
Uma comissão composta por representantes de entidades de direitos humanos, jornalistas, advogados e pesquisadores da UNIR e IFRO realizou uma visita in loco à região de Machadinho D’Oeste (RO), onde coletou extenso material que comprova ações de pistolagem contra famílias camponesas.
O grupo paramilitar, conhecido como “Invasão Zero”, é liderado por Gesulino Cesar Travagine Castro, condenado a 35 anos de prisão por envolvimento em uma chacina ocorrida em 2012 no município de Buritis (RO).
Missão de Solidariedade documenta violações
A “Missão de Solidariedade”, organizada pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (CEBRASPO), foi realizada nos dias 12 e 13 de abril de 2025 com o objetivo de ouvir denúncias de camponeses da área Gedeon José Duque — alvo de ataques armados recentes — e avaliar as condições físicas e emocionais das famílias. Também foram visitadas as áreas Valdiro Chagas, Gonzalo e comunidades adjacentes.
De acordo com Maria de Fátima S. de Andreazzi, presidente do CEBRASPO e professora da UFRJ, o material reunido será transformado em um relatório circunstanciado, com denúncias de possíveis crimes cometidos por pistoleiros, latifundiários, agentes públicos e outras figuras envolvidas. O documento será encaminhado a entidades nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos, além da imprensa e movimentos sociais.
Durante os dois dias de missão, foram realizados atendimentos médicos, registros fotográficos, coleta de depoimentos e participação em uma assembleia popular. Mais de 130 pessoas estiveram presentes, denunciando violências e participando da leitura de um manifesto que será enviado às autoridades públicas.
Rede de entidades envolvidas
A coleta de informações foi feita em conjunto com pesquisadores do Laboratório de Gestão do Território (LAGET/UNIR), do Grupo GTGA/CNPq, do HISTEDBR-UNIR, do NEHLI/IFRO, além de integrantes do ANDES-SN, ExNEPe, DCE-UNIR, centros acadêmicos, representantes do CEBRASPO, ABRAPO e da imprensa.
Terror armado e omissão do Estado
Os depoimentos colhidos revelam o clima de pânico instaurado desde o dia 30 de março, quando Gesulino Travagine, junto a homens armados, incendiou a entrada do acampamento Gedeon. O próprio Gesulino publicou vídeos em redes sociais debochando da justiça e alegando cumprir uma suposta reintegração de posse.
No dia seguinte, outro ataque foi relatado por famílias das áreas Mateus e João Batista. Barracos foram destruídos, animais mortos e disparos efetuados contra os acampados, que fugiram para a floresta. Ester e Marcos, outro casal atingido, registraram um barraco queimado e um cão ferido, afirmando: “Nem os animais eles pouparam.”
As famílias acusam Gesulino, condenado por envolvimento na chacina de Buritis, de continuar livre e liderando ações violentas, mesmo após ter sido preso em flagrante em 2014 com armas e coletes. Mais recentemente, no dia 26 de abril, camponeses relataram um novo ataque armado com feridos e o uso de trabalhadores como escudo humano.
No dia 28, relatos de invasões a residências e agressões em estradas vicinais agravaram ainda mais o clima de medo. Segundo os depoimentos, viaturas da Polícia Militar, tratores e retroescavadeiras também estariam atuando na região em ações de apoio à expulsão das famílias.
Relatório será entregue nos próximos dias
O relatório final com depoimentos, fotos e vídeos será divulgado em breve e enviado a órgãos públicos, organizações de direitos humanos e à imprensa, exigindo providências diante da escalada de violência no campo.