Projeto premiará o café de melhor qualidade produzido por indígenas/ Foto: Divulgação

Indígenas de Rondônia estão recebendo apoio da ciência para melhorar a qualidade dos cafés que produzem. Um projeto de transferência de tecnologia repassa a esses cafeicultores técnicas manejo, colheita, pós-colheita e seleção de cultivares adequadas para a região Amazônica e à forma de produção indígena.

Ação que teve início em fevereiro de 2018, com três famílias das etnias Tupari e Aruá, agora, com apoio de parceiros públicos e privados, passa a atender mais de 100 famílias indígenas de diversas etnias do Estado.

Produtores de cafés já há mais de 30 anos em Rondônia, os indígenas têm cultura, tradição e níveis de relação com o ambiente muito amplo e diferenciado.

A melhoria da qualidade de vida dessas populações, assim como sua inserção social, é questão de política pública e uma demanda antiga desse conjunto de etnias remanescentes no País.

Foi com essa premissa que a Embrapa Rondônia, em parceria com a Secretaria de Agricultura de Alta Floresta D’Oeste (Semagri) e apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), iniciou um projeto de transferência de tecnologias para a produção sustentável de cafés de qualidade especial. Assim, surgiu um produto que agrega valor devido à sua qualidade intrínseca e sua origem, os Robustas Amazônicos indígenas.

O projeto se baseou no conceito de que a agricultura sustentável pode ajudar a proporcionar o equilíbrio entre a obtenção de recursos financeiros, melhoria de vida nas aldeias e a preservação da floresta.

Nesse contexto, segundo o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, a cafeicultura é uma ótima escolha. Pois, se adapta tanto a cultivos a pleno sol quanto arborizado e possui alta rentabilidade por área, resultando em menor dependência de grandes lavouras para proporcionar a viabilidade do módulo produtivo.

“Acredito no poder de transformação que o uso de tecnologias de produção sustentável pode ter na realidade da agricultura familiar e de comunidades tradicionais amazônicas. É uma verdadeira quebra de paradigma. Muitos não acreditam no empreendedorismo indígena e em sua capacidade em praticar atividades mais elaboradas, que vão além da caça, pesca e o extrativismo. Estão dando exemplo a todos nós”, ressalta Alves.

Os indígenas não são apenas extrativistas, são, desde os primórdios, coletores e conservadores de sementes e frutos. Possuem em sua tradição o cuidado e o amor à terra e ao meio ambiente. Têm uma forma simples de agricultura e são seletivos no momento da colheita.

Esta parece até a descrição de produtores de base familiar especializados em cafés de qualidade. E são essas as características principais, segundo o pesquisador, que fazem dos indígenas potenciais produtores de cafés finos.

INICIO

O trabalho com os cafeicultores da Terra Indígena Rio Branco, em Alta Floresta D’Oeste, teve início por meio de convite feito à Embrapa Rondônia pelo líder da comunidade, Dalton Tupari, no final de 2017, durante um evento que tratava da produção de cafés em Rondônia.

Em meio às falas de técnicos, pesquisadores e políticos, o líder indígena se sentiu motivado. “Queremos fazer parte desse movimento de transformação da cafeicultura rondoniense”, disse Dalton. Ele pediu apoio para mudar a realidade de produtores de cafés comuns, investindo na produção com qualidade.

Para transformar este cenário, já no início de 2018, foram selecionadas três famílias de produtores das etnias Aruá e Tupari que começaram a receber as primeiras visitas técnicas e treinamentos específicos quanto ao cultivo do café.

O foco inicial foi na pós-colheita, um dos principais gargalos da cafeicultura, em Rondônia e no Brasil. Com ênfase na sustentabilidade, foram construídos secadores solares, os conhecidos terreiros suspensos, e os indígenas começaram a colocar em prática conceitos que já lhe são familiares: a coleta de frutos maduros e a seleção dos mais saudáveis e bem formados.

Ao contrário do que se poderia imaginar, o início dos trabalhos com a produção de cafés especiais renovou nesses indígenas a preocupação com o meio ambiente e reforçou a vontade de ser sustentável e orgânico. Eles querem, sim, a tecnologia e a evolução em sua agricultura. Mas, com respeito à sua tradição, preservando e interagindo com a floresta. Inclusive, desistiram da praticidade dos herbicidas em prol da capina mecânica e já protegem o solo com adubação verde nas entrelinhas.

Já no primeiro ano o projeto rendeu bons frutos. O primeiro microlote de 10 sacas produzido pelo indígena Valdir Aruá, da Terra Indígena Rio Branco, conquistou, em 2018, o 2° lugar no concurso estadual de qualidade do café em Rondônia e o 20° lugar no concurso nacional Coffee of the year – Conilon e Robusta. Este café foi comercializado ao dobro do preço da commodity tradicional.

Segundo Valdir Aruá, este resultado abriu as portas para o reconhecimento de toda a comunidade de agricultores indígenas do estado. “Isso mudou a vida da minha família e da comunidade indígena. Estou orgulhoso pelo fruto do nosso trabalho. Temos capacidade de fazer muito mais e queremos ir além”, afirma.

