Família mantém acervo do ex-vereador/Foto: Extra de Rondônia

Quando Vilhena ainda era distrito de Porto Velho, a partir de 1969, Osmar de Oliveira Costa já era morador “antigo” deste lugar e atuava em diversas frentes.

O que se pode atestar até hoje pela documentação, recortes de jornais e fotografias que sua família mantém arquivados como provas do trabalho do pioneiro. A viúva Marlene e dois filhos do desbravador continuam morando à avenida José do Patrocínio, no mesmo local onde o ilustre cidadão viveu seus últimos dias; faleceu em 2007, aos 72 anos — 47 deles vividos em Vilhena.

Quem parece não saber bem a sua importância são algumas autoridades de Vilhena. Afinal, Osmar não é sequer nome de rua na cidade que ele ajudou a criar. Quinze anos já se passaram desde a morte dele, e até o momento os legisladores lhe devem esta homenagem. Aliás, muitos nomes de logradouros são dados a membros de famílias numerosas, aleatoriamente, visando apenas votos ou para agradar familiares, sem atentar para a questão histórica.

Paraense, Osmar foi dos primeiros moradores de Vilhena. Chegou aqui exatamente no dia 23 de junho de 1960, aos 24 anos de idade. Casou-se, em primeiras núpcias, em 1965, com uma das primeiras professoras locais, dona Esmeralda Sol-Sol de Oliveira.

A princípio, foi operário da FAB (Força Aérea Brasileira),construindo casas; passou a fiscal da prefeitura de Porto Velho no povoado vilhenense, em 1963, agente da VASP de 65 a 1972, representante dos Correios e Telégrafos de 1968 a 1970, abriu a primeira farmácia local — a Marajó, em 1968 — , foi nomeado juiz de paz em 1969, pelo governador João Carlos Marques Henriques. Ocupou também o posto de delegado de polícia — o primeiro de Vilhena, entre 1969 e 1970. Mesmo acumulando tantas funções, conseguiu tempo e empreendeu como seringueiro, atividade na qual não se deu bem, pois o sócio, que era seu primo, foi assassinado por indígenas.

Em 1972, passou a ser o vereador, eleito com 132 votos — o primeiro parlamentar da história local — representando a vila de Vilhena na Câmara Municipal de Porto Velho. Após a emancipação do município, em 1977, Osmar continuou vereador em Porto Velho [foi eleito em 1976 com 894 votos], até que houvesse a primeira eleição, em 1982, para formação da Câmara Municipal de Vilhena. Naquele ano, Osmar foi candidato a deputado estadual, obteve expressivos 2047 votos, mas acabou ficando como suplente e viu surgirem outras lideranças, a exemplo de Ângelo Angelin e Arnaldo Lopes Martins, eleitos à primeira legislatura, Assembleia Legislativa Constituinte.

Uma curiosidade: conforme revelam os jornais da época, a entrada de Vitório Abrão no PDS [antes ele esteve no MDB] para concorrer em 1982 — e ser eleito o primeiro prefeito — foi por conta de uma articulação feita pelo então vereador. A contragosto de muitos governistas que queriam Vitório longe do partido de Teixeira, Osmar defendeu que o jovem e habilidoso político cerrasse fileiras no PDS.

ALIADO DE TEIXEIRÃO

Osmar era membro do PDS — o partido dos militares no poder — e aliado do governador Jorge Teixeira, uma lenda política da Amazônia. Mas era crítico à falta de democracia e contra as eleições indiretas. Era um tempo de muitos conflitos agrários, principalmente na região de Colorado do Oeste — parte integrante de Vilhena — e o parlamentar não fazia vistas grossas para a questão, denunciando e pedindo mais segurança para os colonos.

Porto Velho abrangida o imenso território onde está hoje a maioria dos municípios rondonienses. Então, ser vereador na capital representava muito. Tinha a estatura de um deputado estadual, pois o território federal não dispunha de assembleia legislativa. Osmar defendia os interesses não só de Vilhena, mas também de outros municípios. Inclusive, pautas relacionadas à capital, em que defendeu uma série de teses a respeito da ocupação urbana antes restrita e presa à Lei Municipal 62 que proibia a construção de edifícios com mais de dois andares na Zona de Atividade Comercial (ZAC) que incluía as principais ruas do centro de Porto Velho. Ele embateu, ainda, pela criação do município de Espigão do Oeste, emancipado em 1981 de Pimenta Bueno — que também era reduto eleitoral de Osmar, que chegou a ter um sítio nesse município.

Após a instalação de Vilhena, em 1977, passou a lutar pela aprovação da comarca [implantada em 1981] e cobrar a CERON pela ampliação da oferta de energia elétrica — que só atendia a 40% da cidade no início da década de 1980, “mesmo havendo, aqui, estações de rádio e de TV”, conforme ele acentuava.

DIRETOR DA CÂMARA

Técnico em jornalismo, Osmar mantinha colunas em jornais relatando fatos históricos que ele presenciou. Participou de inúmeros cursos, em vários estados brasileiros, nas áreas de legislação e atuação política, promovidos pela União dos Vereadores do Brasil e tribunais de contas. Seus conhecimentos, que eram amplos, o levaram a ser nomeado diretor da Câmara de Vilhena entre 1983 e 1999, quando se aposentou. Foi um servidor exemplar e disciplinado no assessoramento dos vereadores, segundo rezam documentos e matérias publicadas na época.

Maçom, modesto, de poucas palavras e de hábitos simples, Osmar deixou aos poucos a cena política. Acabou com mal de parkinson nos últimos 14 anos de vida. Apesar da importância histórica do personagem, acorreram apenas 40 pessoas ao velório realizado na Câmara Municipal. A dívida para com a sua memória continua em aberto.

Recortes de jornais mostram a atuação do político/Foto: Extra de Rondônia
Recortes de jornais mostram a atuação do político/Foto: Extra de Rondônia
Recortes de jornais mostram a atuação do político/Foto: Extra de Rondônia

Recortes de jornais mostram a atuação do político/Foto: Extra de Rondônia
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