A produção industrial no Brasil caiu 0,7% no mês de agosto, terceiro mês consecutivo de perdas do setor, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (5) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com a sequência de resultados negativos, o desempenho mensal do setor figura 2,9% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, o último mês sem restrições causadas pela pandemia do novo coronavírus.
Apesar das perdas recentes, a produção industrial acumula ganho de 9,2% neste ano e de 7,2% nos últimos 12 meses. Ainda assim, está 19,1% abaixo do nível recorde, registrado em maio de 2011.
A queda registrada em agosto foi disseminada por três das quatro grandes categorias econômicas e pela maioria dos 26 ramos investigados pela PIM (Pesquisa Industrial Mensal), o que demonstra que a Covid-19 ainda afeta o setor.
“Há um desarranjo da cadeia produtiva, que faz com que haja encarecimento dos custos de produção e desabastecimento de matérias-primas para produção do bem final. Isso vem trazendo, pelo lado da oferta, maior dificuldade para o avanço do setor”, afirma André Macedo, gerente responsável pela pesquisa.
O pesquisador avalia ainda que outros aspectos ligados à demanda doméstica são somados a essas dificuldades enfrentadas pela indústria. “Há um contingente importante de trabalhadores fora do mercado de trabalho e os postos que são gerados têm salários menores, ou seja, há uma precarização das condições de emprego”, afirma Macedo.
Ela aponta ainda para a existência de uma retração da massa de rendimento e uma renda disponível menor para os consumidores, por conta da inflação mais alta. “Esses fatores afetam as condições de compra por parte das famílias”, completa ele.
Segmentos
A queda da produção industrial foi puxada, principalmente, pelas áreas de outros produtos químicos (-6,4%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,1%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,3%).
Para Macedo, a queda acentuada da produção de produtos químicos “representa mais uma acomodação, algo pontual, do que uma reversão de tendência do comportamento positivo”. A percepção leva em conta o crescimento nos três meses anteriores do setor de derivados de petróleo.
Outras atividades que impactaram negativamente o índice geral foram equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-4,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,0%), produtos de borracha e de material plástico (-1,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-1,6%) e celulose, papel e produtos de papel (-0,8%).
Já entre as que tiveram crescimento na produção, destacaram-se produtos alimentícios (2,1%), bebidas (7,6%) e indústrias extrativas (1,3%), todas as atividades que tiveram um comportamento predominantemente negativo nos meses anteriores.
“O resultado positivo no mês de agosto é mais um grau de recomposição dessas perdas anteriores do que uma trajetória positiva que esses segmentos industriais venham a ter”, afirma André. A produção das áreas de metalurgia (1,1%), produtos de madeira (3,0%) e produtos têxteis (2,1%) também cresceram na passagem de julho para agosto.