E foram além. Estes bons resultados chamaram a atenção do Grupo 3 Corações, maior empresa de cafés do Brasil, que abraçou a ação e lançou o projeto Tribos, iniciativa que tem como principal objetivo valorizar o trabalho que indígenas produtores de café estão realizando no coração da floresta amazônica e, com isso, dar protagonismo a eles.

O projeto fomenta um desenvolvimento sustentável amparado nos pilares social, ambiental e econômico interagindo de forma harmoniosa.

Com o projeto Tribos, o conhecimento técnico e o modelo de trabalho criado pela Embrapa Rondônia estão sendo replicados para 127 famílias indígenas do estado, localizadas nas Terras Indígenas Sete de Setembro, no município de Cacoal, e Rio Branco, em Alta Floresta D’Oeste.

Cabe ressaltar que algumas famílias de cafeicultores Paiter Suruí, de Cacoal, já recebiam assistência técnica da Emater-RO, e, com o projeto Tribos, todos os trabalhos foram integrados somando novos parceiros.

PRODUÇÃO DE ROBUSTAS AMAZÔNICOS

Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), os indígenas de Rondônia estão entre os poucos do País que cultivam o café como forma de obtenção de renda.

A cafeicultura indígena no Estado não é novidade. Os Paiter Suruí, do município de Cacoal, realizam a atividade há mais de 30 anos e os Aruás e Tuparis, da Terra Indígena Rio Branco, de Alta Floresta D’Oeste, cultivam o café há mais de 15 anos. Mas, o que os colocaram em destaque foi a produção de cafés especiais, com notas acima de 80 pontos na classificação da Associação Americana de Café Especiais (SCAA).

São cafés que, segundo os especialistas, possuem sabores exóticos, com doçura e notas de chocolate e castanha, que remetem a produtos amazônicos como a bacaba, uma palmeira nativa desta região, e que têm chamado à atenção e atraindo investidores para a cafeicultura do estado.

PARCERIAS

Para Pedro Lima, presidente da Companhia, ao longo dos 60 anos de história, o Grupo 3corações busca parcerias genuínas e duradouras. O Projeto Tribos caminha neste sentido e, além disso, valoriza a diversidade cultural que existe no Brasil.

“Como maior empresa de cafés do país, temos a responsabilidade de desenvolver a cadeia produtiva do café e parceiros como a Embrapa são fundamentais para gerar conhecimento e atuar em busca deste desenvolvimento constantemente. A Embrapa contribui há mais de 40 anos com inovações tecnológicas que são o grande diferencial na evolução da agropecuária. Acreditamos que juntos criaremos valor para todos os envolvidos neste projeto sustentável”, conclui Lima.

PROJETO TRIBOS

O projeto engloba iniciativas de capacitação para dar acesso às melhores práticas na produção de cafés de qualidade. A companhia também está investindo na infraestrutura necessária nas aldeias para viabilizar a produção dos cafés almejados. Além disso, visando a sustentabilidade, o reconhecimento e a valorização, o Grupo 3 corações comprará 100% dos cafés cultivados nas duas Terras Indígenas.

A compra acontecerá de duas formas. A primeira é por meio do lançamento da 1ª edição do Concurso Tribos, um concurso de cafés de qualidade exclusivo para os povos indígenas em que serão premiados o primeiro, segundo e terceiro lugar.

O melhor café será comprado por R$3 mil cada saca e mais R$25mil de prêmio em dinheiro, o 2º lugar terá a compra das sacas por R$2 mil cada uma e mais R$15 mil em dinheiro e o 3º lugar será adquirido por R$1 mil cada saca e R$10 mil de premiação (de acordo com regulamento).

A cerimônia de lançamento deste concurso ocorreu no último dia 11 em Cacoal, durante a semana que marca o início da colheita no Estado.

A segunda forma de comprar os cafés será reflexo da qualidade que os povos indígenas atingirem em suas respectivas produções de café. Ou seja, a medida que aumenta a qualidade, aumenta também o prêmio por saca.

Os melhores cafés serão comprados pelo dobro do preço da cotação de mercado. Tais iniciativas garantem grande incentivo aos indígenas cafeicultores, uma vez que eles passam a ter não só a garantia de compra de 100% de sua produção, mas também um prêmio que valoriza o trabalho realizado.

O projeto da 3 Corações conta com a parceria da Embrapa, Funai, Emater-RO, Secretaria Municipal de Agricultura de Alta Floresta D’Oeste e de Cacoal e Câmara Setorial do Café do Estado de Rondônia.

sicoob

COMUNICADO: Atenção caros internautas: recomenda-se critérios nas postagens de comentários abaixo, uma vez que seu autor poderá ser responsabilizado judicialmente caso denigra a imagem de terceiros. O aviso serve em especial aos que utilizam ferramentas de postagens ocultas ou falsas, pois podem ser facilmente identificadas pelo rastreamento do IP da máquina de origem, como já ocorreu.

A DIREÇÃO