Tânia Mara Guirro e os filhos / Foto: Divulgação

Foram dois casamentos, nove tentativas de inseminação in vitro e dois abortos. Nesse tempo, igualmente, a juíza Tânia Mara Guirro, ingressou no Cadastro Nacional de Adoção no ano de 2014, juntamente com o então esposo. Nem o fim do último casamento fez com que ela desistisse do sonho, permanecendo sozinha na fila da adoção.

No meio do caminho houve obstáculos como a superação do câncer no útero, em decorrência da hiperestimulação hormonal a que era submetida durante as tentativas de inseminação, até a conclusão do processo do primeiro filho. Em menos de 1 ano e 4 meses, a juíza seria surpreendida com a chegada do segundo filho, uma menina que ingressou na família Guirro pelo mesmo procedimento, a adoção.

A atenção pelo dia das mães revela histórias especiais e emblemáticas que nem os principais escritores da teledramaturgia conseguem descrever com tanta riqueza de detalhes emocionantes.

Com apenas dois dias de vida, João Gabriel deu entrada em um abrigo público de Porto Velho, e meses antes a juíza Tânia Mara Guirro e o então esposo desistiram de se habilitarem à adoção de um casal de crianças para que ela fosse submetida ao tratamento de recuperação do câncer no útero, descoberto durante a nona tentativa de fertilização.

Ao longo desse período a magistrada foi suspensa da fila de espera da adoção, e teve findado o casamento que se transformara em uma bela amizade. Precisou de dez meses para ser reativada no Cadastro Nacional de Adoção, e então ser comunicada de que no abrigo público havia uma criança que se encontrava em fase final do processo de destituição do poder familiar.

“As psicólogas da Vara da Infância me comunicaram que muito provavelmente meu filho já estava a caminho, e pediram para que eu me preparasse porque talvez seria consultada oficialmente ainda no primeiro trimestre de 2018. Nós nos conhecemos no dia  05 de janeiro de 2018, e foi o dia mais emocionante da minha vida. Todos os dias durante o período de aproximação eu era a primeira pessoa que ele via ao acordar e a última antes de dormir”, relembra a magistrada.

Nessa época, durante a convivência no Lar do Bebê, ela ainda preparava o quarto da criança, tendo apenas dois dias para providenciar enxoval e móveis. Sozinha, morando distante da família que vive em Londrina (PR), mas com o apoio dos amigos e do ex-marido – que se tornou o padrinho da criança – “o melhor do mundo”, Tânia venceu forte estresse adaptativo, que ela desconhecia existir, tomando conhecimento de haver adotantes que passam até por depressão pós adoção, exatamente como a depressão pós parto.

“Comecei a acreditar que não tinha capacidade de cuidar de meu filho adequadamente, que ele merecia uma ‘família margarina’ e não uma mãe que morava longe dos familiares e ainda tinha a saúde sob atenção. Minha única experiência em cuidar de criança era um banho em cada um dos três sobrinhos ‘daqueles para tirar foto’. No início tive muito medo de cuidar dele. Descobri que ele tinha intolerância severa à lactose, dermatite de contato e era lactente sibilante.  Fez todo o acompanhamento médico e hoje João Gabriel está plenamente saudável, e sou muito elogiada nos cuidados pelos profissionais de saúde e amigos”, explica a juíza emocionada, que decidiu acrescentar o nome João, em homenagem aos dois avôs – João Guirro e João Santana.

Há pouco mais de um mês, a juíza foi surpreendida ao estar com João Gabriel em um restaurante, e lá se reencontrou com a psicóloga que acompanhou todo o processo de adoção dele. A magistrada recebeu a informação de que havia acabado de dar entrada no mesmo abrigo público a irmã biológica do João Gabriel.

Em razão de ter adotado o filho/irmão biológico, a magistrada teria a preferência na adoção da criança recém-nascida e, posteriormente, foi consultada oficialmente. “Embora tenha sido o desejo durante a vida, não imaginava mais ter outro filho, pois a família continua residindo no Sul do país, a instabilidade econômica do país me afeta como a todos, não me dispus ainda a novo relacionamento, cuidando de João Gabriel em ‘voo solo’. Então tive muito medo das dificuldades e dos desafios que viriam com uma segunda adoção”, afirma.

Mas o sentimento falou muito mais alto, e a juíza Tânia se preparava para mais um dia memorável – conhecer a menina que chegara no abrigo público sem nome, e estava com a saúde debilitada com pneumonia e bronquiolite.  Ao tomar conhecimento, de imediato iniciou o tratamento da pequenina.

A magistrada carregava na mente a dúvida de uma nova adoção e clamava a Deus para iluminar os pensamentos. No caminho até o abrigo, a juíza Tânia escutou uma música emocionante cujo a letra falava sobre o amor e cuidados dos céus, vinculou-a ao amor e cuidados das mães que guardam pela vida dos seus filhos, e percebeu que seu coração e suas emoções não tinham as dúvidas da mente e pensamentos.

Ao ter contato com a bebezinha, o pequeno João Gabriel perguntou quem era aquele bebê e a mãe respondeu que era a irmãzinha dele. Então João Gabriel, que aprendera a dizer as primeiras palavras, pegou em uma das mãos da recém-nascida e beijou-a delicadamente. Tal gesto cobriu o rosto da mãe de lágrimas e sanou quaisquer dúvidas sobre a família que formavam naquele momento (ou desde sempre), era a chegada da Maria Antônia sendo concretizada, nome escolhido em homenagem à avó materna, Antônia, com quem a juíza sempre teve forte ligação emocional, e a Maria, mãe de Deus.

“Naquele momento tive a paz e o sentimento necessários para aumentarmos a família. O elemento determinante para a adoção é o amor. Eu amo enlouquecidamente os meus filhos e não imagino a minha vida sem eles. Agradeço a Deus todos os dias pelos filhos que ele me deu. Em todas as orações que fiz pedindo pela vinda de meus filhos, em momento algum consegui alcançar a beleza da família que eu tenho. Demorou porque tudo que é muito especial é demorado para preparar, até mesmo para Deus”, conta a magistrada.

Para habilitar-se à adoção, a juíza Tânia Mara Guirro, passou por um processo judicial, frequentando o curso de capacitação e tendo acompanhamento multidisciplinar com psicólogos e assistentes sociais.

“Acredito que não somos nós que escolhemos os nossos filhos, são eles que nos escolhem. Se eu soubesse dessa felicidade sem igual que sinto agora, eu não teria arriscado a minha vida fazendo tantos tratamentos de fertilização in vitro, pois não há razão para isso. O filho brota do amor; se o brotinho se desenvolve na barriga ou no coração, não tem a menor importância; o que importa é que ele é seu filho, seu muito amado filho”, finaliza a magistrada, cobrindo de carícia os dois mais novos membros da família Guirro.

Tânia estava no cadastro de adoção desde 2014 / Foto: Divulgação
sicoob

COMUNICADO: Atenção caros internautas: recomenda-se critérios nas postagens de comentários abaixo, uma vez que seu autor poderá ser responsabilizado judicialmente caso denigra a imagem de terceiros. O aviso serve em especial aos que utilizam ferramentas de postagens ocultas ou falsas, pois podem ser facilmente identificadas pelo rastreamento do IP da máquina de origem, como já ocorreu.

A DIREÇÃO