Vamos trazer isso para o nosso cotidiano: Na sua casa, quem lava a louça e varre o chão? Você acha que a família mais feliz é aquela na qual essas atividades são compartilhadas, já que existe empatia e companheirismo, ou naquelas famílias em que de uma pessoa está destinada a fazer isso, já que é seu papel?
Alteridade é um termo filosófico e antropológico que significa “alteridade”, isto é, o “outro” (latim alter). A alteridade e implica a capacidade de distinguir entre o eu e o não-eu e, consequentemente, assumir a existência de um ponto de vista alternativo. Ou colocar-se no lugar do outro, numa tentativa e enxergar a partir de seus olhos.
O uso mais comum do conceito de alteridade está justamente na Antropologia, por ser uma ciência que lida constantemente com “o outro”. Como um antropólogo pode efetivamente compreender um ritual feito por uma sociedade completamente diferente de tudo o que ele conhece, com outros pressupostos religiosos, éticos, morais e racionais?
É preciso estar despido dos meus moralismos, da minha consciência do que significa ser normal e disposição para participar ou analisar um evento, atividade ou conduta cultural com base naquilo que ele significa para o “outro”.
O conceito de alteridade também está sendo usado em discussões típicas do nosso cotidiano, num contexto em que vemos nossa sociedade cada vez mais marcada pela diferença do que pelo sentido de unidade.
O racismo cotidiano e a intolerância ideológica estão entranhadas na civilização ocidental. Os casos bárbaros que detonaram os protestos que correram o mundo desnudam apenas um pouco do choque de identidade racial que estamos vivendo e nossa dificuldade de encontrar empatia na relação com o outro pela postura orientada à alteridade.
A colisão empática, ou seja, situação na qual duas pessoas ou grupos colidem perante a crença de que são mais merecedores de empatia que o outro é justamente uma manifestação da falta de predisposição à alteridade.
Em nossa vida cotidiana, alteridade poderia ser entendida como uma postura ética. Ela seria fruto de um sentimento contrário à lógica hegemônica, de forma que a nossa experiência não deveria nos levar a ignorar os problemas ou a experiência do outro. Isso é especialmente importante quando comparamos grupos hegemônicos ou mais fortes, com os mais fracos. É fundamental construir uma alteridade com a proposta de se colocar no lugar dos mais fracos.
Vamos trazer isso para o nosso cotidiano: Na sua casa, quem lava a louça e varre o chão? Você acha que a família mais feliz é aquela na qual essas atividades são compartilhadas, já que existe empatia e companheirismo, ou naquelas famílias em que de uma pessoa está destinada a fazer isso, já que é seu papel?
Vejam que existem vários “outros” diferentes dentro de uma sociedade. Uma mulher que reclama das tarefas domésticas, e de ter que fazer isso só porque é mulher, pode perfeitamente ser racista e desprezar negros ou indígenas, pois para ela eles são “o outro”. Ela não entende que vive a mesma relação em casa.
Estender a nossa empatia, importar-se com os outros, buscar compreender sua dor, seus argumentos, é uma postura fundamental para construir uma convivência mais civilizada e reduzir as violências do cotidiano.
Rodrigo Alves Correia é Cientista Político, Doutor em Ciências Sociais pela UNESP – FFC Marília, Professor da AVEC e autor do site https://voc.link