O vigilante Marco Antônio das Chagas, de 42 anos, um dos acusados pelo estupro e morte da estudante de jornalismo Naiara Karine da Costa, então com 18 anos quando foi assassinada no dia 24 de janeiro de 2013, foi condenado a 24 anos de prisão em regime, inicialmente, fechado.
O julgamento teve início ontem por volta das 08h da manhã na 1ª Vara do Tribunal do Júri de Porto Velho. O julgamento foi presidido pela Juíza Euma Mendonça Tourinho.
Marco durante o julgamento confirmou que havia estuprado a jovem estudante, porém disse que a deixou viva e que não foi o responsável por sua morte.
Naiara foi assassinada com 22 golpes de faca e o seu corpo foi encontrado na “Lagoa do Sapo”, no Ramal 15 de Novembro, a 10 km da Estrada da Penal, próximo ao presídio Urso Branco, cerca de 17 quilômetros do centro da Capital.
Os pais de Naiara Karine, Paulo César Freitas e Linara Freitas, acompanharam o julgamento sentados na primeira fila. O casal mora atualmente em outro Estado.
O réu é um dos três suspeitos presos e que foram acusados pela morte da estudante e o primeiro a ir a julgamento, preso desde julho do ano passado, desde o seu depoimento inicial na polícia disse apenas ter cometido o estupro e não ter envolvimento commorte da vítima, deixando-a viva quando saiu do local onde ocorreu a violência contra ela. O vigilante só foi preso porque em um vídeo gravado por celular no local do crime pelos próprios criminosos aparecem partes do corpo dele, com as tatuagens, depois confirmados pela perícia.
O JULGAMENTO
Testemunhas foram ouvidas durante toda a manhã de quinta-feira (27). E já pela tarde foram ouvidas mais duas testemunhas: O policial civil Inácio Hudson, que investigou e participou da prisão de Marco e revelou que durante a prisão e apresentação do suspeito o mesmo prestou depoimento – com a presença de seu advogado Janor Ferreira – ao delegado Nestor Romanzini, e que “somente os três ficaram trancados na sala, mas que até hoje nada foi revelado sobre esse primeiro depoimento de Marco ao delegado Romanzini”.
A outra testemunha de defesa foi a amiga da jovem, Radmila Lopes, que sem muitas informações relevantes ao caso, foi logo liberada. Às 14h55min o réu Marco Antônio começou a ser ouvido pela Juíza Euma Mendonça Tourinho.
Ele começou dizendo que no dia 19 de Janeiro de 2013 foi convidado por Francisco Plácido para dar um susto em uma pessoa e ele topou porque achava que era para dar um susto em algum vagabundo, já que o mesmo trabalhava com monitoramento de alarme e sempre era convidado para esse tipo de serviço.
De acordo com seu depoimento no dia 24 de janeiro ele brigou com sua esposa e começou a beber cachaça e a cheirar cocaína. Às 10h30min foi informado por Plácido que o susto que iriam dar na pessoa era naquele dia e naquela hora, e Plácido prometeu pagar R$1.400,00 (hum mil e quatrocentos reais) pelo serviço. Marcos então seguiu pela Avenida Migrantes aonde encontrou um veículo de marca Peugeot, cor preta, porém vale ressaltar que em todos os outros seus depoimentos sempre falou que o veículo era um Gol, de cor branca, mas que ali, na frente da juíza, iria falar a verdade. Falou que neste veículo já estavam Richardson Bruno, Santana, Wagner e uma outra pessoa que ele não conseguiu identificar quem era, mas que durante o inquérito viu fotos e disse que a pessoa poderia ser Rony Clay, um garoto de programa que no Facebook é conhecido como “Rony Madeira”.
Richardson Bruno desceu do veículo e assumiu a moto de Marco, que foi para dentro do carro com o restante dos envolvidos, e que ao olhar para trás, viu que uma mulher estava subindo na garupa da moto e que não sabia dizer se ela estava sendo forçada a subir. Chegando ao local do crime, lá estava um veículo modelo Fiat, de cor vermelha, com faixa lateral amarela, de uma auto escola, e também já estavam Santana (ou sargento Santana), que é instrutor da Auto Escola e Richardson Bruno e que eles já estavam fazendo sexo com a vítima (em pé) e que ela não oferecia resistência. Ele disse ainda que Plácido ficou no carro filmando tudo e logo em seguida Wagner também desceu do carro e praticou sexo com a vítima, foi quando Richardson Bruno falou para ele também fazer sexo com a vítima, Marco respondeu que era casado e que não tinha “camisinha”, foi então que Richardson Bruno falou para ela fazer sexo oral nele, e que a vítima tirou sua calça e baixou sua cueca, foi quando ele tirou toda a roupa e jogou para trás da moto.
