Representantes da etnia Sabanê compareceram à redação do Extra de Rondônia na manhã desta segunda-feira, 22, para esclarecer a situação de conflito com os Cinta Larga que quase culminou em confronto no final de semana.
Os homens, que preferiram não se identificar por temerem pela própria segurança, afirmaram que toda a polêmica é responsabilidade da Funai.
Em primeiro lugar, eles negam a presença de índios Sabanê no protesto ocorrido entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado, contradizendo informações veiculadas pela imprensa. Segundo os Sabanê, apenas os Cinta Larga e as forças de segurança estavam presentes no local.
Os representantes Sabanê também refutam a alegação dos Cinta Larga de que teriam invadido suas terras, afirmando que o território em disputa sempre pertenceu à etnia Sabanê. “Aquela terra sempre foi originariamente nosso território. Há estudos antropológicos, registros em livros e até mesmo a própria expedição de Theodore Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos, junto com o Marechal Cândido Rondon, que atestam a presença dos Sabanê na região”, declararam.
Os Sabanê afirmam que a volta da etnia ao território foi respaldada por estudos antropológicos da Funai e do Ministério Público. Eles acreditam que a reivindicação dos Cinta Larga decorre da incompetência da Funai, que deveria zelar pela paz e pelos assuntos dos povos originários, mas “não faz nada”. “Se eles tivessem cumprido com o seu papel para esclarecer essa situação, não estaríamos enfrentando este problema”, destacou o porta-voz do grupo.
Em 2002, uma aldeia foi construída no local, com escola, posto de saúde e outras estruturas de suporte. Mais de 20 anos depois, os Cinta Larga resolveram reivindicar a terra, alegando ser deles e querendo expulsar os Sabanê. “Não existe lógica para isso”, afirmou um representante.
Em 2017, ao fiscalizarem os limites de sua área com a Fazenda Independência, os Sabanê constataram a presença de pessoas trabalhando dentro do território indígena, o que levou à construção de outra aldeia em 2019.
Em junho de 2022, a Funai de Cacoal, acompanhada pelos Cinta Larga, exigiu a expulsão dos Sabanê, alegando possuir documentos comprovando a propriedade do território. Em agosto, em reunião com o Ministério Público e a Funai, ficou acordado um prazo de um ano para um estudo pericial dos documentos. Após o prazo, o Ministério Público comprovou que as terras pertencem aos Sabanê, mas a Funai não tomou providências.
Em 5 de julho deste ano, a Justiça Federal determinou que a Funai delimitasse a fronteira entre as terras em 60 dias. Quando a decisão chegou ao conhecimento dos Cinta Larga, eles não aceitaram, iniciando o conflito sem diálogo.
Na sexta-feira, 19, os Sabanê conversaram com um agente federal no local do protesto e estranharam que os Cinta Larga estivessem armados para negociar. “Nós temos bom-senso e não acreditamos neste tipo de atitude”, afirmou um Sabanê.
Os Sabanê sempre buscaram resolver a situação de forma pacífica e legal. Em 2007, houve um pacto verbal entre os caciques das duas etnias, mas não foi documentado. Eles lamentam a situação, que consideram inédita, e garantem que continuarão a reivindicar seus direitos por meios legais. Na sexta-feira, os Sabanê permaneceram na aldeia e pediram uma medida cautelar para evitar invasões. A Polícia Federal está responsável pela segurança na região.
Agora, os Sabanê esperam que a Funai cumpra o prazo estabelecido pela Justiça Federal para solucionar a questão, mas estão pessimistas. Eles também criticam a atuação ambígua do Estado, destacando que os Cinta Larga estavam armados no protesto, mas nenhuma arma foi retida pela polícia. “Nós sempre cumprimos as regras, porque os outros não fazem isso e nada acontece?”, questionam.