Principais fatos que marcaram Vilhena em 2022 / Foto-montagem: Extra de Rondônia

2022 principiou com mais esperanças em relação aos últimos dois anos dominados pelo medo e as enormes perdas — de vidas e em questões econômicas — decorrentes do novo coronavírus.

Aos poucos, a vida foi voltando ao normal. As campanhas vacinais funcionaram e as mortes pela Covid-19 foram controladas. O comércio se estabilizou e Vilhena fecha 2022 com superávit no setor público.

Segundo dados da prefeitura, os números do superávit chegam a R$ 34 milhões no município.

O ano foi dominado pelo tema eleitoral. Uma polarização histórica entre direita e esquerda — mesmo a maioria da população não sabendo exatamente o que significa cada tendência ideológica. O que acabou vigorando de lado a lado foram as fake news e os discursos radicais.

As eleições para presidente, governador, deputado e senador ocorreram em outubro. Mas as polêmicas e embates virtuais e nas ruas tiveram início muito antes. Nem a Copa do Mundo no Qatar e nem a Covid estiveram tão populares na boca do povo quanto as politicagens que arrebataram multidões.

CASSAÇÃO DO PREFEITO

Ex-prefeito Eduardo e vice Patrícia: mandatos cassados pela justiça / Foto: Divulgação

Além da cena política nacional interferir no ânimo vilhenense, houve ainda um problema “doméstico”: a cassação dos mandatos do prefeito Eduardo Japonês (PSC) e de sua vice, Patrícia da Glória (PV).

O julgamento aconteceu no dia 30 de junho pelo Tribunal Regional Eleitoral. Foram condenados por abuso de poder político e prática de condutas vedadas aos agentes públicos. Entre as suspeitas, havia o uso indevido das redes sociais da prefeitura para favorecer os candidatos durante a campanha eleitoral de 2020.

Curiosamente, Japonês foi eleito pela primeira vez em eleição suplementar, em 2018, depois de ter conseguido cassar na justiça o mandato da prefeita Rosani Donadon — para quem foi derrotado em 2016 e a quem derrotou posteriormente e, por ações de cujo grupo, acabou perdendo o mandado. Uma ciranda.

 

UM NOVO MANDATÁRIO

Prefeito interino Macedo e seu secretário de Obras, Laércio Torres: cara nova para Vilhena / Foto: Divulgação

Em 10 de julho de 2022, uma segunda-feira, assumiu como prefeito em exercício, o presidente da câmara de vereadores, Ronildo Macedo (Podemos). Um político diferenciado pelo seu temperamento forte, que inclui embates com políticos de peso no município e no estado. É reconhecido por não levar desaforo para casa, algo incomum no meio político que vive de hipocrisia e tapas nas costas.

Ele estreou na política em 2016, sendo eleito duas vezes presidente do Legislativo, e também foi candidato a deputado federal, em 2018. Sempre tendo como base o bairro Cristo Rei, onde ele fixou residência aos 18 anos, em 1998, quando chegou de sua terra natal, Colorado do Oeste (RO).

Macedo assumiu a prefeitura numa situação complicada: sem transição e com o pedido de exoneração coletiva dos secretários. Teve que formar sua equipe em dez dias.

No dia 6 de setembro houve um atrito histórico envolvendo o prefeito Macedo e o presidente da Câmara em exercício, Samir Ali. O enfrentamento, ocorrido na sede do Legislativo,  em plena sessão, por pouco não se transforma em agressão física. Os dois eram, até ali, aliados, amigos e ainda são membros do mesmo partido, o Podemos. As razões da briga não foram bem justificadas.

Entre as novidades anunciadas pela administração do prefeito interino foi o secretário de Obras, Laércio Torres. Contador de formação e ex-assessor parlamentar de Macedo, Laércio foi o secretário de maior destaque. Nos quase seis meses em que está titular da pasta, ele deu impulso e uma cara em vários setores, chamando atenção — e angariando elogios — a utilização da mão-de-obra de apenados em obras públicas. Também conseguiu trocar milhares de pontos de iluminação, com lâmpadas led, e conter alagamentos na avenida Melvin Jones.

No geral, Macedo escolheu muito bem seus secretários. Âncora da administração, o advogado Ígor Marzani foi um excelente chefe de gabinete, elogiado pelo tom conciliador.

Do jovem advogado Giuliano Dourado (secretário de Terras) ao tarimbado decano Roberto Scalercio Pires (secretário de Fazenda), o staf de Macedo deixa uma cidade estável e organizada.