Nesse momento o telefone de Wagner tocou. Que o telefone estava dentro de uma “gandola” que pertencia a Santana, e Marco confirmou dizendo: “Eu peguei e vi que no visor estava o nome Bruno Cassol. Eu só vi o nome”.
Richardson não atendeu o telefone e apenas desligou. Foi quando Naiara, segundo ele, falou: “Eu estou aqui por causa do Bruno?” foi então que teve inicio uma discussão entre o vigilante e Richardson Bruno que falou o mandou ir embora porque estava perguntando demais.
Naiara se vestiu e cerca de cinco minutos depois, Richardson a arrastou com uma corda no pescoço e foi aí que ele deu a primeira facada nela.
“Eu falei que íamos nos prejudicar e que não era para fazer aquilo. Fui para cima dele, mas os outros dois me tiraram de cima de Richardson, momento em que ele dava a segunda facada nela (uma faca tipo caça e pesca). Richardson deu a terceira facada e me mandou embora, quando saí, vi Plácido dentro do carro que já estava no sentido contrário, sendo certo que ele me seguiria”, relatou o réu sobre o que viu na noite do crime.
Às 16h20min terminou o depoimento do réu e a juíza solicitou que esvaziassem o plenário para a apresentação do vídeo que foi produzido no local e que consta nos autos. E solicitou também que ficassem apenas o corpo de jurados, a família, os advogados e os promotores.
Marco respondeu a todas as perguntas do promotor e advogados. Confira abaixo o que ele respondeu.
* Não sei quem foi o mandante do susto, só sei que Plácido me chamou, acho que Wagner sabe quem é o mandante.
* Depois dos fatos Santana me ameaçou dizendo que se eu contasse alguma coisa teria retaliação. Eu não conhecia Naiara antes dos fatos;
* Eu não me entreguei antes porque não tinha dinheiro para pagar advogados. Minha família está pagando os advogados;
* Eu não sei quem jogou fora a bolsa da vítima;
* Eu tenho certeza que a vítima ainda estava viva quando saí do local;
* Eu não vi mais a vítima após as três facadas porque Santana e Wagner entraram na minha frente, e deduzo que estava viva porque o delegado falou que ela recebeu muito mais que isso;
* Antes dos fatos, Wagner atendeu um telefonema dando a entender que a pessoa estava saindo;
* Eu cheguei na Migrantes com a décima avenida 10 minutos antes de seguir para o local;
* Quando o veículo chegou nós conversamos cerca de cinco minutos. Estavam no local Richardson, Plácido, Santana e uma quarta pessoa que me parecia ser Rony Madeira;
* Richardson estava armado com uma pistola, e ele estava fardado como agente penitenciário;
* Há nove meses me pergunto o porque eu não saí daquele local;
* Eu não fui obrigado e nem ameaçado a estar no local, eles só fizeram “mangofe” porque eu não queria comparecer nela;
* Ficou claro para minha pessoa que existe um mandante;
* Ficou claro para mim que existe um mandante porque os que estavam no local, tiveram promessa de pagamento e Plácido, que fez todos os contatos, não tem como pagar, ele é agente penitenciário e não ganha bem;
* A quarta pessoa desceu do carro e participou do estupro;
* Eles alegaram pra mim que não era uma orgia;
* Não sei a quem pertence os filmes pornográficos que foram encontrados em minha casa, porque eu não assisto porque minha esposa não deixava;
* Naiara estava com cara de espanto quando eu cheguei, mas eu achava que era alguma fantasia;
* Eu conhecia muito bem o Plácido;
* Quando eu cheguei ao local, Santana estava sem calça e com a cueca arriada;
* Hoje temo pela minha vida e me sinto uma bomba relógio. Temo pela minha vida, de meus pais, de meus irmãos, de minha esposa… se é que ainda posso chamá-la de minha esposa;
* Pensei em assumir o crime sozinho por causa das ameças;
* Tive oferta de delação premiada na polícia, apontando aonde eles haviam tocado e a única coisa que aconteceu foi a transferência de presídio;
* Eu me sinto ameaçado e gostaria de ser transferido para o presídio de Vale do Guaporé;
* Eu não apontei o Santana desde o início porque ele trabalha na auto escola e é sargento da PM e trabalha perto da escola de meu filho;
* No dia da acareação ele estava lá, e ele fez gesto de arma com os dedos em minha direção;
* Foi o Richardson que falou sobre o Pen Drive! Eu não falei sobre o Pen Drive porque se não eles chegariam em Santana;
* Eu estava um pouco sob efeito de entorpecente;
* Mesmo sob efeito de entorpecentes, eu reconheço 4 dos integrantes que estavam no local;
* Eu era voluntário do Batalhão Alferes e as crianças me chamavam de pai. Me batizaram de Águia Pai.
Ao final do julgamento o réu foi condenado a 24 anos de prisão.
Fonte: Rondoniaovivo – Com informações do http://www.erondonia.com/