Em seu relatório final sobre as eleições presidenciais de 20 de outubro na Bolívia, que deram vitória a Evo Morales no primeiro turno, a Organização dos Estados Americanos (OEA) concluiu que houve manipulação deliberada do pleito visando “alterar a vontade expressa nas urnas”.
“A equipe de auditoria detectou uma manipulação intencional das votações”, disseram os especialistas no relatório divulgado nesta quarta-feira (04/12), depois que acusações de irregularidades no processo levaram Morales a renunciar à presidência em 10 de novembro, em meio a intensos protestos.
O texto da OEA aponta que as “manipulações e irregularidades assinaladas não permitem ter certeza sobre a margem de vitória” de Morales sobre o segundo candidato, o opositor Carlos Mesa.
“Ao contrário, a partir da esmagadora evidência encontrada, é possível afirmar que houve uma série de operações dolosas destinadas a alterar a vontade expressa nas urnas”, acrescenta o relatório.
Entre as “ações deliberadas que procuraram manipular o resultado da eleição”, o documento mencionou a “paralisação intencional e arbitrária, sem fundamentos técnicos, do Sistema de Transmissão de Resultados Preliminares (Trep)”, de contagem rápida.
Além disso, o relatório também indicou que, quando o sistema retomou sua operação “no dia seguinte, apareceu em cena um servidor oculto, não declarado e não controlado pela empresa de auditoria ou pela equipe técnica do órgão eleitoral”.
A equipe de auditoria afirmou ter detectado manipulação intencional em dois planos: no nível das atas, a partir de alteração e falsificação das assinaturas dos fiscais das mesas, e no nível dos resultados, com o redirecionamento do fluxo de dados a dois servidores ocultos, o que tornou possível a manipulação de dados e a substituição de atas.
“Duas descobertas detalhadas também revelam a parcialidade da autoridade eleitoral. Os membros do TSE [Tribunal Supremo Eleitoral], que deviam garantir a legalidade e a integridade do processo, permitiam que o fluxo de informações fosse desviado para servidores externos, destruindo toda a confiança no processo eleitoral”, diz o documento, que classifica as descobertas como “contundentes”.
“A equipe de auditoria não pode ignorar o conjunto de manipulações e irregularidades observadas no trabalho de campo e na análise das mais de 200 denúncias e comunicações com as informações recebidas”, defende o texto, acrescentando que “a margem de vitória no primeiro turno é mínima se comparada ao volume de manipulações e alterações detectadas”.
Em 10 de novembro, a OEA recomendou, em um primeiro informe, a realização de “outro processo eleitoral” na Bolívia, evidenciando “irregularidades” que impediam a validação da votação de 20 de outubro.
Morales anunciou sua renúncia logo em seguida e deixou a Bolívia rumo ao México, onde recebeu asilo político. A renúncia foi descrita como “golpe de Estado” por vários governos e políticos latino-americanos, enquanto outros países reconheceram o governo interino de Jeanine Áñez.
Ao comentar no Twitter o relatório final da OEA, a presidente interina disse que o documento respalda a necessidade de novas eleições no país. Em outra mensagem, Áñez afirmou que a análise do órgão “verifica claramente a fraude” de 20 de outubro.