 

DE ANÔNIMO A CHEFE DO EXECUTIVO

Delegado Flori é escolhido prefeito com a maior votação da história / Foto: Divulgação

Uma simples visita ao Google e às redes sociais, no início do ano, apontava que o nome do delegado da Polícia Federal Flori Cordeiro como um político improvável. Sempre aparecia, apenas, associado a sua profissão. Era pouco conhecido até o início da campanha eleitoral, em julho.

Ele mesmo não acreditava no seu projeto, tendo verbalizado isso em encontros políticos. Mesmo assim encarou uma disputa para deputado federal e teve 15.343 votos em 2 de outubro — muito expressivo, ainda mais para um estreante nas urnas. Um verdadeiro fenômeno movido mais pelo título — delegado — do que pelo nome e o rosto ainda pouco celebrados, até então.

Um dia após as eleições, empolgado, Flori procurou o prefeito em exercício — que havia sido aprovado em convenção do Podemos para disputar a cadeira — e o demoveu da ideia de persistir na campanha.

O nome de Flori foi homologado dia 5 de outubro — até então, o candidato ao Executivo pelo Podemos seria Ronildo Macedo, que renunciou a candidatura de prefeito, e permitiu ser substituído nas urnas pelo seu correligionário. A resistência de Macedo teve um efeito cascata: outros dois nomes que postulavam a prefeitura decidiram abandonar o barco: Paulinho da Argamazon (Republicanos) e Gilmar da Farmácia (PSC).

Com isso, a campanha acabou polarizada entre Flori e a ex-prefeito Rosani Donadon (PSD) — os dois haviam disputado as eleições para deputado federal e sido os mais votados em Vilhena. Ela com 10.596 e ele com 9.726 votos.  No geral, no Estado todo, o resultado ficou mais estreito: ela em 16º lugar, com 15.365; ele em 17º e com apenas 22 votos a menos.

Com o discurso de oposição “aos políticos de sempre”, com o nome bem associado ao presidente Jair Bolsonaro, e usando a biografia bem-sucedida como delegado de Polícia Federal — “que prendeu prefeitos corruptos”, como ele discursava — Flori bateu um recorde para prefeito. Foi eleito, para um mandato de dois anos, com 30.111 votos [63,14%]. A segunda colocada, Rosani Donadon, atingiu 17.575 [36,86%].

Foi algo impensável! Somente quatro semanas após ser derrotado para deputado, embora bem votado, Flori venceu nas urnas as eleições para o Executivo, tendo como o vice o engenheiro florestal Aparecido Donadoni, nome do PP apoiado pelo ex-governador Ivo Cassol.

 

CIDADE CONSERVADORA

O município de Vilhena sempre foi predominantemente de direita. Em dez eleições municipais ocorridas desde 1982 até 2020 foram eleitos apenas três vereadores considerados de esquerda — o último, eleito em 2004, foi Mauro Bil.

Em Vilhena, Bolsonaro e Lula tiveram 37.714 e 10.994, respectivamente, no segundo turno. É um município bastante conservador, empresariado com discurso liberal, reduto de evangélicos neopentecostais — são dezenas de denominações religiosas — e referência no agronegócio que apoia massivamente o atual presidente do Brasil, cujo mandato termina dia 31 de dezembro de 2022.

No último 28 de outubro apenas políticos de direita — em todos os níveis — obtiveram votação expressiva em Vilhena. Começando pelo presidente Jair Bolsonaro. Dos candidatos ao parlamento, ninguém da esquerda passou dos 1000 votos em Vilhena; a mais votada, a candidata a deputada federal Fátima Cleide, (PT) somou 906 sufrágios no município. E para deputado estadual, a situação foi ainda pior: a também petista Léo Simão ficou com apenas 302 votos.

O que mais se via nas ruas de Vilhena eram os carros com adesivos de Bolsonaro. Pouquíssimos ostentavam propagandas de Lula. Acuados, muitos militantes da esquerda preferiram atuar mais nas redes sociais, temendo choques extremos ante o predomínio bolsonarista na cidade.

Contrário a todos os prognósticos e pesquisas de opinião, o empresário Jaime Bagatolli — aficionado pelo bolsonarismo — venceu velhas e novas raposas da política estadual. Nome conhecido somente em Vilhena até uns cinco anos atrás, Jaime foi eleito senador da República na levada do 22, o número de Bolsonaro, e obteve 72.18% dos votos neste colégio eleitoral, superando inclusive o índice do presidente no primeiro turno.

