Lamentavelmente a história não é ficção; é a triste realidade. Como tantas outras historias de violência e crime, Brasil afora, nessa também a vítima é colocada em segundo plano, por uma legislação de proteção à bandidagem, que vigora nesse país. Em que só falta obrigar o operador do Direito a pedir desculpas ao criminoso, quando ele é condenado.
Relato simples, porque comum: um celerado, sem qualquer motivo, pegou um pedaço de pau e com ele tentou assassinar uma pessoa deficiente, um homem de corpo adulto, mas cabeça de criança, numa manhã bem cedo de um julho passado. Bateu impiedosamente, tentando obviamente matar. Não havia outra intenção. As testemunhas que acudiram o agredido, ficaram assustadas com a violência, a crueldade, a forma voraz com que o marginal atacou o indefeso inocente.
Motivos? Primeiro, disse que o fez porque o pobre coitado, jogado ensanguentado no meio da rua, agredido com virulência assassina, teria roubado seu celular. O delinquente contou isso numa entrevista à SICTV, logo depois de preso, avisando também (está na gravação), que iria “matar e chupar o sangue” do coitado que agrediu impiedosamente. Depois levantou uma série de calúnias contra sua vítima, na intenção de se defender do indefensável. A competente delegada que presidiu o inquérito, depois de ouvir várias pessoas, o concluiu denunciando o marginal por tentativa de assassinato.
Óbvio! O Ministério Público não acatou, para surpresa geral. Considerou que houve apenas lesões corporais leves. Por que foi na cabeça do deficiente, não da algum figurão ou autoridade? Na cabeça dos outros as pauladas são apenas “lesões leves”, como também dizia o laudo do IML. Pena máxima, no Código Penal, de um ano de prisão, ou seja, nada de cadeia, mas apenas regime semiaberto, dormindo na prisão e podendo andar livremente nas ruas, durante o dia. Tem carta branca da lei para continuar fazendo o que sabe fazer: atacar, violar, agredir.
A grande maioria dos magistrados que acompanha processos desses celerados (é o mesmo tipo covarde que agride e tenta matar mulheres; que rouba velhos e doentes; que ri das leis feitas para proteger criminosos da sua laia) certamente sofre por ter que aplicar penas tão leves, para bandidos que repetem os mesmos crimes e que são inatingíveis pela legislação nefasta que se criou, quase de incentivo à violência e ao crime.
No caso verídico que estamos relatando, a vítima, que vive dando duro de sol a sol nas ruas, entregando impressos, para ter ao menos uma renda mínima, têm medo do bandido que o atacou. Porque sabe que, se for agredido de novo, o criminoso será novamente beneficiado pelas leis esdrúxulas que temos. Mas ele, brutalizado, terá que viver na angústia da espera por novas agressões covardes. Já o criminoso andará pelas ruas, livre, lépido e faceiro. Nesse país das leis bandidas, ele pode continuar sendo violento e covarde. Muito pouco vai lhe acontecer.
SOBRA PROFESSOR. EMERGENCIAIS PRA QUE?
Há necessidade de se contratar mais de 1.700 professores emergenciais pelo Governo de Rondônia, como os que estão sendo chamados, quando se sabe que metade dos mestres das escolas estaduais está fora das salas de aula? Não seria o caso de mandar para seu local de origem, lecionando como deveriam estar fazendo, milhares de professores que se distanciaram das escolas, por inúmeros motivos? O Projeto Gênesis, criado na administração passada, detectou tantas excrescências, tantas questões tortuosas, tantas formas de engodo, que ficou provado que enquanto não for feito um trabalho sério, de limpeza geral, de proteção a grupos em detrimento da verdadeira missão de lecionar, o Estado só vai inchar na Educação, aumentar a fila e continuar com a qualidade do ensino sem evoluir.
Por que o Gênesis não foi em frente? Porque mexe com interesses. Porque prioriza a valorização do aluno e não vive no entorno de interesses de professores e de interesses políticos. Sem uma total reestruturação no sistema de ensino, como o Gênesis apregoava, todo o ano terão que serem chamados outros tantos 1.700 emergenciais, enquanto, na real, tem professor de sobra no quadro do Estado.
TEM QUE MEXER NO ABELHEIRO
Para acomodar professores e deixá-los perto de suas casas, há escolas que tem turmas de 15 alunos, enquanto elas podiam ter até 30, caso eles fossem lecionar também em outras escolas. Outro caso: o concursado, por exemplo, para dar aula de Matemática, acaba cumprindo seu contrato, para sua comodidade e para não sair daquela escola que lhe é mais conveniente, dando aulas de Educação Artística, Ensino Religioso, Geografia, enquanto várias escolas, onde deveria dar aulas de Matemática ficam sem professor.
O governador Marcos Rocha, com sua promessa de acabar com privilégios e priorizar os interesses maiores da coletividade, poderia usar a Gênesis, que cairia como uma luva na Educação. Pena que até agora isso não aconteceu. É importante buscar alternativas contra os privilégios, o jeitinho e os apaniguados. Muitas crianças não têm professores como deveriam ter; metade deles está fora das salas de aula e o Governo precisa meter a mão nesta cumbuca e destruir o abelheiro. Não é possível mais viver chamando emergenciais, quando o Gênesis provou ser isso completamente desnecessário. Certamente quando o Governador colocar a sua mão nessa historia, as coisas vão entrar nos eixos.
