Prestes a completar quatro anos no comando, Renato Portaluppi vive um momento de crise no Grêmio. Talvez o mais turbulento desde que retornou ao clube e iniciou sua terceira passagem como técnico, em setembro de 2016.
As atuações ruins do time e os resultados recentes motivam críticas da torcida e também levantam o debate: o ciclo do treinador no Grêmio pode estar perto do fim? O ge fez essa pergunta a seis comentaristas e ouviu opiniões diferentes (leia abaixo).
A maioria deles reconhece o momento complicado do time e do treinador, mas, além das conquistas recentes, lembra que Renato já superou outras situações de dificuldade dentro do Grêmio.
A pressão sobre o técnico ganhou força na última quarta-feira, após a derrota por 2 a 0 para a Universidad Católica, no Chile, pela fase de grupos da Libertadores. O nome do treinador foi tendência nas redes sociais, com mais de 50 mil menções no Twitter após o duelo. Alguns torcedores até usaram a hashtag #ForaRenato nas cobranças.
Desde que o futebol retornou após a parada em razão da pandemia do coronavírus, o Grêmio disputou 18 jogos, com sete vitórias, três derrotas e oito empates. Foi campeão gaúcho, mas perdeu o jogo da final para o Caxias em plena Arena.
É com esse clima de desconfiança – e cheio de desfalques – que o Tricolor vai para dois jogos complicados nos próximos dias. No domingo recebe o Palmeiras, na Arena, pelo Brasileirão, e na quarta-feira seguinte disputa o Gre-Nal da Libertadores, no Beira-Rio.
Confira as opiniões dos comentaristas:
Ana Thaís Matos (SporTV)
“Difícil falar quando é que se encerra o ciclo de trabalho de um treinador de um clube, ainda mais quando esse treinador é um ídolo, como é o caso do Renato à frente do Grêmio. Uma relação de quatro anos com títulos, com uma equipe extremamente competitiva. Sempre que ele mostrou que o time dele daria uma resposta dentro de campo, o time dele deu (…) Mas toda relação sofre desgaste, acho que o grande ponto, a derrota para o Flamengo no ano passado, acelerou esse desgaste. Acho que as escolhas para a formação do elenco nesse ano também.
Renato tem se apoiado muito em jogadores experientes, na faixa etária dos 30 anos, e essa renovação já não me parece tão fácil como nos outros anos, com peças que dão retorno imediatamente. Perdeu o Everton Cebolinha, tem Pepê que está em amadurecimento, que pode ser um jogador bem interessante para o time do Grêmio. Mas não é só isso,
é um time que precisa renovar as suas referências, e isso exige da diretoria para a montagem do elenco e também do treinador. Nesse caso, é mais fácil mexer no treinador do que no grupo de jogadores e também na própria direção. Acho que a gente fica um pouco em cima disso quando falamos em fim de ciclo para o Renato no Grêmio”.
Diogo Olivier (Grupo RBS)
“Não acho que o ciclo do Renato terminou. O que está acontecendo é uma crise técnica grave, que nunca aconteceu com o Renato, e ele em outras situações já demonstrou que tem condições de responder. É muito fácil manter o treinador quando ele ganha um campeonato atrás do outro, como é o caso do Renato. Agora é hora do Renato ser mantido. Sentar, conversar, ver o que está errado, admitir erros. A direção do Grêmio demitiu o preparador físico, não é obra do Renato, e agora estamos vendo o efeito. O Renato sugeriu jogadores que não deram certo. A hora de avaliar ciclo é quando termina a temporada, não no meio do caminho, com erros que podem ser seus, podem ser da direção.
O que vai adiantar trocar o treinador agora e começar o ciclo no meio de um ano de pandemia? Vai adiantar alguma coisa? Não vai adiantar. Ou até trocar a preparação física do Grêmio, que eu acho que está ruim. Mas vai mudar a preparação física agora e o Grêmio vai correr mais no Gre-Nal? A demissão agora seria pelo resultado, tão somente isso, porque se for para analisar ciclo então que se analise antes de começar o ano, pelo desempenho do ano passado e não pelos resultados. Não acho que o ciclo do Renato terminou e ele já deu mostras de que, pelo tamanho que tem no Grêmio, ele consegue sair de situações ruins”.
