Foi-se o tempo em que o principal desafio de advogados recém-saídos da universidade era passar no exame de ordem ou que os profissionais já estabelecidos no mercado de trabalho se preocupavam apenas com os honorários que iam ganhar em determinada causa.
Na série especial “Advocacia em pauta”, com reportagens publicadas sempre às sextas-feiras ou finais de semana, serão discutidos temas relevantes para a advocacia de Rondônia, que acabam se refletindo em toda a sociedade, não apenas nos advogados.
Neste primeiro texto, será discutido os principais obstáculos que os jovens operadores do direito precisam transpor para poderem exercer a advocacia em Rondônia. Falta de experiência, poucas oportunidades de inserção no mercado de trabalho, alta concorrência e dificuldades financeiras estão entre os maiores desafios dos profissionais em início de carreira.
Para Leonardo Lima, formado no ano passado aos 22 anos, “um dos maiores desafios do jovem advogado hoje é exatamente compreender que a advocacia, por mais que ela não seja mercantil, tem que dar lucro”, para que o profissional possa garantir seu sustento e de sua família.
Leonardo destaca a realidade completamente diferente entre a faculdade e o mercado de trabalho. “Precisamos compreender sobre gestão financeira, além de habilidades psicológicas sobre como lidar com a dor do cliente. Algo que quando a gente entra no mercado de trabalho sente muita dificuldade, pois a ciência jurídica não nos ensina”, reforçou o filho de gari que passou no exame de ordem quando ainda cursava o 9º período de direito.
Com escritório próprio em Porto Velho, Leonardo diz que determinação é tudo. “Temos que compreender qual perfil nos encaixamos também. Se podemos gerir nosso próprio escritório ou atuar em outra área jurídica”, finalizou.
DA TEORIA À PRÁTICA
Já com dez anos de carteira da ordem, Dayane Carvalho relembra muito bem como foi difícil o início da carreira de advogada. “Quando se vai para o mercado de trabalho, o primeiro abismo é sair da teoria para a prática. Foi o que passei e percebo ainda hoje com jovens advogados”, conta ela, que é presidente da Comissão da Jovem Advocacia da Subseção de Cacoal.
Acostumada a tratar com colegas de profissão recém-formados, Dayane diz que percebe a dificuldade dos jovens com a relação entre advogado e cliente, com os outros profissionais da área, com o meio jurídico e ainda com a questão tecnológica. “Hoje em dia não é só cartão do advogado, tem que ter boa comunicação, saber de marketing, estar inserido nas redes sociais, senão fica fora do mercado de trabalho”, finalizou.
OAB/RO PARCEIRA DOS JOVENS
Para o advogado Márcio Nogueira, pré-candidato à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Rondônia, um dos maiores desafios da entidade que representa a categoria é ajudar os profissionais que saem da universidade a entrar no mercado de trabalho de maneira competitiva.
“Os códigos do direito não ensinam o advogado a abrir um escritório, gerenciar sua carreira, cuidar da burocracia, lidar com as finanças. Foi assim quando eu estava na universidade e é assim até hoje. Precisamos de uma ordem que capacite esses entrantes na advocacia para as reais dificuldades do cotidiano da profissão”, resume Márcio, que tem 40 anos de idade e 17 de atuação profissional.
Márcio, que está percorrendo o Estado para se reunir com lideranças e ouvir sugestões da advocacia, tem em sua plataforma de propostas o objetivo de transformar a OAB em um local de acolhimento do jovem advogado e advogada. “Muitos deles não frequentam e nem sabem o que é oferecido de suporte na Ordem. Vamos ampliar os avanços conquistados nas últimas gestões e mostrar a esses novos profissionais que a OAB é também um lugar de pertencimento deles”.