Semana passada, o vazamento de áudios atribuídos ao delegado Júlio César, da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (DRACO) da Polícia Civil de Rondônia, além de causar espanto e perplexidade em juízes e advogados, provocou verdadeiro escândalo na mídia.
Nos áudios, referindo-se a “Operação Pau Oco”, deflagrada em setembro de 2018, o delegado afirma que a Polícia Civil de Rondônia produziu provas ilegais, induziu magistrado a erro, e ainda atribuiu culpa a quem sabia inocente (ex-governador Daniel Pereira), o que teria feito com o propósito de atingir outras pessoas.
Ao final do primeiro áudio vazado, o delegado Júlio César arremata: “é orar mais uma vez pra nego deixar passar batido e deixar rolar”. A repercussão na mídia foi imediata e extremamente negativa.
Em outro áudio, o delegado comenta sobre o “gostinho” que teria em prender o Presidente do Tribunal de Justiça, o Desembargador Walter Waltenberg Junior.
Por toda parte surgiram denúncias de que delegados de polícia integrantes de grupos de combate ao crime organizado estariam inventando organizações criminosas – incriminando inocentes – a fim de se promoverem politicamente, já de olho nas próximas eleições municipais.
Nos últimos meses têm sido frequentes, no Estado de Rondônia, a realização de mega-operações de combate ao crime organizado. Poucos, porém, têm sido os resultados positivos efetivamente obtidos.
A encenação teatral realizada com o gasto excessivo de recursos públicos, e a enorme, e desnecessária, mobilização de efetivo policial, ganham de imediato as manchetes dos jornais, ajudando a promover a imagem de supostos defensores da lei e do direito. Não à toa delegados de polícia vêm ganhando cada vez mais cadeiras no Legislativo.
Aos investigados, vítimas em boa parte, a promoção pessoal e dos interesses políticos de delegados de polícia à custa do Estado, resulta em desonra, vergonha, e em desprezo por parte sociedade. Sofrimento, para os investigados e suas famílias.
Desta vez, a fértil imaginação e a sanha criminalizadora dos supostos arautos da lei esbarraram em dois homens conhecidos, e poderosos, mas amanhã a vítima desses maus policiais pode ser você cidadão comum e simples.
Tome cuidado para que a oração do delegado Júlio César não seja atendida, pois, do contrário, seu advogado pode “deixar passar batido e deixar rolar”.
Afinal, pimenta no olho do outro é refresco. Já dizia um velho filósofo: “Quem muito combate monstros corre o sério risco de tornar-se monstruoso”.
Por: Ivan Mendes
Radialista em Cerejeiras