Valdete Souza, presidente do grupo teatral vilhenense / Foto: Extra de Rondônia

Valdete Souza, presidente da Associação Teatro e Educação Wankabuki (Atew), visitou a redação do Extra de Rondônia na manhã desta terça-feira, para explicar a encenação que gerou polêmica e revoltou a Comunidade Católica no final da semana passada em Vilhena.

Ela esteve acompanhada pelo integrante do grupo, Rafael Reis, e pelas alunas Barbara Nunes e Claudinéia de Almeida.

Num momento peça teatral questionada, conforme Nota de Repúdio da Comunidade Católica, um homem simulava ser um padre, um jovem parecia ser coroinha, e outro jovem imitava um cachorro em direção ao “padre”, que abaixava e dizia as palavras “corpo de Cristo” (leia mais AQUI). O caso provocou a abertura de procedimento investigatório na Polícia Civil de Vilhena (leia mais AQUI).

Para Valdete, a polêmica existe porque foi criada pela própria Igreja que estaria com algum interesse político. Sustenta que o vídeo que está circulando nas redes sociais não é uma apresentação, não é uma cena para ser apresentada em público, e sim um exercício que aconteceu numa aula fechada e que foi filmada pela própria escola para que os alunos pudessem analisar sua performance. “É um exercício de improviso e não existiu nenhum tipo de indicação para que se pudesse falar daquilo ou em religião. Havia um papel escrito e situações sorteadas aleatoriamente. Os alunos tinham que moldar o corpo do ator e, depois, começava a atuação em si. Então, não havia tempo para combinar nada. O exercício foi gravado pelas pessoas do grupo e foi publicado dentro de um grupo de WhatsApp. Ali não existe escárnio, como estão falando, já que não estamos usando nenhum símbolo de Igreja.  Não estou entendendo onde é que a Igreja está vendo símbolos da Igreja Católica. Onde é que está o padre nessa cena? O Coroinha?  A imaginação das pessoas é tão grande que chegou a esse ponto. O que tem é um aluno, com outro aluno se fazendo passar por um cachorro e ele está dando alguma coisa na boca. É só isso”, explica.

Valdete afirma que o vídeo chamou atenção e tomou essa proporção devido ao aluno que está no centro da polêmica ser candidato a vereador. “Para atingir um político, acabou atingindo um monte de gente, inclusive a vida dos integrantes do grupo de teatro. E aí, na cena, não tem nenhum integrante do grupo de teatro. São só alunos, com as imagens sendo divulgadas erroneamente, já que é crime”, adverte.

A presidente da entidade afirma que tem 25 anos de carreira no teatro, 21 dos quais através do grupo Wankabuki em Vilhena e nunca houve nenhum problema. “Não há nada de cunho religioso nessa cena, isso é uma mentira. Cheguei sabendo da situação quando eu estava em Porto Velho, representando o grupo no Festival de Cinema. Jamais tivemos essa intenção de denegrir imagem ou tripudiar a Igreja. Há uma legenda, palavras, no vídeo, que foram colocadas. Isso não existe. Não existe aqueles termos utilizados no vídeo. Eu não discuto religião na minha aula”, desabafou.

Valdete esteve acompanhada pelo integrante do grupo, Rafael Reis, e pelas alunas Barbara Nunes e Claudinéia de Almeida / Foto: Extra de Rondônia

Valdete disse que, por causa dessa situação que chamou de “fake news”, membros do grupo estão sendo ameaçados e prometeu levar o caso à justiça. “Vamos abrir processos judiciais contra todos que estão espalhando essas mentiras. Não vamos deixar barato porque não fizemos nada de errado. Ninguém pode ser condenado sem o devido processo legal. Ninguém veio me perguntar qual era a verdade. Estão nos acusando de coisas que não fizemos. Nós não temos envolvimento político com nenhum partido. É uma escola livre e aberta à comunidade”, disse.

Ela também falou a respeito das declarações do deputado estadual Rodrigo Camargo (Ariquemes) que, vídeo divulgado nas redes sociais, criticou a encenação. “É uma pessoa que não busca a verdade e quer pegar carona nessa polêmica”, avaliou.

Por fim, Valdete solicitou a publicação da Nota de Esclarecimento abaixo:

 

Nota de Esclarecimento do Grupo de Teatro Wankabuki

Em resposta à nota de repúdio emitida pela Comunidade Católica de Vilhena, gostaríamos de esclarecer que o conteúdo das oficinas promovidas pela Associação de Teatro e Educação Wankabuki (Atew) possui exclusivamente fins didáticos, sem qualquer intenção de expressar posicionamentos religiosos ou políticos. Nosso compromisso é com a educação artística e o desenvolvimento pessoal dos jovens, proporcionando a eles um espaço seguro para a prática e o aprendizado das artes cênicas.

A cena mencionada, registrada durante uma de nossas oficinas, foi parte de um exercício teatral destinado a explorar técnicas de representação e improvisação, elementos fundamentais para o aprendizado em artes cênicas. Em nenhum momento houve intenção de desrespeitar qualquer fé ou crença religiosa. O teatro, por sua própria natureza, é um meio de expressão que permite aos participantes explorar uma variedade de temas e personagens, sempre no intuito de promover a criatividade, a reflexão e o crescimento pessoal.

Reconhecemos a importância do respeito às diversas crenças e valores de nossa comunidade e reiteramos que o teatro deve ser um espaço inclusivo, onde a diversidade de ideias e expressões é valorizada, desde que dentro dos limites do respeito mútuo.

Gostaríamos de lembrar que a liberdade de expressão artística é um direito garantido pela Constituição Federal, conforme o artigo 5º, inciso IX, que assegura a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. Além disso, o artigo 206, inciso II, assegura a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, princípios que norteiam as atividades da Atew.

Gostaríamos de destacar também os perigos associados à disseminação de informações equivocadas ou deturpadas, que podem causar danos significativos à coesão social e ao bem-estar de nossa comunidade. A propagação de fake news não apenas distorce a realidade, mas também alimenta desconfiança e promove divisões entre grupos que, de outra forma, poderiam coexistir em harmonia. Em tempos em que a comunicação é amplamente facilitada pelas tecnologias digitais, é essencial que todos os cidadãos, incluindo líderes comunitários e religiosos, tenham o cuidado de verificar a veracidade das informações antes de compartilhá-las. Informações incorretas podem gerar prejuízos irreparáveis à reputação de indivíduos e instituições, além de fomentar o preconceito e a intolerância. Apelamos para que a verdade e o diálogo prevaleçam, a fim de construir uma sociedade mais justa e unida.

Reafirmamos nosso compromisso com a educação e a cultura, e continuaremos a trabalhar para proporcionar aos jovens de Vilhena uma formação artística de qualidade, que os capacite a exercer plenamente seus direitos e deveres como cidadãos.

Estamos dispostos a dialogar e esclarecer quaisquer mal-entendidos, sempre com o objetivo de promover um ambiente de aprendizado que respeite todas as crenças e valores. Convidamos a toda a comunidade a conhecer de perto o trabalho desenvolvido por nossa escola de teatro, a fim de compreender melhor nossos objetivos e a importância do teatro como ferramenta de educação e transformação social.

Atenciosamente,

Associação de Teatro e Educação Wankabuki (Atew)

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