Promotora de justiça Yara Travalon Viscardi / Foto: Divulgação

A promotora de justiça Yara Travalon Viscardi chegou a Vilhena no final de julho de 2006. Tinha 29 anos de idade. É tanto tempo que está aqui, que ela acabou legitimada como cidadã vilhenense, vista como profissional enfronhada nas questões que envolvem a cidade.

Comumente alguém diz: “vou denunciar para a doutora Yara”. Pela sua acessibilidade, as pessoas não se fazem de rogadas para procurá-la. É como se ela fosse — e é — uma “justiceira”, a aliada que toma a si a causa da cidadania.  Atua, com destaque, na complexa área de educação.

Sua trajetória bem-vista e sua personalidade espontânea são parte da história local. Nos últimos dias, correu a notícia da promoção de doutora Yara para Porto Velho. Indagada, ela confirmou que está realmente fazendo as malas; vai embora em meados de maio.

O Extra de Rondônia quis saber um pouco sobre a biografia da promotora que, além da ligação profissional com a cidade, tem em Vilhena uma referência afetiva; aliás, a filha dela é vilhenense.

 

EXTRA DE RONDÔNIAQuando a senhora ingressou no MP?

YARA TRAVALON — Foi em 1º de outubro de 1999. Trabalhei em várias comarcas, como Cerejeiras, Colorado do Oeste, Pimenta Bueno, Machadinho do Oeste, Ariquemes, Guajará-Mirim, Porto Velho, Alvorada do Oeste e Costa Marques. No Ministério Público, a gente entra como substituto, depois assume a primeira entrância; segue para a segunda — que é o caso aqui de Vilhena. Agora, fui promovida à terceira entrância, na capital. Por fim, chega-se a procurador de justiça.

Eu optei pela segunda entrância. Foi uma escolha recusar promoção. Escolhi permanecer em Vilhena durante todo este tempo.

 

EXTRA — Onde a senhora nasceu e como foi sua formação?

YARA — Nasci em 1976, na cidade de Lins, noroeste de São Paulo. Eu estudei até a antiga terceira série em colégio público. Aí consegui ir para uma excelente escola, o Instituto Americano de Lins, da Igreja Metodista. Desde então até o último ano da faculdade, fui aluna bolsista. Meus pais pagavam entre 30% e 40% da mensalidade.

Ingressei no curso de Direito em 1993, na Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha, em Marília (SP). Colei grau em fevereiro de 1998. Em outubro do ano seguinte fui aprovada no concurso do Ministério Público do Estado de Rondônia. Eu havia sido aprovada nas primeiras fases de um concurso para delegado da Polícia Civil no Estado do Mato Grosso do Sul, desisti para ter condições financeiras de fazer o concurso para atuar no MP em Rondônia.

 

EXTRA — Foi muito precoce, né?

YARA — Vim para Rondônia com 22 anos de idade, eu era muito criança e já cheguei na condição de promotora. Eu tive que me fazer humilde diante de todas as pessoas, afinal, eu não tinha experiência e nem mesmo saber jurídico.

Atuar de forma simples e respeitosa em relação às pessoas que cruzaram o meu caminho, foi o jeito que encontrei para resolver as demandas que me eram postas, diante da minha falta de maturidade profissional. Foi assim, entre erros e acertos, que me mantenho em pé há 24 anos no MP, sendo 17 anos servindo em Vilhena, a serem completados agora em julho.

 

EXTRA — E a sua família?

YARA — Sou filha de José Travalon, nascido em 1926 em Pirajuí, interior, e de Laura Celeste Ferreira, em 1948, na capital de São Paulo. Sou filha única por parte de pai, e tenho uma meia-irmã materna, que se chama Gaisler, mora no litoral paulista, em Praia Grande.

Minha mãe é do lar; meu pai era mecânico. Sou de família humilde. Quando nasci, meu pai já tinha 50 anos de idade. Eu tinha muita preocupação com o futuro meu e de minha mãe.

Tenho uma filha de 7 anos, a Lorena, sou casada com o promotor de justiça Pablo Hernandez Viscardi, que também atua em Vilhena, é nascido em São José do Rio Preto (SP).

 

EXTRA — E Vilhena, o que significa para a senhora?

YARA — Eu me sinto uma nativa de Rondônia. Enterrei meu pai em Vilhena, em 12 de junho de 2012; aqui nasceu minha filha. Eu não consigo estar em um lugar sem que o meu coração e minha essência estejam impregnados naquilo que eu faço. Eu procuro fincar minhas raízes onde eu estou. Procuro conhecer a história, a cultura e a identidade do povo local.

Então, sempre que sou convidada a falar a promotores substitutos, em algum curso de formação, procuro enfatizar duas questões para eles: digam ao que vêm nos dois primeiros anos de MP; é neste tempo que definirão a marca e a bandeira que terão ao longo da sua trajetória profissional; segundo ponto: em todo o lugar, mesmo que seja para ficar por um dia, vivenciem aquele momento e aquela comunidade. Só assim a gente consegue efetivamente servir.

 

EXTRA — Foi difícil a decisão de ir para Porto Velho?

YARA — Nos primeiros 15 dias foi uma experiência de luto. Preciso usar um método psíquico-defensivo, que é a racionalidade, para construir o meu discurso. As minhas asas foram feitas aqui em Vilhena, graças às experiências adquiridas com as tantas pessoas que passaram pela minha vida. Não vou citá-las, porque me seria doloroso. Há pessoas anônimas às quais eu servi como promotora que me trouxeram as lições mais preciosas [neste ponto da entrevista, ela fica emocionada].

 

EXTRA — Como será o desafio em Porto Velho?

YARA — Estou indo para a 58ª Promotoria de Justiça, que trata de uma matéria pela qual sou apaixonada: os conflitos agrários.

sicoob

COMUNICADO: Atenção caros internautas: recomenda-se critérios nas postagens de comentários abaixo, uma vez que seu autor poderá ser responsabilizado judicialmente caso denigra a imagem de terceiros. O aviso serve em especial aos que utilizam ferramentas de postagens ocultas ou falsas, pois podem ser facilmente identificadas pelo rastreamento do IP da máquina de origem, como já ocorreu.

A DIREÇÃO