Hoje (19/1/2023) faz 65 anos a morte, aos 92 anos, do herói da Pátria, marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Seu sepultamento se deu dia 20, no Rio de Janeiro, então capital do País.
Na ocasião do enterro, no Cemitério de São João Batista, o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro fez um discurso em homanagem ao Velho mestre. Rondon havia morrido segurando a mão de Darcy.
Os municípios de Vilhena e Pimenta Bueno são os únicos dentre os antigos povoados de Rondônia, surgidos em função da Comissão Rondon, que ainda mantêm os nomes originais, desde 1912. Jaru, Ji-Paraná, Ariquemes, todos essas localidades se desenvolveram a partir das linhas telegráficas cujos traçados deram origem, em 1960, à BR-29 (atual 364), obra do presidente Juscelino Kubitscheck, que proporcionou a marcha para o Oeste brasileiro. Ou, a ocupação do “outro braço da cruz”, no dizer do ex-governador do Território Federal de Rondônia, Paulo Leal.
Embora Vilhena tenha sido elevado a município apenas em 1977, 66 anos antes disso foi instalado o Posto Telegráfico “Álvaro Vilhena” — hoje conhecido como “Casa de Rondon — considerado marco-zero do município e razão do seu nome. O patrono do município, Vilhena [Álvaro de Melo Coutinho de Vilhena], era um engenheiro maranhense e diretor do Telégrafo Nacional, coincidente enterrado no mesmo cemitério que Rondon.
Em 1914, Rondon cumpriu em Vilhena — notadamente — uma de suas sagas mais notáveis e que repercutiram mundo afora, presente em livros e documentários: a Expedição Rondon-Roosevelt, que trouxe à inóspita região o ex-presidente estadunidense Theodore Rrosevelt. Aqui, neste município, foi descoberta a foz e incluído na hidrografia brasileira o Rio da Dúvida, rebatizado como Rio Roosevelt.
A região de Vilhena, antes de se chamar Vilhena, ficava inserida na “Nação Nambiauara”, indígenas com os quais Rondon teve os primeiros contatos e por eles foi frechado. Mesmo ferido, e atendido em campo pelo médico-militar Joaquim Augusto Tanajura, Rondon não reagiu à bala e bradou a frase “Morrer, se preciso for. Matar, nunca”, Em 1910, criou o Serviço de Proteção aos Índios [origem da Funai]. Em 1961, criou o Parque Nacional Indígena do Xingu.
Um dos brasileiros mais relevantes de todos os tempos — indicado três vezes ao Prêmio Nobel da Paz —, nascido no povoado de Mimoso (a 116 km de Cuiabá), Rondon surgiu do “Brasil profundo”, pois era um caboclo e seus avós indígenas. Não conheceu o pai que faleceu antes de ele nascer e ficou órfão de mãe aos dois anos.
Sobre Rondon, sua importância e grandeza como humanista e cientista, muito já foi assinalado. Mas sempre é válido rememorá-lo como paradigma de ética — seja na defesa dos povos da floresta, nas suas contribuições às ciências e na postura como militar. Antes e acima de tudo, ele foi um cientista de mente elevada, discípulo do filósofo francês Augusto Comte, cujo lema “Amor, Ordem e Progresso” inspirou a expressão presente na Bandeira Nacional [sem o amor].
Em manuscrito raro, de 1911, recentemente exposto no Sesc em São Paulo, Rondon deixa clara sua visão sobre o papel dos militares em relação à política partidária, da qual ele manteve distância e cumpriu à risca o princípio da impessoalidade como servidor público exemplar que foi. Se o quisesse teria sido até governante do país. Seu prisma ético não o permitiu.
CURIOSIDADES SOBRE RONDON
-O sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon nasceu em data incerta. Ele inventou o dia do seu nascimento, aproximado do real, quando da matrícula no ateneu cuiabano, onde fez as primeiras letras e estudou até os 16 anos, formando-se professor. Transferiu-se com essa idade para o Rio de Janeiro, bacharelando-se em ciências físicas e naturais e fazendo carreira militar.
-Rondon não tinha Rondon no sobrenome. Era apenas mais um Silva. Na época, era muito fácil modificar e acrescentar nomes próprios aos registros civis. Assim, ele adotou o codinome como forma de homenagear o tio que o criou, Manoel Rodrigues da Silva Rondon.
-Ele nunca foi marechal na esfera militar. Colocado na reserva em 1930, com a patente de general, quando ficou contra — por ser legalista — o golpe de estado engendrado por Getúlio Vargas. A insígnia de Marechal foi concedida a ele pela Câmara dos Deputados, três anos antes da sua morte, por aprovação de um projeto de lei de autoria do deputado Coronel Vicente Rondon [um ex-ajudante-de-ordem e primo distante do Rondon-mor]. Foi um ato revisionista e meramente simbólico, como forma de reparar o erro do seu afastamento do Exército e até da sua incriminação, feita por agentes ligados a Vargas, por questões políticas.