Criminoso só parou após PM atirar contra pneus / Foto: PM

Padre Flávio Tartari, de 62 anos, sequestrado na noite de sábado (29/02) ao deixar o Seminário Diocesano João Paulo II, no bairro Cristo Rei, em Várzea Grande, em entrevista ao Repórter MT, relata os momentos de pânico e o abalo psicológico.

Foram cerca de 7 horas nas mãos de dois criminosos armados que agrediram o sacerdote e o ameaçaram de morte por diversas vezes. O Extra de Rondônia também levou o fato a conhecimento público (leia mais AQUI).

O objetivo dos bandidos era roubar a caminhonete do seminário, uma SW4 prata. Um dos criminosos, no entanto, foi preso na região de Barra do Bugres, na localidade de Portal Estrela, já região de fronteira.

Reitor do Seminário Maior Diocesano de Ji Paraná/RO São João Paulo II, Tartari está há três anos em Várzea Grande.

Ele relata que por volta das 19h de sábado, ao deixar o seminário para um compromisso religioso, foi rendido por dois criminosos em uma moto. O padre foi colocado dentro do carro com uma toalha sobre o rosto e estima que os bandidos tenham andando cerca de 30 quilômetros com ele.

Depois de muito tempo, pararam a caminhonete e permaneceram no local por mais ou menos uma hora. Tartari relata que, em seguida, foi levado para dentro de um terreno baldio, cheio de mato, onde teve que ficar sentado por muito tempo. Em momento algum conseguiu ver o rosto dos criminosos.

O sacerdote acredita que já era cerca de 2 horas da manhã quando os criminosos amarram seus pés junto com suas mãos, usando algum tecido. Ele relata que ouviu os criminosos rasgando um pano. Ele ficou de barriga para baixo, com o rosto sobre o capim. Chovia na madrugada de domingo e o terreno estava encharcado.

Antes de irem embora, os bandidos ordenaram que ele não saísse daquele lugar pelas próximas duas horas e se aparecesse na avenida, que seria a das Torres, em Cuiabá, seria morto.

O padre relata que ao ser amarrado com mãos e pés para trás, deixou a mão em uma posição que poderia ajudar a se soltar. E foi o que aconteceu. Com muito esforço, o padre conseguiu soltar a primeira mão. Relata que estava com os membros adormecidos, mas que usou os dentes e o cinto para se soltar completamente.

Padre Flávio morou em Vilhena durante 6 anos / Foto: Extra de Rondônia

Com medo das ameaças, não seguiu para a avenida, mas sim por dentro do terreno baldio, cheio de mato. Ele acabou nos fundos de um condomínio residencial. Descreve que gritou por socorro, mas devido ao horário, acredita que ninguém o ouviu porque estavam todos dormindo.

O padre continuou caminhando próximo ao muro até que encontrou um buraco, por onde conseguiu entrar. Ele avistou duas senhoras, que ainda ficaram assustadas com a situação. Mas elas acabaram acionando a Polícia Militar, que levou o sacerdote de volta ao seminário.

Flávio Tartari relata que apesar de todo o pânico, estava bem consciente, e conseguiu se lembrar da placa da caminhonete, assim como dos números de seus documentos. “Depois que chega em casa que você começa a ver toda a situação difícil que passou. Você entra em pânico. O choro vem só depois”.

O padre afirma que nunca passou por uma situação parecida. Conta que foi agredido com joelhadas e empurrões, mas as ameaças de morte eram constantes.

Diz que teve medo de estar perto do rio Cuiabá e ter o corpo jogado na água. “Rezei bastante. Estava preocupado com o que poderia acontecer”, descreve.

Outra preocupação descrita por Tartari foi em relação a um amigo sacerdote que também está no seminário em Várzea Grande. Ele veio para Mato Grosso para um tratamento de saúde. No sábado, tinha saído para caminhar e a hora que foi rendido era justamente o horário que o amigo estaria retornando. “Fiquei rezando a Deus para que ele não chegasse. Que fosse só um levado”.

No seminário hoje são 14 seminaristas em retiro, contando com Tartari. Todos os outros já estavam recolhidos. “Eu dizia para os meninos (seminaristas) que se um dia fosse rendido, morreria antes de alguém atirar. Mas tive uma força tão grande. Pedi a proteção de Deus, para que tocasse o coração deles (bandidos), pois qualquer coisa que eu falava eles já me ameaçavam”.

Além da caminhonete, os criminosos levaram todos os documentos do padre, além de sua túnica e estola que estavam dentro da bolsa de missa.

Com 31 anos de sacerdócio, Flávio Tartari enfatiza que ninguém está livre da violência. “A missão passa por isso também (violência). E percebemos o quanto as famílias sofrem quando isso acontece. É uma situação sem imaginação. O abalo psicológico é muito grande. Estou em estado de choque, de pânico”.

Um dos acusados levava a caminhonete do padre para a Bolívia / Foto: PM

PRISÃO

Um acusado de ser o responsável de levar a caminhonete do padre para a Bolívia foi preso após furar uma barreira da Polícia Militar na Barra do Bugres. Os policiais atiraram contra os pneus do veículo para que o criminoso parasse.

O padre registrou Boletim de Ocorrência ainda ontem e foi ouvido pela Polícia Civil. Os acusados de terem sequestrado o padre ainda não foram identificados e presos.

HISTÓRIA EM VILHENA

Padre Flávio morou em Vilhena durante 6 anos. Ele chegou à cidade “Clima da Amazônia” em março de 2011, vindo do município de Fraiburgo, do Estado de Santa Catarina e foi pároco da comunidade católica (Leia mais AQUI).

sicoob

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