A semana começa com mais um agravante para a crise dos fertilizantes dada a greve iniciada pelos três mil funcionários da Canadian Pacific Railway – uma das principais ferrovias do Canadá – neste domingo, 20 de março. Todavia, os preços dos insumos ainda não subiram por conta de mais este fator, segundo explicou o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza.
“Até agora os preços não mudaram por isso. Agora, se o problema continuar, aí sím veremos mudanças. Por enquanto estamos somente acompanhando e monitorando”, diz. Para o especialista, uma solução rápida entre a empresa, o governo canadense e os trabalhadores deverá ser reportada. “Esse ponto da greve pode trazer uma pressão, mas não será nada a longo prazo”, completa.
Em um pronunciamento nesta segunda-feira, o ministro do Trabalho do Canadá, Seamus O’Regan, reafirmou a necessidade de um acordo dada a já complexa e frágil situação do abastecimento global não só de fertilizantes, mas de uma série de outros produtos. No centro das atenções, novamente, está o cloreto de potássio, produto que o país é um dos líderes mundiais de fornecimento.
“A conjuntura não é nada favorável para o KCl. Os fertilizantes já foram fortemente impactado pelos problemas enfrentados no leste da Europa, portanto, a greve dos trabalhadores canadenses é mais um ponto altista para as cotações da matéria-prima, que já acumulam mais de 200% de aumento em 12 meses”, explica Souza.
A Nutrien, empresa canadense líder no fornecimento de fertilizantes, afirma que as consequências dessa greve, caso se estenda, possam ser bastante severas, inclusive ameaçado o potencial produtivo mundial. Afinal, o abastecimento fica comprometido não só internamente, mas promove uma disrupção no escoamento para o mercado externo, com o hemisfério norte prestes a começar o plantio da safra 2022/23.
A companhia afirmou ainda que por mais que o mercado esteja ávido por uma expressiva elevação da oferta de potássio, deverá aumentar sua produção em 2022 em ‘apenas’ um milhão de toneladas, para 15 milhões, com a maior parte deste volume a mais chegando somente no segundo semestre do ano.
“Estaremos observando o lado da oferta da equação e, portanto, o ritmo em que pensamos sobre nossa própria produção de potássio aumentando também”, disse Ken Seitz, CEO interino da Nutrien à Bloomberg.
A greve no Canadá, porém, é apenas mais um ponto de atenção em um mercado já completamente comprometido, ainda como explica o analista da Agrinvest Commodities, e que não se limita somente ao KCl. Fosfatados e nitrogenados seguem em patamares historicamente elevados e renovando suas máximas diante da continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia; China fora do mercado; sanções impostas sobre a Bielorrússia e um encarecimento generalizado dos fretes.
Nesta segunda, os preços do KCl registraram seu mais alto patamar de todos os tempos, chegando a US$ 1050,00 por tonelada, custo-frete Brasil (CFR Brasil). “Os preços subiram 34% em três semanas e 214% em 12 meses. Isso piora ainda mais o poder de compra dos produtores brasileiros para a safra 2022/23”, afirma o analista da Agrinvest.
Juntas, a Rússia – que está com sua logística comprometida pela guerra – e a Bielorrússia – que está com diversas sanções impostas sobre seu comércio – respondem, juntas, por cerca de 42% do mercado global de US$ 35 bilhões de potássio, ou perto de 24 milhões de toneladas por ano, de acordo com informações da Bloomberg Green Markets.
O Brasil depende de 91% das importações do potássio que utiliza e seus principais fornecedores são o Canadá, a Rússia, Bielorrússia, Israel. Veja no gráfico a seguir:
Já nos EUA a dependência é de 93% e suas três principais origens são as mesmas.