Jornalista que já atuou em vários veículos de comunicação de Vilhena, Josi Gonçalves publicou em suas redes sociais um texto emocionante sobre a experiência com o seu filho autista, Davi.
Atualmente acadêmica de direito na UNIR (Universidade Federal de Rondônia) em Porto Velho, Josi relata os desafios que muitas famílias enfrentam para garantir um atendimento digno no sistema público de saúde.
Seu texto, porém, expõe mais sobre o convívio pessoal com o menino. Ao mesmo tempo, reflete situações comuns a milhares de famílias.
Leia abaixo:
“Meu Davi (FOTO) tem autismo. Ele tem 10 anos. Aqui em casa não glamourizamos o transtorno, assim também como não nos vitimizamos por causa disso.
Davi não é um anjo azul, assim também como não é a nossa cruz. Ele é um menino lindo e doce que tem seus momentos de fofura, assim como de crise e fúria.
Aprendeu inglês sozinho, fala fluentemente e lê em inglês, mas tem dificuldade cognitiva pra aprender matemática.
Não me beija, mas diz que me ama. Não abraça ninguém, mas eu e o pai temos esse privilégio. Embora o gesto seja breve.
Às vezes, quando tem crise (por motivos bobos ou desconhecidos), se embrenha debaixo dos lençóis ou esmurra a si proprio. E grita muito.
E eu sofro por muitas vezes não saber o que desencadeou a crise. Apenas o abraço bem forte. Com braços e pernas pra ele não continuar a se machucar.
Graças a Deus superamos a fase em que ele não queria ser tocado.
Mesmo assim, ele é perfeito pra mim. Mas, óbvio que precisa de terapias e cuidados que uma criança neurotípica (aquelas que chamam por aí de normal) não demandaria.
E é justamente isso que não funciona, que não está perfeito. Uma criança com autismo, que não tem o privilégio de nascer em berço rico, passa anos em filas de espera, em unidades públicas de saúde aguardando exames, laudo e tratamento.
Os pais param a vida, praticamente, pra se dedicar aos filhos, em casos mais graves, porque não têm o apoio do estado.
Ter um filho autista é uma benção. Como é uma benção ter qualquer filho. O que não é abençoado é o sistema de saúde que penaliza, mói e maltrata pais cansados das “romarias” feitas de hospital em hospital, clínica em clínica.
Que possamos avançar nos métodos escolares inclusivos, de fato. Que o diagnóstico não seja tão tardio. Que as terapias estejam ao alcance das crianças autistas. Ricas e pobres. Brancas e negras. Esses são meus pedidos pra hoje. É pedir muito?”