Com 97 transplantes realizados em 2017, pelo menos 14 a mais que em 2016, quando foram registrados 83, o Banco de Tecido Ocular Humano ou Banco de Olhos de Rondônia, em funcionamento há quase dois anos no Hospital de Base Ary Pinheiro, em Porto Velho, ainda enfrenta como principal desafio a falta de conscientização das pessoas quanto à importância da doação, principalmente para os que estão na fila de espera para voltar a enxergar.

Foi o que afirmou a coordenadora do Transplante de Córnea do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado, Ariadne Ortega, reforçando a necessidade de as pessoas comunicarem em vida o interesse pela doação, pois este procedimento só será possível depois se houver o consentimento dos familiares.

Ariadne lembrou que, desde dezembro do ano 2000, para ser doador de órgãos não é necessário mais constar em algum documento. Basta à pessoa manifestar o desejo aos familiares, pois são eles que irão consentir ou não a doação após a morte encefálica, geralmente depois de traumatismo craniano ou derrame cerebral.

“O que ocorre é que 60% dos familiares abordados se recusam alegando motivos diversos, como não saber se era intenção do parente, questões religiosas, embora nenhuma religião restrinja esse ato”, disse a coordenadora.

Após o consentimento, o tempo médio para retirada da córnea é de meia hora, podendo acontecer em até seis horas após a parada cardíaca. Já o paciente começa a enxergar, “de forma embaçada” após ser retirado o tampão 24 horas depois da cirurgia. Mas nitidamente só entre três meses e um ano.

Do total de 53 doações feitas no ano passado, 2 foram em fevereiro, 6 em março, 3 e abril, 6 em maio, 6 em junho, 6 em julho, 9 em agosto, 8 em setembro, 6 em outubro e 3 em dezembro. Com relação aos transplantes, em janeiro foram 12, fevereiro (1), março (11), abril (9), maio (4), junho (4), julho (14), agosto (10), setembro (7), outubro (7), novembro (2) e dezembro (16). Neste mês de janeiro ocorreram 7 doações e 21 transplantes.

 

Vantagens

Apesar das dificuldades para captações, a coordenadora revelou que o Banco de Olhos apresenta mais vantagens, tanto para o paciente quanto para o Estado, pois antes, quem necessitava de um transplante era encaminhado para Sorocaba (SP), permanecendo por vários dias longe da família, enquanto o estado tinha um custo estimado em R$ 15 mil, por paciente, com passagens, inclusive para acompanhantes; e casa de apoio.

“Eles realizavam no mínimo três viagens. Uma para avaliação, outra para a cirurgia e a última para retorno”, explicou, completando que com o Banco de Olhos em funcionamento, o SUS repassa ao estado R$ mil por transplante e igual valor por doação.

A oferta de um serviço público de saúde com qualidade começou a avançar em Rondônia em 2014, quando o Estado passou a realizar transplante de córneas através do SUS, e dois anos depois, em maio de 2016, o Banco de Tecido Ocular Humano recebeu autorização do Ministério da Saúde para avaliar e processar doações de córneas.

O transplante é realizado em pacientes encaminhados por oftalmologistas ou pelo Pronto-Socorro João Paulo II, em caso de traumas.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é retirado todo o globo ocular, mas apenas a película transparente que recobre a íris e a pupila. Em seguida são feitos todos os exames para detecção de possíveis doenças, como hepatite. Caso não apresente riscos é colocada em um processo de conservação com duração de 14 dias. Se detectada doença que possa ser transmitida ao receptor a córnea é descartada, assim como se não for utilizada dentro do prazo.

“O descarte por estar fora do prazo é muito difícil, pois a fila de espera é grande. A demora é de cerca de um ano”, observou Ariadne, destacando que atualmente há 150 pessoas aguardando o transplante, enquanto há apenas duas córneas no Banco de Olhos, um dos beneficiados é um paciente do interior do estado.

A equipe do Banco de Olhos é composta por dois enfermeiros e cinco técnicos de enfermagem no setor de captação; e dois oftalmologistas, dois enfermeiros e dez técnicos de enfermagem no centro cirúrgico. A lista de pacientes é controlada pela central única de transplantes da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e todo o processo é controlado pelo Sistema Nacional de Transplantes sob a supervisão do Ministério Público.

“Até 2016 nossos transplantes eram feitos com córneas doadas pela Central Nacional, o que representava mais tempo de espera”, citou Ariadne, adiantando que a meta agora é zerar a fila de espera, mas, para isso, é necessário um número maior de doadores.

Na campanha nacional de doação de órgãos, realizada anualmente em setembro, em alusão ao Dia do Doador, 27, além do apelo por mais doadores, são distribuídos folhetos que explicam, por exemplo, que após a retirada do órgão, que segue todas as normas da cirurgia moderna, o corpo do doador pode ser velado em caixão aberto, “normalmente sem apresentar deformidades”.

 

Texto: Assessoria

Foto: Assessoria

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