Em entrevista realizada na manhã desta quinta-feira, 4, na redação do Extra de Rondônia, o prefeito de Vilhena, Flori Cordeiro Junior, fez uma avaliação do seu primeiro ano de mandato à frente da prefeitura Municipal.
Com 30.111 votos (o que representou 63,14% dos votos válidos), ele foi eleito na eleição suplementar de outubro de 2022, para ocupar o cargo no Poder Executivo de janeiro de 2023 a dezembro de 2024.
Na entrevista, além de avaliar os desafios e as conquistas de 2023, o mandatário municipal também comenta sobre a queda de braço que teve com servidores municipais do Magistério, o que provou 11 dias de greve em Vilhena; fala sobre a reforma da previdência; esclarece a vinda da Santa Casa de Chavantes a Vilhena e desmente adversários políticos que tentam envolver seu pai com a entidade de saúde; revela seu futuro político e deixa uma mensagem à população de Vilhena: “não se deixem levar pela emoção por qualquer medida da prefeitura de impacto”.
EXTRA DE RONDÔNIA: Qual é o balanço do primeiro ano de mandato à frente da prefeitura de Vilhena?
FLORI CORDEIRO: Primeiramente, a questão pessoal. Ser delegado (da Polícia Federal) é muito diferente de ser prefeito. Algumas coisas servem, porque fui administrador, chefe da delegacia de Vilhena, chefe da delegacia em Ji-Paraná e diretor regional ao combate do crime organizado em Porto Velho. Ajudou bastante, mas não é a “virada de chave”.
A quantidade de votos que me foi confiada, me deu a confiança de fazer uns choques de gestão. Tudo mundo na campanha promete mudar a Saúde, Educação, mas ninguém quer fazer porque mexe com a “caixa de marimbondo”. Eu tive essa percepção e os 32 mil votos que tive me dão esse apoio para ações impopulares. Mas era necessário fazer esses choques de gestão, para colocar o trem de volta no trilho. E foi o que eu fiz, em especial na Saúde, que continuo achando que é a prioridade na sociedade. Logico, que há que ter uma Educação de qualidade, para sair da pobreza, do marasmo, mas tem que temos que ter uma Saúde de qualidade.
Iniciei reorganizando o setor e, depois, enfrentei uma greve no setor educacional que, ao meu ver, foi injusta. Em Vilhena, não se buscou o reajuste para que os professores tiverem o piso, e sim para que existisse um efeito cascata. Veja bem: quem ganhava R$ 12 mil por mês, queria os mesmos 14% de aumento de quem ganhava R$ 3 mil. E não é isso que a lei fala. A lei fala que ninguém pode ganhar menos que R$ 4.447,00. E, naquela época, haviam 200 professores que ganhavam menos do que esse valor. O piso foi colocado imediatamente para eles.
Além disso, existe outra injustiça que se faz com as crianças, os pais, alunos e a sociedade vilhenense. Vejam só: o Município recebe de R$ 5 milhões a R$ 7 milhões por mês do Governo Federal para cuidar da Educação Básica em Vilhena. Esse dinheiro é para pagar professores, construir refeitórios, arrumar telhado, ampliação e reforma. Hoje, se vier R$ 7 milhões, ainda hoje a prefeitura tem que colocar mais R$ 400 mil para salários. Ou seja: não tem nenhum real para colocar um tijolo. E os professores queriam avançar e iria custar mais R$ 16 milhões dessa conta que teria que tirar das obras de asfalto, das melhorias implantadas nas estradas rurais, da Saúde. Ninguém com 40 horas no primeiro dia ganha menos do que R$ 4,5 mil líquido no bolso. As pessoas pensam que professores ganham R$ 2 mil. Mas ninguém ganha isso. No meio da carreira, professor ganha R$ 8 mil líquido. Tudo está no Portal da Transparência. Então, é uma injustiça com a sociedade vilhenense.
Antes do Plano de Carreira, Cargos e Remuneração (PCCR), que começou a ter validade em junho de 2022, sobrava R$ 2 milhões por mês na educação. Agora não sobra nada. Eu enfrentei porque era injustiça. Foi fomentada pelo sindicato para avançar no reajuste sem dando importância à cidade. Foi duro, mas essa era a minha função: ter força e coragem para fazer a coisa certa. O problema de Vilhena se chama organização.
