Neste domingo (29), a agência FolhaPress divulgou que fazendeiros teriam invadido a terra indígena e circulado onde foi sepultado o “Índio do Buraco”, no município de Corumbiara, sul de de Rondônia. A invasão teria ocorrido no mesmo dia em que houve o enterro, em 4 de novembro do ano passado.
Segundo a agência, a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) posicionou uma câmera escondida que garantiu as imagens de dois homens. Eles perambularam pelo lugar por volta das 14h, naquela mesma sexta-feira, cerca de quatro horas após o enterro. A cerimônia foi conduzida por indígenas kanoé, que também vivem no sul de Rondônia, com a presença de servidores da Funai.
Os nomes dos invasores não foram divulgados. Mas o MPF (Ministério Público Federal) publicou uma nota informando que havia notificado fazendeiros e que os alertou a não entrar na Terra Indígena Tanaru.
“Invasores podem responder pelos crimes de dano qualificado, dano em coisa de valor arqueológico e histórico e vilipêndio a cadáver. Na área está a maloca em que o índio do buraco foi sepultado e outros locais sagrados, além de sítios de valor histórico, cultural e ambiental”, afirmou o MPF.
Em 27 de dezembro de 2022, a Procuradoria ainda entrou com uma ação civil pública pedindo que a Funai garanta a preservação do território, tendo em vista que “pessoas foram vistas perambulando pela Terra Indígena, o que motivou o Ministério Público Federal a notificar os possuidores/proprietários lindeiros à Terra Indígena”.
FUNAI TENTOU BARRAR SEPULTAMENTO
Os restos mortais do Índio do Buraco foram enterrados na mesma palhoça onde ele foi encontrado morto somente após uma disputa judicial com a Funai.
O corpo foi encontrado em 23 de agosto. O óbito ocorreu de 30 a 40 dias antes, segundo análise feita.
Quando o corpo foi encontrado, estava com um “chapéu” na cabeça e plumagens de penas de arara na nuca, “fatos que indicam consciência e preparativos para a morte ou pós-morte”, conforme o MPF.
O enterro foi postergado por ação do então presidente da Funai Marcelo Augusto Xavier da Silva, que barrou a cerimônia na véspera do dia previsto para ocorrer, 14 de outubro.
Ele enviou um ofício à Polícia Federal em Vilhena barrando os procedimentos sob a alegação de que era necessário aguardar a conclusão dos laudos dos exames nos restos mortais do indígena — mesmo diante do fato de que todos os testes a partir da coleta de material pela PF já haviam sido feitos.
A Funai fez contato também com a prefeitura de Vilhena, em outubro, na tentativa de sepultar o restos mortais no museu “Casa de Rondon”. O que foi, de pronto, refutado pelas autoridades e emissários da municipalidade.
Fazendeiros que circundam o território ingressaram na Funai com pedidos para exploração da área preservada. Eles alegaram ser donos da área de 8.070 hectares.
O sepultamento só foi possível porque o MPF ingressou com uma ação civil pública para que a Justiça Federal obrigasse a realização da cerimônia na mesma palhoça onde o indígena morreu.
Ele era o último de seu povo, dizimado pela ação de madeireiros na região na década de 1990. Viveu sozinho e isolado por 26 anos. Segundo a Funai, o grupo tinha seis pessoas e existiu até 1995. O órgão passou a monitorá-lo, e a respeitar seu modo de vida, a partir de 1996.
A Terra Indígena Tanaru não é demarcada. Por haver incidência de um indígena isolado, o território conta com uma restrição de uso, definida em portaria da própria Funai. Ela vigora até 2025. É esta portaria que os fazendeiros tentam derrubar, a partir da morte do indígena. (Com informações da Folhapress)