Após ficar preso por quase cinco meses acusado da morte da namorada e ser inocentado antes de ir a júri, Ismael José da Silva, de 35 anos, recebeu a reportagem do Extra de Rondônia em sua residência e falou sobre o crime, que comoveu a cidade de Cerejeiras.

Ismael, que completaria três anos de namoro no dia 1º de outubro, com a adolescente Jéssica Moreira Hernandes, de 17 anos, assassinada com 13 facadas no fim do mês de abril do ano corrente, abriu seu coração e falou sobre os momentos de tensão que passou ao ficar preso, acusado de um crime, que ele afirma não ter cometido e sobre a situação de seu primo, Diego de Sá Parente, que continua detido e irá a julgamento como principal suspeito.


Confira os trechos mais marcantes da entrevista:

EXTRA: _ Ismael, você acredita que o Diego é o único responsável pela morte da Jéssica?

ISMAEL: _ Eu acho que ele matou sozinho, mas depois ele teve ajuda pra esconder algumas coisas e limpar a cena do crime. Pois no espaço de tempo que tudo aconteceu, ele não conseguiria fazer tudo o que fez sem a ajuda de alguém.

EXTRA: _ Você mantinha um relacionamento amigável com seu primo? Costumavam sair juntos?

ISMAEL: _ Não! Eu sempre fui mais amigo do irmão dele. Tanto que as duas vezes que o ví, como sei que é difícil para ele, não toco no assunto. Eu e o Diego nunca tivemos muita afinidade.

EXTRA: _ A Jéssica confiava no Diego ou já tinham relatado a você algum interesse dele por ela?

ISMAEL: _ Há um ano e meio, ele disse que eu havia traído ela, mas nunca conseguiu provar e nunca desconfiamos de nada, só que hoje eu vejo que sim, ele realmente tinha interesse nela.

EXTRA: _ Você acha que ao tentar te culpar ele se acabou se acusando? Se ele não tivesse inventado toda essa história, simplesmente tivesse se calado, acha que ele sairia livre ou você já suspeitava dele antes que ele confessasse?

ISMAEL: _ Desde o início ele sempre veio acusando outras pessoas. Primeiro ele acusou um tal de “Galinha Preta”, depois tentou incriminar a família da minha ex-esposa, porém, quando ele viu que eu fui preso, ele jogou toda a acusação pra mim pra soltarem a mulher dele.

EXTRA: _Quando o crime aconteceu, algumas informações davam conta de que vocês tinham terminado. Você e a Jessica estavam namorando ou estavam brigados no dia do crime?

ISMAEL: _ Desde que a gente começou a namorar, há quase três anos, a gente nunca se separou, nem quando ele inventou que eu tinha traído ela.

EXTRA: _ Você tinha pretensão de se casar com ela?

ISMAEL: _Sim! Só estava esperando ela terminar os estudos, inclusive esses dias a mãe dela me ligou e disse que sonhava muito com o nosso casamento.

EXTRA: _ Diante do fato do Ministério Público ter recorrido da decisão do juiz a seu respeito, você teme voltar para a prisão?

ISMAEL: _Sim! Eu tenho medo, pois já fiquei preso quase cinco meses inocente, foi muito sofrimento.

EXTRA: _ Como vai ficar seu trabalho no DETRAN agora?

ISMAEL: _ Minha advogada já está mexendo com os papéis e creio que volto a trabalhar em breve.

EXTRA: _ Como você foi recebido pela sociedade? Temor de represálias?

ISMAEL: Fui muito bem recebido. Quando saio na rua muitas pessoas me abraçam, choram. Inclusive teve um homem que me abraçou e pediu pra beijar o meu rosto. Fiquei muito emocionado. Já consigo sair com os vidros do carro abaixados, pois não devo nada, não tenho porque me esconder. Tenho um pouco de receio de amigos do Diego.

EXTRA: _ Como se sente quando pensa em tudo que a Jéssica passou?

ISMAEL: _ Procuro nem pensar, pois ela deve ter sofrido muito. Muita dor.

EXTRA: _ Você acha que o Diego pode ser inocentado?

ISMAEL: _ Acredito que não, pois todas as provas apontam pra ele.

EXTRA: _ Você não quis ficar na mesma cela que o Diego? Ele te ameaçou na prisão?

ISMAEL: _Eu fiquei com medo, pois se ele matou minha namorada desse jeito, poderia me matar dormindo. E diretamente ele não me ameaçou, mas um preso que foi transferido da cela dele pra minha, disse que ele falou que me odeia tanto, que se eu caísse na cela dele, ele me mastigaria vivo.

EXTRA: _ Uma vez preso, o que passava pela sua cabeça?

ISMAEL: _ Eu só orava muito para que a verdade aparecesse e eu pudesse sair de lá.

EXTRA: _ Você sempre se deu bem com a sua sogra ao ponto dela confiar tanto na sua inocência?

ISMAEL: _Sim! Eu sempre fui muito amigo do filho dela e ela sempre gostou muito de mim. Mesmo com a diferença de idade, ela disse que preferia que a Jéssica namorasse comigo do que com quem ela não conhecia. Inclusive ela foi me visitar na prisão e disse que ela perdeu uma filha, mas ganhou um filho.

EXTRA: _ Quando perdemos alguém que amamos, consequentemente temos a triste fase do luto. Em meio todo esse atropelo, você conseguiu parar pra chorar a morte dela?

ISMAEL: _Quando eu estava preso eu achava que ela ainda estava aqui fora, pois a última imagem que tinha, era dela viva. Eu não fui ao velório dela, não tive a chance de me despedir. Quando eu saí que caiu a ficha. As fotos, os lugares que a gente ia, o banco do carro vazio, pois ela estava sempre comigo.

EXTRA: _Se inocentado definitivamente, você pretende continuar na cidade?

ISMAEL: _Sim! Pretendo continuar na cidade, voltar ao meu trabalho e seguir minha vida. Bola pra frente.


Ismael ao lado de Alzineide Moreira mãe de Jéssica e de seus pais.

Texto e fotos: Extra de Rondônia

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