TONS DE PAZ E HARMONIA
A sessão de abertura do ano legislativo, na Assembleia Legislativa, teve boa presença de público, foi prestigiada por várias autoridades e teve discursos de promessas de convivência pacífica e harmônica entre os poderes, como era de se esperar. Marcos Rocha viajou a Brasília, na segunda à noite e foi representado por seu vice, Zé Jodan, que além de um discurso previamente preparado pela assessoria de Rocha, com a mensagem do Governador ao novo parlamento, também fez comentários pessoais sobre alguns dos aspectos abordados.
A preocupação com o equilíbrio financeiro, com as contas em dia; com o desenvolvimento econômico do Estado e a necessidade de parceria com a Assembleia e os demais poderes, foi a tônica do pronunciamento. O presidente Laerte Gomes encerrou a série de pronunciamentos – representantes do Judiciário, do Ministério Púbico e do Tribunal de Contas, entre outas autoridades, também se pronunciaram – falando nos desafios do parlamento e também estendendo a mão ao diálogo e à convivência mais pacífica possível entre os poderes. Está dado o pontapé inicial. O jogo da política está em andamento.
ROCHA COM GOVERNADORES E BOLSONARO
Marcos Rocha tinha agenda em Rondônia e em Brasília. Preferiu reunir-se com a bancada federal, para tratar da questão do aumento das contas de energia dos rondonienses e, ao mesmo tempo, participar de um encontro de governadores com o presidente Jair Bolsonaro, o que deve ocorrer nesta quarta, em Brasília. Embora a assessoria do Governador não divulgue detalhes dos assuntos que ele tratará, em reuniões tão importantes, o que se sabe é que, além do caso da energia, Rocha vai em busca de apoios federais para vários problemas que o Estado enfrenta.
Dívida do Beron, a situação da Caerd, a transposição que empacou, também serão temas debatidos. Nesta terça, o Governador participou de várias reuniões, incluindo a que trará de vários temas a serem abordados durante o Fórum de Governadores. Junto com a bancada federal, sob a liderança do deputado do MDB, Lúcio Mosquini, Rocha deve se encontrar ainda com o Ministro das Minas e Energia, antes de retornar ao Estado. Claro que a pauta principal é a questão do aumento abusivo da energia.
ALGUÉM LEMBRA DO CAMINHONEIRO?
Única vítima fatal da greve dos caminhoneiros do ano passado, José Batistela era caminhoneiro e, mesmo aos 70 anos, ainda trabalhava para poder manter sua família. Foi morto covardemente, quando tentava passar num bloqueio próximo a Vilhena, no 30 de maio do ano passado, último dia da greve que abalou o Brasil. Seu assassino, William Maciel, foi preso dias depois e confessou que jogou a pedra de mais de dois quilos contra o caminhão de Batistela, o que causou a morte do ancião.
Menos de um ano depois do ato covarde, que ceifou a vida um homem trabalhador, o assassino já está solto. Vai aguardar o júri popular que o julgará em liberdade, usando uma tornozeleira eletrônica. Passada a comoção do crime, a mobilização pela prisão do culpado; as cenas de tristeza e dor da família, tudo cai no esquecimento e ninguém mais, além da sua família, se lembra do homem que morreu porque um covarde achava que a greve deveria continuar, mesmo contra a decisão da categoria. E assim caminha o Brasil, envolto na impunidade e na crise da segurança pública. Obviamente, uma causa; outra consequência!
EDUCAR É DAR EXEMPLO
O ex governador e hoje senador Confúcio Moura diz que sua prioridade total em ações que pretende desempenhar no Senado da República será dedicar-se integralmente à Educação. E qual a melhor maneira de fazer uma boa educação, do que ensinar pelo exemplo? É isso que ele está fazendo, ao abrir mão de mais de 2 milhões de reais em benefícios pessoais, o que poderia ser aprendido por outros representantes do povo, entre os que preferem cortar os pulsos do que abrir mão de qualquer graninha, incluindo as extras.
Confúcio já comunicou oficialmente que não quer vantagens a que teria direito, como ajuda de custo, imóvel funcional, auxílio moradia, carro oficial, cota de combustível, auxílio alimentação e despesas com viagens para o exterior. Enfim, há quem ache uma decisão demagógica, porque será renunciar a uma gota d água no oceano da gastança, mas não o é. Dando seu exemplo pessoal, Confúcio mostra ao país e aos seus eleitores que há sim como renunciar a tantos benefícios que a vida pública dá a eleitos, ajudando a dizer que há formas de fazer política, que não seja de viver sob tantas benesses. Certamente outros senadores vão seguir o mesmo caminho, como vários deputados federais recém eleitos também decidiram anunciar. Há pequenas (mas fortes) luzes no final do túnel!
PERGUNTINHA
Será que vamos começar a debater os grandes temas nacionais e as reformas vitais para o país que precisam ser feitas de imediato ou continuaremos apenas discutindo abobrinhas e fofocas envolvendo a família do Presidente da República?
Texto: Sergio Pires
Foto: Ilustração