Maurício Saraiva (Grupo RBS)
“O ciclo de Renato não chegou ao fim no Grêmio. Não neste momento. Se ao final da temporada – e falo aqui 2021, terminado o Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores – se lá se decidir que o Renato não fica porque o ciclo encerrou, aí sim terminou o ciclo de fato. Mas demitir um treinador da estatura do Renato, do tamanho, em meio à Libertadores, ao Brasileiro, antes da Copa do Brasil, pareceria uma aventura”.
Paulo Cesar Vasconcellos (SporTV)
“Não creio que o ciclo de Renato tenha chegado ao fim no Grêmio. Mas é necessário, nesse instante, uma grande reflexão sobre o que está acontecendo. Há algum tempo essa discussão vem sendo empurrada para debaixo do tapete. Entendo o discurso público do Renato, que não creio que seja o mesmo interno. Mas há uma queda no desempenho dos jogadores, há um ar de acomodação pelo tanto tempo de convivência. É momento de cobrança.
O caminho mais fácil é sempre mandar embora o treinador. Talvez esse seja o maior desafio da direção do Grêmio. Porque o torcedor brasileiro, independente de qualquer clube, está habituado a esse tipo de desfecho. Eu vejo de outra forma. É hora de conversar, refletir e cobrar. Se essa cobrança passa por afastar jogadores, afastar integrantes da comissão, que assim seja. E cobrar o próprio Renato. Será que Renato está acomodado, que ele não precisa ser cobrado? Precisa sim. Não creio que a cobrança seja mandá-lo embora, mas seja uma cobrança para que se entenda que as coisas não estão bem.
Não foi pelo resultado de quarta-feira que as coisas não estão bem. O Grêmio desde a retomada do futebol não jogou bem. Não me venham dizer que ganhou o Gre-Nal e o Campeonato Gaúcho. Mas não foi um futebol à altura do que o Grêmio pode apresentar. Então, não vejo como o ciclo de Renato tenha chegado ao fim. Mas o ciclo de Renato dentro do Grêmio precisa ser muito questionado. Precisa ser muito cobrado. Demiti-lo talvez seja a maneira mais fácil de agradar o torcedor. Agora, cobrar, exigir ações imediatas e enérgicas e transformar o comportamento dessa equipe, que tem bom grupo, é mais que necessário. Já deveria ter acontecido antes”.
Renata Mendonça (SporTV)
“Todo relacionamento longo tem seu percalços. Dá para dizer que a relação Grêmio e Renato está em crise. Talvez pela primeira vez, uma crise acentuada. Porque o Grêmio nunca passou tanto tempo jogando mal. Um desempenho abaixo do que a gente está acostumado há quatro anos com o Renato. Desde a final do Gaúcho que o Grêmio não faz um ótimo jogo, de encher os olhos, de dizer: ‘Esse é o Grêmio do Renato’.
Está tentando se redescobrir após a saída do Everton, era o grande protagonista, o craque, achava soluções quando o time estava mal. Hoje não tem esse cara. O Diego Souza tenta suprir um pouco essa ausência, mas não é o suficiente.
Agora, olhando o contexto, no meio de uma temporada, no meio das competições, o que é mais fácil? O Grêmio conseguir se reinventar com o Renato ou ir buscar no mercado uma alternativa que vá trazer soluções e melhora de desempenho? Acho que nesse cenário, nesse momento, é mais fácil o Grêmio se reinventar, reencontrar seu melhor futebol com o Renato, que conhece o clube e os atletas, do que ir ao mercado. Porque também não tem muitos treinadores bons disponíveis”.
Sérgio Xavier Filho (SporTV)
“O filósofo Muricy Ramalho costuma dizer que a gente não sabe 10%, 20% ou 30% do que acontece dentro de um vestiário. Isso é fundamental para a gente entender quando um ciclo está acabando ou não. Não sabemos exatamente o quanto os jogadores do Grêmio estão comprando a bronca do Renato, o quanto estão entendendo o que o Portaluppi está passando para eles.
Fato é que olhando de fora, a impressão é de final de ciclo. Porque o time não só não anda, como anda para trás. A quantidade de bolas altas na área aumentou de forma incrível, só chuveirinho para o Diego Souza, ausência de jogadas ensaiadas, recomposição muito lenta. Isso vem aos poucos acontecendo no Grêmio, desde o ano passado.
Mas em alguns momentos desses quatro anos de Renato, a gente já viu quedas razoáveis. E com uma troca. Lembro quando o Arthur entra no time, e o time dá uma reoxigenada. Às vezes uma troca de jogadores consegue recuperar um resto de trabalho. Porque a ideia, no geral, segue existindo, de como o Grêmio deve jogar. Mas não está acontecendo”.