatos. O futuro dirá.
Texto: Extra de Rondônia
Foto: Extra de Rondônia