Até o final da próxima semana a Coordenadoria de Proteção Ambiental (Copam) espera a designação de quatro policiais do Batalhão de Proteção Ambiental da PM (BPA) para tornar rigorosa a fiscalização à eclosão de filhotes de tartarugas e tracajás nas praias do rio Guaporé.
O pedido assinado pelo secretário estadual do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Marcílio Leite Lopes, será encaminhado por ofício ao comandante do BPA, major Glauber Souto.
Na quinta-feira 08, a Operação Hileia, voltada à inibição e ao combate da pesca predatória, incursionou novamente no trecho de praias do rio Guaporé, na fronteira brasileira com a Bolívia.
No final de outubro começa na região a reprodução dos tracajás, e ela estará menos sujeita a ações predatórias se for aumentado o efetivo dos vigilantes em Costa Marques e São Francisco do Guaporé.
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovavéis (Ibama) e a Associação Comunitária Quilombola e Ecológica do Vale do Guaporé (Ecovale) seguem parceiros nessa difícil missão contra predadores de sempre. A Ecovale dispõe de apenas dois monitores para fazer praticamente tudo.
Mesmo alcançando todas as bacias hidrográficas de Rondônia, a Hileia implica cada vez mais a necessidade da melhoria da vigilância sobre as áreas protegidas. A equipe é pequena para dar conta e conter a fúria de traficantes de quelônios e pescadores irregulares que percorrem alternadamente áreas de praias onde ocorrem as desovas e os cardumes são ricos em espécies de peixes, uma delas o tucunaré.
Quinta-feira, 16h10, a lancha voadeira transportando oito integrantes da Copam inicia a viagem de fiscalização. Não há mais tartarugas nas praias e nenhum ovo à vista. A desova ocorrida nas derradeiras 48 horas já faz parte do relatório de trabalho da chefe do escritório regional da Sedam, engenheira ambiental Jéssica Torezani.
Também não se veem mais sinais da camuflagem, entretanto, urubus e gaivotas sobrevoam e pousam nas praias. Às 16h20, na Praia da Ilha, a redução da marcha da lancha com a equipe permite avistar a placa com advertência sobre a área limite de pesca.
O desafio da reprodução uma vez mais acontece, passados 43 anos do período em que o então secretário de agricultura do extinto Território Federal de Rondônia, Edgar Cordeiro, inspirado pelo ambientalista Camilo Pena, do Pará, construía os primeiros tanques para tartarugas e tracajás em Costa Marques.
Pena dirigia a Sociedade para Proteção dos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia (Sopren), cujo incentivo às atividades ambientais em estados amazônicos é reconhecida pelas autoridades.
Às 16h50 a lancha se aproxima da base da Ecovale. João Rodrigues, um dos monitores da entidade, relata ao coordenador Marcos Trindade e à engenheira Jéssica que algumas placas de advertência foram arrancadas no lado boliviano da Praia Suja.
A perda das placas preocupa a Sedam e a Ecovale, cujos dois únicos monitores, 20 anos depois do início do trabalho dessa entidade, ainda usam lanternas para o serviço noturno. Trindade e Jéssica estranham o desaparecimento das placas e lembram a existência de um acordo preservacionista entre o Brasil e a Bolívia. Para ter mais eficácia à noite e de madrugada, a iluminação deveria ser feita com holofotes, acreditam os fiscais.
Durante a permanência na base, Trindade explica que o desestímulo a pescadores ilegais começa a partir da apreensão de seus equipamentos: “A malhadeira, por exemplo, custa acima de R$ 3 mil, e quando fizemos operação no Baixo Madeira, praticamente zeramos o uso criminoso”, ele conta.
A fiscalização dá resultados assim, conforme explica o coordenador. “Quando eles (pescadores que predam cardumes) sentem a perda de um ou outro percebem que também poderão ser punidos”.
Às 17h30 os fiscais observam nuvens de fumaça originadas em território boliviano. Fauna e flora sofrem com queimadas nos lados boliviano e brasileiro. Na quinta-feira, a queima de mata, algumas vezes criminosa, ocorria com maior intensidade em áreas do (Departamento) Beni, no país vizinho.
A lancha aborda o pescador Joaquim Vidal, que estocava tucunarés numa grande caixa de isopor. Ele viaja no pequeno barco acompanhado pela família, apresenta documentos e explica ser fornecedor para um restaurante na cidade há 15 anos.
Trindade lê a guia e a carteira profissional de Joaquim, os demais fiscais revistam a embarcação e, ao final, Joaquim, filiado à Colônia de Pescadores Z4, ganha o elogio do coordenador: “É esse o tipo de pescador que queremos, o senhor valoriza o meio ambiente”.
Traduzindo: se por ventura os recursos ictiológicos se esgotarem, pequenos pescadores seriam os primeiros a sentir o impacto econômico.
Pouco antes de a equipe seguir a inspeção, Joaquim lamenta: “O que tem de pescador clandestino nesse rio…isso acaba com nós”.
Os fiscais voltam à lancha e no retorno ao porto de onde partiu a operação observam ninhos de aves no barranco e jacarés nadando bem próximos. Segundo o monitor da Ecovale, João Rodrigues, alguns deles se aproximam diariamente da barranca, na base, para ganhar comida, geralmente, peixes. Medem mais de quatro metros de comprimento.
No fim da tarde, por volta de 18h, a equipe para novamente na Praia Suja, onde encontram uma tartaruga morta, carregada de ovos na barriga. João Rodrigues avalia seu peso em aproximadamente 90 quilos e a engenheira ambiental Jéssica Torezani constata uma certeza: o quelônio não morreu “de velho”, como ocorreria naturalmente, mas possivelmente, judiado por algum predador que não conseguiu arrastá-lo dali.
O mesmo Sol que nasceu para todos, proporcionando o maravilhoso espetáculo do fim de tarde em todo o mundo, dá lugar à chegada da noite. Nesse momento, os fiscais se reúnem entristecidos ao lado da tartaruga que não conseguiu desovar. Eles se despedem do lugar e retornam à base fluvial, no município de São Francisco do Guaporé.