Beatriz França, médica veterinária, criadora de conteúdo e autista

Honestamente, pensei se seria necessário ter esse dia. Já é muito divulgado e comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, no dia 02 de abril de todo ano. Para quê outra data?!

Me envergonhei desse pensamento ridículo.

As funções são diferentes: o dia de Conscientização do Autismo é para saber da existência desse Transtorno do Neurodesenvolvimento; o dia do Orgulho Autista é para mostrarmos que temos ORGULHO de ser quem somos, com nosso jeito diferente (IMPORTANTE: diferente NÃO é sinônimo de “anormal”).

E para que tanto evidenciarem esse orgulho? Você deve estar se perguntando.

Ora, se teve uma coisa que passei os meus quase 30 anos de vida SEM praticamente sentir, foi ORGULHO de ser quem eu sou.

Sempre me senti diferente, desde a infância. Tentava me integrar aos grupos, ser extrovertida, ter vários amigos e convites. Me desgastava tentando ser quem eu não era, sofria, chorava às escondidas, sentia inveja das meninas que desenvolviam conversas, amizades e vínculos com uma fluência absurda.  Enquanto eu, pateticamente, segurava uma conversa e hibernava no meu quarto depois.

Pensava no meu “Fantástico Mundo da Bia” – alusão ao desenho “O Fantástico Mundo de Bob”, que minha mãe sempre fazia comparação – e sentia vergonha e desprezo. Vergonha e desprezo de ter mentalidade aquém da minha idade cronológica, de gostar de desenhos e fantasias até a idade adulta, de querer me vestir de forma diferente, de ser a burra que sempre entendia piadas e trocadilhos minutos depois, de ser ingênua.

A alguns dias acabei verbalizando, e inclusive me assustei por libertar isso de mim, que sentia vergonha e desprezo de mim pelos meus filhos. Quem gostaria de ter uma mãe tão patética como eu? Sim, que horror.

Já fui tratada como bipolar, como apenas tímida, como singular, mas nada explicava o porquê realmente.

Cheguei ao ponto de cogitar acabar com tudo de uma vez por todas e, quem sabe, em uma próxima vida/chance finalmente vir como uma das meninas legais. Pesado, não? Pois é o pensamento de muitos autistas. E a ação de alguns, infelizmente.

A vida foi tomando seu rumo, Murilo nasceu e me apresentou ao Autismo. Nesse mundo do Autismo, fui finalmente encontrando sinais e pessoas que são como eu. Que felicidade! Então não sou só eu assim?! Não é anormal, só diferente?!

Fechei o meu diagnóstico. Entendi que eu não preciso sofrer para tentar ser alguém “padrão”. Entendi que ser quem eu sou só é diferente, não errado. Que tenho até minhas vantagens e destaques.

Aprendi com isso a me ORGULHAR do meu jeito, da minha trajetória, da forma que vivo e sou e que não há vergonha nenhuma nisso, muito pelo contrário.

Hoje olho para atrás e consolo meu EU criança e adolescente de que está tudo bem. Não sou perdedora. Não sou de outro planeta. Sou Autista!

sicoob

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