Jaime Bagattoli havia disputado o mesmo posto em 2018, quando ficou em terceiro lugar, mas tornou-se conhecido e viabilizou seu sucesso eleitoral agora. Ele tornou-se o nome mais expressivo da política local e o vilhenense que chegou ao cargo mais importante na República, pelo voto direto. Vilhena já teve outro senador, Chico Sartori, por somente onze meses, em 2002, mas este foi escolhido suplente e assumiu a titularidade mediante uma manobra jurídica.

Vilhena tem dois deputados estaduais estabelecidos no município: Luizinho Goebel (PSC) e Rosângela Donadon (União). Esta segunda foi a que mais obteve votos locais (6.527) e foi reeleita; Goebel também foi reeleito, mas perdeu terreno. Com 5.111 votos (ou menos 3.554 votos na comparação com 2018), ficou em terceiro lugar no placar em Vilhena, perdendo para o vereador Dhonatan Pagani (Podemos), jovem de 26 anos que faz campanha na internet e angariou 6.453 votos no município.

Eduardo Japonês foi lançado na política pelo grupo político comandado pelo deputado estadual Luizinho Goebel. O parlamentar foi respingado pela cassação do aliado, mas segue como o político que mais conquistou mandatos eletivos na história de Vilhena. Sem interrupção, Goebel ocupará a partir de 2023 seu quinto mandato consecutivo na Assembleia Legislativa. No total, obteve 14.162 votos em 2022 — há quatro anos, chegou a 16.999.

Dois casos inusitados que também envolvem Luizinho Goebel. Ele apoiou Marcos Rocha (União) para governador no primeiro turno e, no segundo, mudou de lado. Preferiu estar ao lado de Marcos Rogério (PL), que acabou derrotado. Além deste caso, o sogro de Goebel, Evandro Padovani (PSC), que foi secretário de Estado da Agricultura nos últimos onze anos — homem de confiança de Rocha — e primeiro suplente de deputado federal em 2018, concorreu agora ao mesmo cargo e amargou uma baixa votação: 4196 votos em Vilhena.  No geral, Padovani ficou com 13.406 contra 26.656 de 2018.

 

O ESTADO MAIS BOLSONARISTA DO PAÍS

Jaime Bagattoli é o grande vencedor e chega ao Senado / Foto: Extra de Rondônia

Rondônia é o único estado do País em que Bolsonaro venceu em todos os municípios. A votação geral de Bolsonaro representou 70,66% no segundo turno. No primeiro, ele havia obtido 64,36%. Já Lula subiu pouco o seu percentual: de 28,98% para 29,34%.

Nas cinco maiores cidades de Rondônia ao longo da rodovia BR-364, Bolsonaro ficou com votação muito superior à de Lula. Veja: Porto Velho [64,63%], Ji-Paraná [75,47%], Ariquemes [79,15], Vilhena 77,43%], Cacoal [70,65%].

A melhor performance de Lula em Rondônia ocorreu em um pequeno município: Nova União [Zona da Mata]. Lá, o petista obteve 43,43% [1174 sufrágios] contra 56,57% de Jair Bolsonaro [2285].

Em RO, 1.230.172 eleitores estavam aptos a votar em 2022. No segundo turno, o candidato do PL obteve 633.236 votos. Já o petista conseguiu 262.904 dos votos válidos. O índice de abstenção foi alto: 24,68%, o que corresponde a 303.655 eleitores ausentes, segundo informou o Tribunal Regional Eleitoral. Houve, ainda, 5,61% [51.915 votos] entre brancos e nulos para presidente.

O reflexo do êxito do presidente-candidato foi que dois aliados dele — os Marcos (Rocha e Rogério) — disputaram o segundo turno das eleições para o governo do Estado. Pesquisas nacionais mostravam eles empatados tecnicamente e o resultado no primeiro turno foi apertado: 1,83% de vantagem para Rocha, mas houve uma virada no segundo turno.

Marcos Rocha venceu Marcos Rogério (com o placar de 52.47% a 47,53%). Ambos “brigaram” durante toda a campanha para comprovar, perante o eleitorado, quem é que tinha maior proximidade e amizade com Jair Bolsonaro. Outros nomes que renegaram o vínculo com o mandatário ou não souberam expressá-lo, acabaram ficando pelo caminho na corrida ao Palácio Rio Madeira, sede do Governo Estadual.

Em Vilhena, o resultado foi diferente da soma geral no Estado. Marcos Rogerio venceu na cidade, com 25.286 votos (54,04%). Seu adversário, Marcos Rocha, registrou 21.506 votos (45,96%).