Outro problema chama-se Instituto de Previdência Municipal de Vilhena (IPMV). Os servidores públicos de Vilhena não se aposentam pelo INSS. Há um banco criado pela prefeitura, que vai colocando dinheiro lá dentro, para os servidores se aposentarem, criando condições muito melhores do que os brasileiros. Talvez uma das melhores do país. No Brasil, já foram feitas três reformas da previdência, e nós, em Vilhena, não fizemos nenhuma. O resultado disso é um hospital da UNIMED por ano, R$ 48 milhões por ano. Aí você fala em modificar, o sindicato não quer. Eu mandei o projeto de reforma, em regime de urgência, mas o presidente da Câmara jogou para analisar no começo de fevereiro de 2024, e o barco andando.
EXTRA: Como surgiu a ideia de terceirar a Saúde e trazer uma empresa para tocar o setor em Vilhena?
FLORI: A gente notava que a principal reclamação da cidade era a Saúde Pública. É uma situação que não pode esperar. Nos primeiros meses, o problema em Vilhena não era falta de dinheiro e sim falta de gestão. Haviam 200 comissionados dentro da Saúde que eram escolhidos por política para fazer favor a quem estivesse no poder e utilizava a Saúde para ter voto. Mas, não era gente que tinha estudo técnico próprio para a Saúde, gente preocupada para atender. Quanta gente não morreu por causa disso? Precisávamos colocar uma ordem nisso. E descobrimos que o Brasil inteiro sabia da existência da “roda” e só Rondônia não sabia. A lei e a Constituição Federal entendem que a iniciativa privada é muito mais rápida, ligeira, mais eficiente em muitos setores, do que o poder público. Por isso, criou o sistema de contrato de gestão. Isso funciona em vários municípios do Brasil. Um exemplo: o orçamento de São Paulo, que vai para a OS, é maior do que o orçamento do estado de Rondônia. Isso funciona. Assim identificamos o método instrumental para combater isso na Saúde. Muita gente falou que é era mentira. Assim, fiz uma dispensa de licitação para trazer um modelo de iniciativa privada para ajudar o município de Vilhena a gerir essa questão. Um modelo que já é aplicado no Brasil há décadas e pacificado no STF. Essa dispensa se faz todos os dias com a cotação de três ou mais empresas. Mandamos para quatro empresas que já conhecíamos. Aí veio a Santa Casa de Chavantes, apresentando um preço razoável. Agora, abrimos o processo licitatório, com o edital publicado e 30 dias todo mundo falando, e só participaram duas: a Santa Casa de Chavantes, que já está aqui, e outro de nome IBRAPP. Então, não tem tanta gente assim que queira vir para Rondônia. Não há nenhuma ilegalidade, está tudo certo.
Nesta quarta-feira, 3, teve a abertura das propostas e, na próxima segunda-feira, 8, será conhecida a decisão da prefeitura, que chegará a uma decisão avaliando três critérios: preço, qualidade e quantidade. Não basta ser mais barato, tem que atender bem e fazer a quantidade de atendimentos corretos. Está no edital, na lei, e a prefeitura vai exigir à iniciativa privada vencedora que tocará o Instituto do RIM, Hospital Regional e a UPA.
EXTRA: Alguns questionaram e levantaram a hipótese de que seu pai teria ligação/envolvimento com a Santa Casa de Chavantes. Isso procede?
FLORI: É falso. O meu pai foi diretor do único hospital que tem minha cidade natal, que é Capão Bonito (SP). Ele tem o mesmo nome meu, só não tem o Junior. É Flori Cordeiro de Miranda. Na década de 70 ou 80, foi diretor do hospital Santa Casa de Misericórdia, de Capão Bonito, que não é Santa Casa de Chavantes. Meu pai nunca trabalhou ou teve negócio algum com a Santa Casa de Chavantes. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. É uma maldade total fazer isso.
EXTRA: Durante o ano, adversário políticos espalharam a ideia de que o senhor iria comprometer o pagamento de dezembro e o décimo dos servidores municipais em Vilhena. O que aconteceu?
FLORI: Isso aí é o tal “o tempo dirá”. Realmente, criaram pânico. Foram feitas reportagens realmente maldosas – e até perigosas. Mas foi pago até adiantado. Quem abriu o Diário Oficial de ontem e hoje, vai ver que coloquei mais dinheiro que sobrou em caixa (algo de R$ 8 milhões) para investimentos em estradas, agricultura, todas as feiras da cidade, Fundação Cultura, Fundo da Criança e Adolescente. Então, além de ser politiqueiro e mentiroso, ficou muito mal para quem espalhou isso, porque não aconteceu.
