A primeira cultivar brasileira de amendoim forrageiro propagada por sementes, a BRS Mandobi, foi desenvolvida pela Embrapa e recomendada para o consórcio com gramíneas nos biomas Amazônia e Mata Atlântica.
A tecnologia é uma alternativa para diversificar as pastagens e intensificar a produção de carne e leite a pasto, com baixo impacto ambiental, um dos principais desafios da pecuária brasileira. A associação de gramíneas com a leguminosa proporciona alto rendimento de forragem e aumenta em 46% a produtividade do rebanho.
Para disponibilizar a BRS Mandobi uma equipe multidisciplinar de pesquisadores atuou durante 20 anos, no âmbito do Programa de Melhoramento Genético do amendoim forrageiro, coordenado pela Embrapa Acre. Produtiva (três mil quilos de sementes/hectare), resistente a doenças, tolerante ao alagamento do solo e à seca e altamente persistente no pasto e eficiente no processo de semeadura, a cultivar pode ser consorciada com os capins Marandu, Xaraés, Piatã, Humidícola, Tangola, Decumbens, Mombaça, Massai e a Grama-estrela, entre outras forrageiras.
Desenvolvida em parceria com a Associação para Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), a tecnologia é uma resposta a demandas do setor produtivo, em função do alto custo da mão de obra na implantação do consórcio de pastagens com as cultivares propagadas por mudas e dos valores elevados das sementes comerciais disponíveis no mercado, 100% importadas. “A BRS Mandobi vai viabilizar a oferta de sementes nacionais de qualidade, a preços mais acessíveis para o produtor rural”, afirma a pesquisadora da Embrapa Acre, Giselle de Assis.
TECNOLOGIA
O uso de gramíneas consorciadas com amendoim forrageiro ajuda a suprir a necessidade de fertilizantes nitrogenados no processo de adubação de pastagens, com baixo custo. De acordo com o pesquisador Judson Valentim, devido à associação com bactérias que vivem na terra essa leguminosa consegue capturar do ar e incorporar no solo até 150 quilos de nitrogênio na pastagem, o equivalente a 330 quilos de ureia, obtidos de forma natural. Além de gerar economia para o produtor rural, esse ganho ajuda a melhorar a qualidade e longevidade das pastagens.
“Outra vantagem do amendoim forrageiro é o elevado teor de proteína bruta presente na planta, entre 18% e 25%, nutriente que impacta diretamente a qualidade do pasto e a produtividade animal. Esse aporte proteico na alimentação do rebanho eleva a produção bovina por área, com baixas emissões de carbono, contribuindo para a mitigação dos impactos ambientais da produção e para uma pecuária mais sustentável”, destaca Valentim.
GANHOS
Experimentos conduzidos em fazendas comerciais do Acre mostraram que em sistema de cria e engorda, a produtividade do rebanho chegou a 35 arrobas de peso vivo/hectare/ano em pastagens consorciadas com a BRS Mandobi. Já em pastos formados exclusivamente com gramíneas, a produtividade potencial não ultrapassou 24 arrobas de peso vivo/hectare/ano.
“Também avaliamos o uso da leguminosa no período da seca (entre abril e setembro na região amazônica) e o ganho de peso animal chegou a 86%, passando de sete arrobas/hectare/ano, no pasto puro, para 13 arrobas/hectare/ano, em pasto consorciado, desempenho possibilitado pela quantidade e qualidade da forragem durante a estiagem. Além disso, em pastos consorciados, a fase de recria de bezerros, período entre o fim da desmama e a etapa de terminação (engorda), reduziu em 50%, saindo de 24 para 12 meses, com impactos positivos no ciclo de produção bovina”, ressalta o pesquisador da Embrapa Acre Maykel Sales.
As pesquisas mostraram, ainda, que em pastagens consorciadas os animais chegaram ao peso ideal para abate aos 30 meses de idade, enquanto em pastagens puras precisaram de 42 meses. Essa redução proporciona economia de mão de obra, alimentação e vacinas e outros cuidados com o rebanho que elevam o custo de produção da arroba. Além disso, a tecnologia melhora em 20% a capacidade de suporte das pastagens, desempenho que permite criar mais animais em uma mesma área e conciliar produção pecuária e conservação da floresta.
Lançada em dezembro de 2019, a BRS Mandobi está registrada no Sistema Nacional de Proteção de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A Embrapa está em fase de negociação do primeiro contrato para a produção comercial de sementes em larga escala. Clique aqui para obter mais informações sobre a tecnologia.