 

PATRIOTAS AMOTINADOS

Paralisação na BR-364 no perímetro urbano de Vilhena / Foto: Extra de Rondônia

Tão logo foi anunciada a vitória de Lula para presidente do Brasil, o clima foi de revolta civil em alguns estados. Rondônia fez muito barulho, trancando a BR-364 e organizando enormes mobilizações populares, inclusive nas imediações do quartel da 17ª Brigada de Infantaria de Selva, em Porto Velho, principal unidade do Exército Brasileiro no Estado.

Em Vilhena, houve diversos confrontos. Além do púbico conservador mais visível na sociedade, até indígenas participaram das manifestações. Uma procuradora da República, Gisele Bleggi, esteve na rodovia em Vilhena, dia 3 de novembro. Era um fim de tarde ensolarado. Atmosfera amena, clima tenso. Gritos de guerra, buzinas, bandeiras do Brasil tremulando e as cores verde e amarelo ostentadas nas roupas. Em meio da confusão conduzida por caminheiros e simpatizantes, a presença inusitada de indígenas das etnias Canoê e Sabanê. Eis que, nesse cenário cabuloso e caótico, aparece a procuradora da República Gisele Bleggi, para um diálogo com os indígenas.

A rodovia BR-364 estava parcialmente trancada havia quatro dias por manifestantes contrários ao resultado das urnas eleitorais. Lula, o presidente eleito é o “inimigo público número 1” da direita. Manifestantes não paravam de chegar. Eram repelidos pelas forças policiais, mas não arredavam pé e resistiam. Alguns dos que saiam, retornavam ao ponto de resistência. Diziam que eram pacíficos e democráticos. Contudo, não titubeavam em “botar pra correr” jornalistas suspeitos de serem “comunistas” e também houve registros de agressões físicas na paralisação. A procuradora Gisele, que tentava retirar ao menos os indígenas do manifesto, acabou vaiada e saiu sob escolta, sem êxito.

Agora, em final de dezembro de 2022, a poucos dias da posse de Lula, as manifestações prosseguem em Vilhena. Mais amenas, principalmente após ocorrerem prisões na região. Ressuscitando canções ufanistas da década de 1970 — “Eu te amo, meu Brasil”, de Dom & Ravel, por exemplo — muitos populares saem às ruas com bandeiras protestando contra o resultado das urnas que, para esses manifestantes, teriam sido fraudadas com a anuência do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, também escolhido inimigo dos bolsonaristas.

Com visual diferente, a procuradora Gisele Bleggi roubou a cena na BR-364 / Foto: Divulgação

 

BRASIL 200 ANOS; VILHENA 45 ANOS

Em meio a crises políticas e a crescente onda conservadora de extrema-direita no país, Vilhena comemorou duas datas históricas.

Em 7 de setembro, festou o Bicentenário do Brasil em um ato cívico realizado de fronte para a legendária Casa de Rondon — o antigo posto telegráfico onde surgiu o município de Vilhena, há 110 anos. O evento, embora modesto, marcou o primeiro evento público no entorno da edificação histórica fechada desde 1996.

Em 23 de novembro, Vilhena comemorou 45 anos de sua independência, ou seja, a data da emancipação político-administrativa. Foi a primeira festa alusiva ao aniversário da cidade  desde 2019. Os eventos presenciais oficiais só retornaram neste ano, pós-pandemia. A prefeitura realizou diversas atividades culturais e serviu um bolo de 45 metros na praça Ângelo Spadari.

 

ÚLTIMA SEMANA DO ANO

Nova Mesa Diretora da Câmara de Vilhena biênio 2023/2024 : Samir, Pagani, Damasceno, Vivian e Ademir / Foto: Extra de Rondônia

Na manhã desta quarta-feira, 28, o prefeito Ronildo Macedo reuniu, em seu gabinete,  o secretariado. Fez um rápido balanço da administração e agradeceu aos colaboradores. Anunciou que no dia seguinte inauguraria o novo sistema de iluminação pública nos perímetros urbanos das BR’s 364 e 174.

A semana derradeira de 2022 também marca a expectativa da posse do novo prefeito, Delegado Flori, às 16h de domingo, 1º/1, na Câmara Municipal. A solenidade será conduzida pelo presidente em exercício do Legislativo, Samir Ali, que também será empossado presidente efetivo da Câmara de Vereadores para o exercício 2023/2024.

 

 

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