O calendário de datas oficiais do Brasil estabeleceu este 08 de outubro como o “Dia do Nordestino”, para homenagear as populações que vivem nos estados daquela região do país, cuja cultura, costumes, linguajar e tantas outras características são tão exclusivas de quem é de lá.
Mais ainda para os vilhenenses, cidade cuja colonização foi maciçamente protagonizada por sulistas, por isso é comum que quando alguém com sotaque nordestino surge na conversa.
Mas, o Nordeste não é apenas uma forma “cantada” de falar, é muito mais que isso. E, para homenagear os nordestinos em geral, o Extra de Rondônia apresentar neste domingo uma história que certamente representa o sentido de ser nordestino, que é acima de tudo, “ser um forte”, como definiu há mais de um século o escritor Euclides da Cunha.
Edileusa Silva Caçula nasceu em Paulo Afonso, na Bahia, há 75 anos. Como a grande maioria dos nordestinos, é de origem pobre, teve poucas oportunidades de mudar de status, vem de uma família numerosa e ainda menina precisou assumir a responsabilidade por criar sete irmãos após o sumiço do pai e da perda da mãe. Isso a obrigou a deixar os estudos após concluir o primário, e ela acabou se casando aos dezesseis anos, agregando 14 filhos à trupe de irmãos que já criava. Mas não parou por aí: Edileusa ainda teve disposição e boa vontade para ser tutora de outras crianças, tendo criado pelo menos mais uns sete filhos adotivos.
O casamento não foi aquela maravilha, ao contrário, a mulher viveu um histórico difícil, porém não deixava de dar atenção a quem lhe pedia ajuda. Tornou-se uma conselheira, enfermeira e até mesmo tratava das pessoas com remédios naturais, orações e atenção. Paralelo a isso, produzia artesanato e alimentos para vender, colocando os filhos e irmãos mais novos nas ruas da cidade oferecendo produtos e ajudando no sustento da grande família. E a vida dura, rotina de nordestino, seguiu adiante, aos trancos e barrancos. Porém, uma coisa é importante ser destacada: apesar das lutas e das dificuldades, enquanto estiveram sob a batuta de Edileusa, nenhum dos filhos se desgarrou para veredas incertas. E nem hoje em dia isso acontece, sendo um dos motivos de orgulho da mulher.
Há 30 anos ela veio para Vilhena, onde já tinha três filhas morando, uma delas casada com um oficial do Corpo de Bombeiros na época. A vinda não foi por livre e espontânea vontade: na verdade ela tentou escapar do marido e de um casamento tempestuoso. Veio para cá com 10 filhos e recomeçou a vida do zero, produzindo salgadinhos e instalando provisoriamente uma Kombi nas imediações do Hospital Regional, que funcionava como uma espécie de lanchonete móvel. O marido apareceu, ela tentou de novo o convívio, não deu certo e separou-se mais uma vez.
Passou também por certa dificuldade para se adaptar em meio a tantos sulistas, mas sua natureza de força mais uma vez lhe deu as ferramentas necessárias para ser resiliente e seguir em frente, encontrando seu espaço na comunidade. Foi feirante, vendedora ambulante, criou os filhos, todos bem encaminhados, teve netos e hoje está aposentada, tornando-se a matriarca de uma bela família, que tem entre suas integrantes a servidora pública e comerciante Edivaneide Caçula, a “Baiana”, que também seguiu o exemplo da mãe e hoje e dona de um restaurante na cidade. E, é óbvio, a casa trabalha com cardápio nordestino, sendo uma das mais famosas de Vilhena.
Baiana tem muito orgulho da trajetória de luta e superação de sua mãe, e conta muitas histórias da família aos clientes de seu restaurante, várias pitorescas. Ela fala, por exemplo, que todos aprenderam a cozinhar bem através de um método bastante pitoresco de Dona Edileusa: quando não aprovava a comida ela chamava os namorados das meninas e mostrava aos rapazes dizendo: ‘olha só com quem vocês acabar casando’.
Mas, acima dos gracejos e das piadas, é evidente o orgulho de filhos e netos com essa nordestina autêntica, cuja história inspiradora retrata o que é a vida de muitos nordestinos no passado e ainda no presente, e é através deste recorte que o Extra de Rondônia saúda todos os nordestinos que fizeram parte da história de nosso Estado, e ainda contribuem para o desenvolvimento de nossa gente.