Prosseguindo na série de entrevistas com pioneiros de Vilhena, hoje o personagem é o cearense José Alexandre B. Barros Lima, que chegou aqui no dia 8 de junho de 1.973 com intenção de “fazer um pé de meia” e retornar para Fortaleza, mas acabou permanecendo na cidade até hoje.
Filho do primeiro administrador local, Gilberto de Barros Lima, falecido ano passado.
Em visita à redação do Extra de Rondônia nesta quarta-feira, 20, o polêmico radialista conta que viveu muitas aventuras nos primórdios da cidade.
Alexandre era filho de pais separados, algo bem menos comum naquela época do que hoje, e vivia com a mãe na capital do Ceará. Seu pai era servidor público federal e tinha migrado para Rondônia após a separação. Funcionário federal do IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), Gilberto destacou-se na função de fiscal, sendo designado pelo então governador do Território de Rondônia, Teodorico Gaiva, ´para administrar o distrito de Vilhena, que começava a receber as primeiras levas de migrantes que vinham colonizar a região através de incentivo do governo militar. Gilberto tinha a missão de construir aqui uma cidade que funcionasse como ponto de suporte para os colonos, tendo poder ilimitado para exercer suas funções.
Querendo melhorar suas condições de vida, Alexandre resolveu vir ao encontro do pai, sem avisar nada, pegando uma carona com um caminhoneiro “que eu nunca tinha vista na vida”, e viajou dez dias em cima da carga do veículo. A intenção não era fixar moradia definitiva na cidade, “mas apenas conseguir juntar dinheiro para poder retornar em boa situação à cidade natal”.
Logo conseguiu ingressar no IBDF exercendo a função de guarda-florestal. Era uma missão difícil e contraditória, numa época em que a exploração da floresta era estimulada, mas exigia controle. “Era permitido desmatar e extrair madeira da floresta, mas haviam regras. A principal era impedir o envio de toras para fora do Território, permitindo apenas a exportação de madeira beneficiada”, explica.
Sendo o único fiscal entre Ji-Paraná e a fronteira com o Mato Grosso, Lima realizou peripécias para conseguir exercer seu trabalho. “Era difícil, não tinha estrutura, e aconteceram muitos confrontos. A coisa as vezes ficava complicada, e tinha que ser resolvida na bala”, relembra. Esses percalços chegaram a ponto dele mesmo ter sido ferido com um tiro. “Escapei por pouco”, afirma.
Paralelo a isso, ele contribuía com o trabalho do pai, que entre suas funções incluía a distribuição de terrenos na cidade. A relação acabou fazendo com que ele ficasse amigo do topógrafo Geraldo Magela Barboza, de quem acabou se tornando genro posteriormente. Apesar do grande poder que seu pai tinha na época dentro da vila, Alexandre garante que nunca foi privilegiado. Para se ter uma ideia do zelo de Gilberto com o trabalho, mesmo tendo liberdade de distribuir lotes gratuitamente aos migrantes que chegavam, o filho não ganhou um terreno. “Ele não queria que houvesse comentários dizendo que estava usando seu cargo para me beneficiar”.
As condições da cidade naquela época geravam situações insólitas. Para se ter uma ideia, num mesmo espaço estava instalada a prefeitura, o posto fiscal e a residência do prefeito e de Alexandre, nas proximidades de onde hoje está instalado a sede do SAAE. “Era tudo junto, então podemos dizer que dávamos expediente 24 horas por dia, de segunda a segunda”, diverte-se Alexandre.
O pioneirismo de Lima o colocou no protagonismo de vários momentos da história. Foi o primeiro guarda-florestal, criou o primeiro time de futebol, participou da primeira corrida do Fogo Simbólico da cidade e ainda participou da primeira rádio da cidade, lançando a cobertura esportiva da imprensa local. Viu ainda o início e desenvolvimento de setores importantes de Vilhena, como Saúde – “fui amigo do primeiro médico da cidade” – Educação e acompanhou a política local, apesar de jamais ter tido interesse em se candidatar a cargos públicos. “Meu pai chegou a se aventurar nesta seara, mas com o desenvolvimento de Colorado do Oeste as pessoas que ele ajudou na época acabaram mudando para lá, o que lhe fez perder apoio. Ele poderia ter sido prefeito, mas não houve condições”.
Da Vilhena antiga, o que mais traz saudade ao radialista é o clima de amizade e união dos morados daquela época. “Havia muita solidariedade e apoio mútuo naquele tempo, pois todos eram recém-chegados e tinham como objetivo fazer daquela vila uma cidade que tivesse a mesma estrutura dos locais de onde vieram, então as pessoas trabalhavam com um objetivo comum”, discorreu.
Com tanta experiência e conhecimento do passado vilhenense, Alexandre Lima tem uma decepção que o incomoda: “faltou e ainda falta bons administradores de fato para fazer com que o potencial de nossa cidade desabroche de vez”, afirma.
Ele segue um princípio que o pai lhe ensinou no passado, e assim como Gilberto acredita que Vilhena vai mesmo cumprir o seu destino quando começar a ser administrada por vilhenenses de nascimento. “Já temos gerações de cidadãos nascidos aqui que podem perfeitamente assumir este papel, e minha torcida é para que isso não demore mais a acontecer”, encerrou.