Valentim Pacios na gruta na cidade do Cone Sul de Rondônia
Valentim Pacios na gruta na cidade do Cone Sul de Rondônia

Muito se tem escrito sobre a história de Rondônia, notadamente, a formação do então Território do Guaporé, a partir da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, – a “Ferrovia do Diabo” -, no final do século 19 e início do século 20, pelo grande número de vítimas que a malária causou, dentre outras enfermidades.

Contudo, em se tratando da pré-história do Estado de Rondônia, poucas e isoladas pesquisas têm avançado nesse sentido.

Os primeiros trabalhos de pesquisa arqueológica na Amazônia de maneira sistemática ocorreram entre os anos 1965 e 1970 por arqueólogos americanos, através do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa). Posteriormente, na década de 80, o governo do Estado instituiu o Pronapaba, como uma continuação do primeiro.

O tema em tela visa tão somente agregar mais uma informação pontual do grande patrimônio histórico-cultural sobre o passado dos povos da floresta que habitaram este Estado em épocas recuadas.

Embora tivessem por hábito a construção de aldeias, por vezes o senso artístico ou religioso de alguns os conduzia a buscar lugares ermos, algo isolados, para dar vazão à busca da divindade, exprimindo seu imaginário, elaborar figuras antropomórficas ou abstratas ou representar ainda o seu dia-a-dia para as gerações porvindouras. Tal foi o que ocorreu em uma pequena gruta no Município de Chupinguaia, Sul do Estado de Rondônia.

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Como resultado da erosão de uma encosta de rochas areníticas avermelhadas, provavelmente da unidade geológica Formação Botucatu , aliado ao fato de haver sido escavada por uma pequena drenagem, ocorreu a formação de uma pequena gruta medindo cerca de 8 metros de largura e 2 metros de altura, sendo a profundidade da ordem de 7 metros.

O que se observa tanto no teto da gruta, embora em pequenas dimensões, mas também em blocos despregados do teto, e ainda em dois planos inclinados na entrada da mesma, com cerca de 1 m², é o entalhe de figuras antropomórficas, talvez zoomórficas, grafismos e desenhos geométricos, mediante a abertura de sulcos profundos (4mm) por algum objeto cortante, provavelmente de pedra acunhada. A figura antropomórfica melhor preservada possui aspecto simétrico e geometrizado (retilínea), bastante simples em seu traçado, que faz lembrar uma figura humana, tendo como suporte o arenito, diante da facilidade em ser trabalhado. Contudo, existem também outras figuras que lembram um esqueleto de peixe ou talo de uma folha.

A princípio, a Tradição que poderia na arte rupestre, entendida como as práticas e técnicas padrão dos antigos para sua confecção, melhor representar as referidas figuras e símbolos identificados é a Tradição Amazônica, face a sua similaridade, sem descartar, contudo, eventual vínculo com a Tradição Geométrica, a qual se distribui do sul do país e avança pelo Planalto Central (Gaspar, 2003).

A relevância do sítio avulta pelos raros exemplos de trabalhos similares em grutas ou cavernas no Estado de Rondônia – talvez o primeiro achado no sul do estado -, muito embora tenham sido catalogados mais de uma centena de sítios lito-cerâmicos, cerâmicos, rupestres, amoladores/polidores na porção central do Estado pela professora Maria Coimbra O. Garcia (Revista Veredas Amazônicas, jan/jun. vol. II, nº 01, 2012). Alia-se a esse achado, a existência nas proximidades (margem de drenagem) do antigo local do aldeamento indígena, onde se percebe a existência de terra preta e artefatos líticos (machadinhas polidas) e, provavelmente, também cerâmicos. Isto posto, acredita-se que o sítio possa, a princípio, ser caracterizado como lito-cerâmico com figuras rupestres.

A arte rupestre (pictograma ou petróglifos) é uma importante fonte de estudo para se conhecer as antigas culturas de Rondônia e da Amazônia, tão esquecidas a tanto tempo. Um grande trabalho para as gerações futuras!

Valentim M. Pacios – Geólogo.

arte rupestre

Texto: Diário da Amazônia

Informações e Fotos: Valentin Pacios

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