Um dos principais estudos conduzidos até hoje sobre a via de transmissão de doenças respiratórias concluiu que o coronavírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, dissemina-se principalmente por meio de aerossóis — partículas com menos de 5 μm (micrômetros) que podem viajar a mais de 1 m de distância e serem inaladas — em ambientes fechados e compartilhados por mais pessoas.
O trabalho, publicado na revista Science, foi realizado por pesquisadores de Taiwan, Estados Unidos e Israel, e buscou identificar da forma mais clara como o SARS-CoV-2 e outros vírus respiratórios se propagam.
Eles observaram uma semelhança na transmissão do vírus causador da covid-19 com outros patógenos, como o vírus do sarampo, influenza e os rinovírus causadores do resfriado comum.
Desde o início da pandemia, sempre se falou que o SARS-CoV-2 era transmitido por gotículas — partículas com tamanho superior a 100 μm e que não vão além de 1 m de distância e nem podem ser inaladas — ou por fômites, que são superfícies contaminadas.
Mas, com a revisão de diversos trabalhos anteriores e novos testes, os pesquisadores entenderam que a transmissão aérea por meio de aerossóis é a rota mais provável.
O estudo concluiu que uma gotícula de 100 μm a 2,4 m de altura permanece em suspensão no ar por apenas 4,6 segundos. Já uma partícula de aerossol de 1 μm se mantém por 12,4 horas.
Pesquisas recentes já mostraram que os aerossóis de SARS-CoV-2 podem sobreviver no ar por até 16 horas.
Os autores do estudo analisaram casos já publicados de superespalhamento de covid-19, ocasiões em que muitas pessoas são infectadas ao mesmo tempo, os chamados clusters.
“Um fator comum nesses eventos de superespalhamento era o ar compartilhado que as pessoas inalavam na mesma sala. Muitos estavam ligados a locais lotados, duração de exposição de uma hora ou mais, ventilação deficiente, vocalização e falta de máscaras adequadamente usadas”, detalharam.
Uma das autoras do estudo, a professora Chia C. Wang, diretora do Centro de Pesquisa Científica de Aerossóis da Universidade Nacional Sun Yat-sen, em Taiwan, enfatizou que, no passado, as pessoas acreditavam que só poderiam ser infectadas inalando gotículas respiratórias produzidas na tosse e nos espirros.
Desta forma, seria mais fácil evitar o contágio, já que normalmente nos afastamos de pessoas com tais sintomas gripais.
A descoberta dos cientistas revela que o simples ato de falar sem máscara é suficiente para jogar grandes cargas virais no ar.
Estes aerossóis carregados de vírus, se inalados por outras pessoas, chegam a receptores respiratórios e se replicam rapidamente, causando a infecção e a doença.
E são os ambientes fechados com pouca ou nenhuma ventilação os mais propícios para a disseminação do SARS-CoV-2 e outros vírus respiratórios.
“A transmissão por inalação de aerossóis carregados de vírus tem sido subestimada há muito tempo. É hora de revisar os paradigmas convencionais implementando precauções de aerossol para proteger o público contra esta rota de transmissão ”, enfatiza a professora Chia C. Wang.