O impacto do consumo de carne bovina pelo mercado externo em relação à produção brasileira vem aumentando a partir de 2016 e em 2019 alcançou o maior percentual dos últimos 22 anos (séries históricas do IBGE e Ministério da Economia-SECEX).
Ao analisar os dados desse período, observa-se que o percentual de participação das exportações em relação ao que produzimos foi crescente durante o decênio de 1997 (1,5%) a 2007 (18,1%). Logo após começou a cair, tendo chegado em 2011 a 12%, ano em que foi iniciado novo crescimento, que perdurou até 2014, com pequena diminuição nos dois anos seguintes.
Já a produção de carne bovina aumentou 146,4% em 22 anos, tendo saído de 3,3 milhões de toneladas em 1997 para 8,2 milhões de toneladas em 2019. No mesmo período as exportações aumentaram 2.919%, sendo o decênio já mencionado de 1997 a 2007 o de maior crescimento (2.358%). Nos 12 anos finais do tempo analisado, entre 2007 e 2019, o crescimento foi de 22,8%, com períodos de diminuições.
Esses dados levantam a discussão sobre o que deverá acontecer com a proporção das exportações sobre a produção de carne bovina e a consequente concorrência do mercado externo com o mercado interno brasileiro. É notório que a produção nacional teve pequeno aumento nos seis últimos anos analisados (2013 a 2019), enquanto as exportações subiram em maior velocidade, o que pode ser observado pelo impacto das exportações na produção de 14,5% em 2013 e de 19,1% em 2019.
Com base no crescimento das exportações, que vem ocorrendo desde 2016 e se intensificando neste ano de 2020, e com fundamento também na manutenção do volume de produção de carne bovina, acreditamos que existe uma tendência de aumento do percentual das exportações em relação à produção brasileira.
Em 2019, o CiCarne coordenou uma pesquisa com o objetivo de obter um prognóstico estruturado acerca dos desafios tecnológicos para a cadeia da carne bovina no Brasil para 2040, a qual contou com a participação de especialistas em diversas áreas da cadeia. Dentre os resultados encontrados, identificou-se que existe alta probabilidade de que em 2040 o consumo interno de carne bovina passe a representar menos de 50% do total do volume produzido, vez que o Brasil será o grande abastecedor de carne bovina para a crescente demanda mundial.
Nesse cenário, as exportações serão intensificadas pelos acordos comerciais favoráveis, com mercados exigentes que possuem alto consumo de carne per capita, bem como por mercados em ascensão que consideram o Brasil um dos principais fornecedores, como no caso da Ásia e, em especial, a China. Além disso, o mercado interno também busca carnes de melhor qualidade, o que pode ampliar a pressão sobre o consumo de carne bovina.
Com a chance considerável de tais eventos ocorrerem, entende-se que a produção de carne bovina precisa ser ampliada em quantidade e qualidade para suprir as demandas interna e externa, cada vez mais exigentes.