Um grande “inimigo” da produção de legumes em Vilhena é o extenso período de chuvas, que vai de outubro a abril. Além disso, o solo não é dos melhores, o tempo todo.
O agricultor Arcênio Rauber, 63, é o maior produtor de pepino local. São 10 toneladas, em média, por mês. Em outubro, ele bateu o recorde: 12 toneladas. “A chuva prejudica bastante, principalmente no mês de fevereiro”, relata, em entrevista ao Extra de Rondônia.
Até 28 de fevereiro e março adentro a previsão é de chuvas todos os dias em Vilhena, conforme o portal Accuweather. O sul do município, onde ficam a zona urbana e o “cinturão verde” [setor de chácaras] é onde mais chove.
A média pluviométrica de Vilhena é mais parecida com a do dos municípios vizinhos do Mato Grosso [no Centro Oeste]. O mês com maior número de dias com precipitação em Vilhena é fevereiro, com média de 23,8 dias com pelo menos 1 milímetro de precipitação.
E o detalhe: com temperaturas quentes, que não variam muito entre inverno e verão amazônico; média de 20° a 30° graus.
A lavoura de pimenta é a mais prejudicada nesta fase do ano. Em algumas propriedades, a perda é de 80%. Segundo o agricultor, “a chuva molha tudo; as pimentas, em geral, e outros legumes precisam de muita água, mas só na raiz. Além de apodrecer as plantas, a água em excesso misturada com sol cria o ambiente úmido, mais adequado para as pragas e fungos”.
Mesmo assim, a cidade já é autossuficiente neste setor produtivo, apesar de continuar sofrendo a concorrência das mercadorias que vêm de outras regiões do país.
Rauber é paranaense e mora com sua família há 24 anos no Setor Chacareiro, a apenas 1,5 km do centro de Vilhena. “Quando cheguei aqui, tive que tratar o solo por quase dois anos para ter um resultado melhor. O solo de Vilhena é ácido e arenoso. Hoje aqui está bom, mas continuamos cuidando [do solo], a terra de Vilhena é pobre”, explica.
CORREÇÃO DO SOLO
O jeito, além de corrigir a terra com calcário é usar os defensivos adequados para cada cultura. A tecnologia também está presente. Pouco se usa enxada, por exemplo. A bomba de veneno é automatizada e o produto utilizado para matar o capim e as ervas daninhas não afetam as plantas cultivadas. Na propriedade, utilizam herbicidas da marca Select.
A indústria de produtos químicos e as pesquisas avançaram. O que parece não ter desenvolvido muito é assistência do poder público aos pequenos agricultores. Quem foi ouvido pelo Extra de Rondônia não conta com a parceria da Emater, por exemplo. “O que aprendemos foi com a nossa própria experiência”, resume o Arcênio, que antes de ser agricultor atuou no setor madeireiro em Juruena (MT).
DE TUDO UM POUCO
A família produz uma boa variedade de legumes (berinjela, quiabo, jiló, milho, couve-flor, vagem…), utilizando muito bem a modesta área de 2 hectares. O agricultor Arcênio conta com seus filhos, Anderson, 27, e Alexsandro, 23, e mais dois funcionários; a labuta é diária, começa cedo e termina tarde. No ápice da produção, costuma abrir mais vagas para funcionários.
“Às vezes temos que vir aqui em pleno sábado à tarde e no domingo. Seja tempo de chuva ou com muito sol quente. Por isso há poucos jovens na agricultura. É preciso compromisso. Não é fácil”, expõe Anderson.
Apesar dos esforços, o rapaz mostra-se entusiasmado e comprava muito conhecimento sobre as técnicas que as cultivações exigem. “O trabalho na roça me atrai muito. Já fui trabalhar em São Paulo, fiquei quatro anos fora daqui. Mas acabei voltando”.
MERCADO
Anos atrás, a maior parte dos legumes que chegavam ao consumidor vilhenense vinha de outras regiões do Brasil, principalmente de São Paulo e Paraná.
A metade dos produtos acabava perdida, danificada nos caminhões durante o longo trajeto. A outra parte que chegava sem avarias à cidade, era encarecida para o consumidor final. Alguns produtores de fora ainda insistem. Trazem, principalmente, frutas. De quebra, vêm os legumes.
Agora, há um caminho inverso. Boa parte do que se produz em Vilhena é comercializada em supermercados do estado do Mato Grosso e internamente, em outras cidades de Rondônia. Apenas 30% do resultado da colheita local fica em Vilhena.
No caso específico da propriedade do “seu” Arcênio, os legumes têm endereço certo quando o assunto é o consumo local: a rede de supermercados Super Mais e o Friron. Ele fornece também para alguns feirantes vilhenenses.
Há, ainda, um “atravessador” que adquire parte dos produtos das lavouras de Arcênio Rauber e os revende em diversas cidades, de Vilhena até Cuiabá.
ORGÂNICOS E ESTUFAS
Cada dia mais, há a demanda — inclusive reprimida — de produtos orgânicos. Perguntado se ele não pensa em atender a esse filão de mercado, “seu” Arcênio responde que “em Vilhena a qualidade do solo não permite este tipo de cultivo”.
“Claro que dá para ir corrigindo e melhorando as condições. Mas isso leva bastante tempo para o solo ficar adequado. E, ainda assim, será complicado porque tem todo um sistema para que haja a certificação, o reconhecimento como produto orgânico”, explica.
E se a produção for feita em estufas? Anderson alega que, em Vilhena, há experiências neste sentido, mas não é viável economicamente. “Porque só em investimento inicial, uma estufa custa cerca de R$ 20 mil. O município tem uma particularidade: os vendavais. Para repor o material de manutenção da estufa, é preciso investir mais uns R$ 6 mil a cada fim de período chuvoso, todo ano”.