EXTRA: Qual é sua relação com a Câmara Municipal de Vilhena?
FLORI: A Câmara Municipal tem, na maioria de sua composição, bons vereadores escolhidos pela população, que são realmente preocupados com a comunidade. Hoje, tenho um relacionamento profissional, de interesse com a comunidade. Há oito vereadores realmente preocupados com o Município que não pedem nada para si. Ficamos muitos contentes de poder contar com gente do bem, como Zezinho da Diságua, Zeca da Discolândia, Damascena, Pagani, Pedrinho Sanches, Toninho da Ceron, Tabalipa e Zé Duda, que trabalham diuturnamente pela cidade.
A Câmara recebe cerca de R$ 1,5 milhão por mês. O ano passado, a Câmara devolveu à prefeitura R$ 2,8 milhões e agora R$ 2,1 milhões.
EXTRA: E quais os projetos para 2024?
FLORI: Eu comecei 2024 melhor do que 2023. Explico: incrivelmente, se esconde da população o que é administrar. Quando a população vai escolher um prefeito, quer que ajude a ter uma vida melhor. Não é com tapinhas nas costas, nem falando palavras bonitas e nem com uma fala mansa. Mas que conheça como administrar dentro do gabinete para fazer com que a máquina de 3.000 funcionários ande bem. Ninguém fala de orçamento na campanha, por exemplo. Engraçado que as campanhas políticas ficam na produção hollywoodiana, mas ninguém explica realmente o que importa.
Então, digo que comecei bem o 2024 porque tenho com um orçamento que fiz durante todo o ano de 2023 para colocar em funcionamento agora em 2024. Eu, pessoalmente, deixei de ir em alguns jogos do ‘ruralzão’, algumas formaturas ou cultos religiosos, por exemplo, para acompanhar e saber para onde vai cada centavo do orçamento. Agradeço, por conta disso, uma coisa muito importante que a Câmara fez, que foi aumentar, de 3% para 20%, o percentual do orçamento disponibilizado para decisões do prefeito. Isso é confiança. Em especial, agradecer aos oito vereadores que apoiam a administração.
EXTRA: Haverão mudanças nas titularidades ou cargos nas secretarias municipais?
FLORI: A verdade é que é muito ruim ficar trocando de secretários todo momento. Não somos perfeitos, mas fizemos um esforço enorme para acertar de primeira e estamos conseguindo. Teve administração que teve cinco secretários de Saúde em poucos meses. É uma tragédia isso. Fizemos poucas alterações em 2023.
No trânsito, por exemplo, colocamos um engenheiro e trabalhamos através de um estudo técnico no trânsito. Mas aí vem o palpiteiro. Teve um vereador que me disse que a sogra agora terá que andar mais. Eu disse que nosso argumento é técnico. Nós estamos, aos poucos, conseguindo diminuir os acidentes, ou uma tragédia. Nesse ramo não cabe palpiteiro, achismo.
EXTRA: Falemos sobre eleição municipal de outubro de 2024: o senhor tentará a reeleição à prefeitura de Vilhena?
FLORI: Pessoalmente, não tem sido de grande vantagem pra mim ser prefeito. A paz da pessoa acabou. Tudo bem que eu fui pedir voto e me coloquei nessa situação. Mas, vou esperar mais um pouco por essa questão pessoal para decidir se sou candidato ou não. Quero ouvir as pessoas. Tenho muito respeito pela opinião das pessoas boas. Em Vilhena, há um grupo, uma “bolha”, que acha que manda na cidade. Mas eu não ligo o que eles pensam, que, em geral, é gente desqualificada, gente interessada, que não têm um pardal para dar água. Por isso, vamos aguardar um pouco mais.
EXTRA: Deixe uma mensagem para a população de Vilhena neste início de 2024
FLORI: Minha mensagem é a seguinte: Vilhena é uma cidade rica, com muito recurso. Mas que sofre por conta da desorganização administrativa. E faço aqui um pedido: que a população apoie a administração municipal com medidas impopulares necessárias. Esse é o grande pedido do prefeito Flori. Que as pessoas não se deixem levar pela emoção por qualquer medida da prefeitura de impacto. Mas que olhem pela justificativa de colocar o trem do nosso progresso no trilho da organização. Caso contrário, vamos continuar do jeito que está.