A pecuária de leite tem grande importância econômica e social para Rondônia, que é o maior produtor de leite da região Norte e o sétimo do país. Mais da metade das propriedades rurais do estado praticam esta atividade.
No entanto, cerca de 80% dos produtores de leite de Rondônia são de base familiar, com produção média de 67 litros diários por propriedade, e a produtividade de 4,4 litros/vaca/dia. Com a adoção de tecnologias, este cenário pode mudar, com mais produção, produtividade, desenvolvimento do setor e qualidade de vida no campo.
É o que propõe o projeto da Embrapa Rondônia de pesquisa e transferência de tecnologias para o fortalecimento da pecuária de leite no estado, denominado Transtec, que terá duração de cinco anos.
“Com a implementação do Sistema de Produção de Leite da Embrapa sabemos que é possível obter o dobro da produção de leite de um sistema convencional/rudimentar. Isso pode ser comprovado em propriedades atendidas por programas da Embrapa em Rondônia. Porém, há potencial para se quadruplicar a produção, contanto que haja investimento financeiro por parte do produtor”, dimensiona Henrique Cipriani, chefe de Pesquisa da Embrapa Rondônia.
O Transtec tem foco em estratégias e ferramentas para a formação e manejo de pastagens, manejo nutricional e reprodutivo do rebanho, controle da incidência de mastite e da qualidade do leite, bem como para gestão financeira da propriedade.
As ações serão realizadas em todo o Estado. Isso será possível por meio da implantação de Unidades de Referência Tecnológica (URTs) e da capacitação continuada de multiplicadores (públicos e privados) para a difusão das tecnologias e boas práticas de produção, tanto as desenvolvidas durante o projeto, quanto às validadas e ainda não adotadas. Estas URTs servirão como verdadeiras salas de aula, ou mesmo “laboratórios” para o desenvolvimento e validação de novas tecnologias, além de perenizar os frutos do projeto e servirem de modelo para as demais propriedades.
Segundo o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Rondônia, Frederico Botelho, a capacitação continuada subsidia a tomada de decisão dos técnicos no campo e permite que as tecnologias sejam difundidas de forma participativa e adaptativa, conforme as necessidades do produtor. “Como resultado deste trabalho conjunto, queremos promover a qualificação da assistência técnica e um impacto positivo na produção e produtividade dos sistemas de produção de leite no estado”, explica.
As pesquisas serão desenvolvidas nos campos experimentais da Embrapa Rondônia, e em parceria com produtores rurais e indústrias lácteas do estado. Neste processo, será possível a avaliação de tecnologias como forrageiras, manejos reprodutivos e estratégias para melhoria da qualidade do leite e sanidade animal em uma diversidade de ambientes, tornando a validação mais confiável e aplicável à realidade do estado.
O Transtec foi viabilizado pelo convênio n° 130/PGE-2019, entre o Estado de Rondônia, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, por meio da Embrapa Rondônia. Faz parte de um grande programa estadual financiado pelo Fundo Pro Leite, denominado Agroleite, que tem como objetivo principal fortalecer a cadeia produtiva do leite no estado de Rondônia, atuando na melhoria da gestão, da produtividade e da qualidade, por meio do aperfeiçoamento profissional e gerencial, pesquisa e transferência de tecnologia, aplicação de práticas modernas, agregação de valor visando ampliação e acesso a novos mercados de forma sustentável.
Também fazem parte do programa o projeto InovaTec, liderado pelo Sebrae, o projeto Consultec, liderado pela Emater, e o projeto Investe Leite, liderado pelo Banco do Povo. O programa tem também a participação Seagri e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
PASTAGEM
Está previsto no Transtec o desenvolvimento e validação de forrageiras com foco em amenizar a problemática da degradação de pastagens, principalmente a que está relacionada com ocorrência da síndrome da morte do capim-braquiarão (SMB) e a cigarrinha-das-pastagens.
A diversificação trará impactos significativos, pois estas ocorrências se beneficiam de um ambiente de monocultivo. As variedades desenvolvidas no projeto atacam esses dois principais problemas, que implica, inclusive, na redução do consumo de agrotóxicos.
REPRODUÇÃO
Também há previsão de desenvolver ferramentas para manejo reprodutivo de vacas leiteiras em condições de estresse nutricional e calórico, considerando as condições climáticas predominantes no estado. Este aspecto merece destaque, tendo em vista que a venda de bezerros é uma importante fonte de renda na atividade, assim como uma boa taxa de prenhez interfere diretamente na produção de leite.
QUALIDADE DO LEITE
Atividades para o monitoramento temporal e espacial dos indicadores de qualidade do leite, rastreamento dos pontos críticos de contaminação microbiológica da matéria-prima em unidades de produção e avaliação de práticas para redução da microbiota deteriorante do leite, fazem parte do projeto. Estes resultados são importantes para a definição de estratégias para o controle da qualidade da matéria-prima. Ações em parceria com produtores e a indústria podem fomentar a melhoria da qualidade do leite em Rondônia, garantindo um alimento saudável e mais nutritivo para os consumidores.
AÇÕES
Concomitante às ações de pesquisa, estão previstas atividades para implantação de 11 Unidades de Referência Tecnológica, que serão utilizadas como ferramenta para a disseminação e demonstração de tecnologias já desenvolvidas pela Embrapa para uso em sistemas de produção de leite a pasto. A seleção de tecnologias que serão implantadas em cada URT será feita com base em um diagnóstico inicial do sistema utilizado em cada propriedade e a implantação será realizada por um técnico com base em um plano trabalho elaborado pela Embrapa Rondônia.
Fazem partes destas ações a qualificação de técnicos para assistência em unidades de produção de leite em Rondônia, tanto de instituições públicas como privadas. Para isso, estão previstos eventos de capacitação continuada, visitas e excursões técnicas, dias de campo e seminários durante os cinco anos de vigência do projeto. Para potencializar as ações realizadas e fazer com que as informações cheguem aos produtores, técnicos e sociedade, serão adotadas estratégias de comunicação para favorecer o acesso ao conhecimento.