Vilhena tem cinco plataformas com de cerca de 200 motoristas cadastrados, no total.
São conhecidos genericamente como ‘ubers’. O número é alto para o tamanho da população de 100 mil habitantes.
Mesmo assim, os taxistas ainda sobrevivem. São 52 concessões no município, segundo a Astavir (Associação dos Taxistas de Vilhena). Destes, estima-se em 70% os motoristas que estão na ativa.
O Extra de Rondônia conversou com os taxistas Gerson Rocha e Nery Luiz da Silva, que atuam no ponto da praça Nossa Senhora Aparecida e no Aeroporto Brigadeiro Camarão.
Eles se acham “injustiçados” em diversos pontos na relação com os motoristas de aplicativos. A começar pelo volume de exigências que lhe são impostas.
“Nossa CNH é diferenciada. Temos que pagar seguro do veículo, ter registro como MEI (Microeemprendedor Individual) para emitir recibos, trocar o carro periodicamente, manter uma vestimenta adequada, passar por treinamentos diversos”, aponta Nery.
Em agosto de 2011 foi sancionada a lei nº 12.468 que regulamenta a profissão de taxista. Ela estabelece de maneira clara os pré-requisitos para quem quer se tornar um motorista de táxi.
Aos 73 anos e desde 2003 atuando como ‘motorista de praça’, Gerson garante que, hoje, só consegue se manter na praça por que é aposentado. “Isto aqui é um adicional, um complemento salarial. O que nos salva é que atuamos atendendo passageiros do aeroporto [cobra entre R$ 35,00 e R$ 45,00 por corrida]; a companhia Azul averigua tudo no veículo, exerce fiscalização, antes de nos recomendar e nos permitir nesse trajeto. É o compromisso que eles e nós temos com os passageiros”, narra “seu” Gerson.
LOTAÇÕES
Outros taxistas ouvidos pelo EXTRA esclarecem que só conseguem se manter no mercado graças às lotações para cidades da região. É a garantia de algum ganho diário.
A maioria das viagens intermunicipais é feita para Colorado do Oeste — cobra-se, em média, R$ 200,00 pelo trajeto, valor dividido entre quatro passageiros. Muitas vezes, é feita apenas uma viagem de ida e outra de volta, por dia. Outros destinos bem explorados são Cerejeiras e Cabixi.
CINCO ANOS DEPOIS
Os motoristas de aplicativo começaram a trabalhar em Vilhena em meados de 2018. No começo, houve muita polêmica. Alguns acharam que a legalização desse modal seria o mesmo que decretar o fim da profissão de taxista.
“A gente ficou preocupado. Porque a concorrência era e é desleal. Mas continuamos na atividade por insistência”, afirma um taxista que prefere não se identificar.
O anônimo garante que além dos ‘ubers’ cadastrados, há vários motoristas avulsos atuando clandestinamente. “Esses são dezenas, distribuem até cartões de visita com telefones particulares deles e andam com carros adesivados, o que seria uma exclusividade dos táxis. A regra é que deveriam atender somente a chamadas por aplicativos, pela internet. O Uber foi criado com o pretexto de proporcionar mais mobilidade urbana e diziam que atuaria somente dentro da cidade. Agora, alguns fazem viagens até para fora do estado”, afirma um taxista.
Para o profissional do volante, as autoridades do trânsito muitas vezes fazem vistas grossas para os problemas. “Eles fingem que não veem que estão sacrificando um negócio sério e de confiança”, resume o taxista não identificado.
VERSÃO DOS ‘UBERS’
Ouvido pelo EXTRA, um motorista cadastrado na plataforma Urbano Norte [semelhante ao Uber] decidiu falar sob a condição do anonimato. “Eu quero falar como motorista, e não em nome da empresa, eu não tenho essa autorização”, explica.
O profissional expõe que “quem mais se beneficiou com tudo isso, essa concorrência, é o passageiro”. Ele compara que, nos últimos cinco anos, as tarifas dos táxis estacionaram. “Antes, praticavam preços abusivos e inacessíveis para muitas pessoas que precisavam enfrentar os mototáxis, que oferecem mais riscos para as pessoas idosas”, comenta.
Sobre o número elevado de ‘ubers’ na cidade, o rapaz justifica que “apenas quem tem talento no trato com os passageiros consegue se manter no mercado”.
Com relação ao rol de documentos e exigências aos quais os taxistas são submetidos, o motorista de aplicativo diz que ele e seus colegas “não ficam atrás” em termos de burocracia.
“Também apresentamos os documentos necessários: CNH com a observação de atividade remunerada, documento do carro, alvará e passamos por verificação de segurança, incluindo checagem de antecedentes criminais”, aponta.
Mas e os clandestinos e os que atuam “por conta”, desvinculados de plataformas? Para a a indagação, o ‘uber’ afirma: “Existem oportunistas em todas as profissões”.
LEGALIZAÇÃO
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, anunciou, há dois meses, a criação de um Grupo de Trabalho para regulamentar trabalhadores por aplicativos.